A adoração descrita em Apocalipse 4 e 5 é um preparativo para a ira descrita em Apocalipse 6 a 19. Pode parecer estranho adoração e julgamento andarem juntos, mas isso se deve ao fato de não entendermos plenamente a santidade de Deus nem, tampouco, a pecaminosidade do homem. Também não se consegue compreender a totalidade do que Deus deseja realizar nem a maneira como as forças do mal se oporem a ele. Deus é longânimo, mas deve julgar o pecado e vindicar seus servos.
Os 4 cavaleiros
A imagem dos 4 cavaleiros é extraída de Zacarias 1.7-11 e 6.1-8, em que as 4 carruagens são puxadas por cavalos vermelhos, pretos, brancos e baios (ou cavalos: vermelho, vermelhos, marrons e brancos, em 1.8). Em Zacarias, as carruagens percorrem toda a terra e a encontram “toda tranqüila e em descanso”. Há um contraste deliberado com os cavaleiros, nesse texto, que saem para espalhar guerra e praga sobre a humanidade. Além disso, o simbolismo das cores difere. Em Zacarias, elas simbolizam quatro ventos, ao passo que, em Apocalipse, representam a morte e destruição associadas aos juízos. Alguns estudiosos acrescentam que a imagem também é inspirada em Jeremias 15.2 e Ezequiel 5.12. As três passagens têm os mesmos temas: cativeiro, espada, fome e morte. Esses quatro cavaleiros andam juntos, à medida que a ação passa da ambição pela conquista para a guerra civil e a fome, chegando até a praga e à morte. Nesse sentido, Deus está permitindo que a depravação deles complete o próprio ciclo, mais do que derramando seu juízo sobre a terra.
Após o rompimento do primeiro selo, um dos quatro seres viventes, com uma voz como de trovão, profere a ordem que também determina os eventos decorrentes dos quatro primeiros selos: Erchou, Vem! Ao longo do livro do Apocalipse, os seres viventes lideram a adoração celestial (cf. Ap 4.8,9; 5.8-10; 19.4), fazem parte da comitiva do trono (cf. Ap 4.6; 5.6,11; 7.11; 14.3) e implementam os juízos divinos (cf. Ap 6.1,3,5,6,7; 15.7). Como cada visão dos quatro cavalos é introduzida pelo ser vivente com o número correspondente, sabemos que os juízos vêm do trono de Deus.
Com isto em mente, surge o primeiro cavalo (6.2) de cor branca. Alguns estudiosos (Hodges, Hendriksen e Alford) argumentam que o cavaleiro sobre o cavalo branco é Cristo, visto que ele é descrito em sua parousia como vindo sobre um cavalo branco (Ap 19.11) para destruir seus inimigos (Ap 19.15,16). A imagem da “conquista”, então, descreve o triunfo do evangelho (Mt 24.14). Estes afirmam que o primeiro cavaleiro é distinguido dos outros três como uma figura positiva (“branco”, como a cor da justiça) que “saiu” com uma coroa (soberania) e um arco (evangelho) para conquistar (relacionando com as imagens do “vencedor” no livro de Ap). E, ainda, o segundo é chamado “outro cavalo” e o resumo do Apocalipse 6.8 recapitulam apenas do segundo ao quarto cavalo. Portanto, o melhor paralelo é o retrato de Cristo em 19.11.
Será a tese exposta acima verdadeira? Teria os reformados razões para esta exposição?
Se partirmos de uma hermenêutica contextual do texto, isso não se encaixa no contexto imediato nem na unidade dos quatro cavaleiros, pois o uso de “cavalo branco” nos dois contextos é bem diferente e, aqui, o cavaleiro carrega um arco, ao passo que Cristo carrega uma espada (Ap 19.11,15)
Outro ponto importante: Cristo não precisa de mais uma coroa. Ele já está coroado de honra e glória (Hb 2.7,9). Outrossim, a palavra coroa usada em Apocalipse 6.2, é stephanos, que significa coroa do vencedor. A coroa que Jesus Cristo usa é diadema, “a coroa do rei” (cf. Ap 19.12). O anticristo jamais poderia usar um diadema, pois essa coroa pertence somente ao Rei dos Reis – nosso Senhor Jesus Cristo.
Concluímos que o cavalo branco do Apocalipse se refere, sem dúvida, ao anticristo e não ao Cristo.