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O Estado é ministro de Deus?

A função de autoridade governamental constituída é trabalhar como ministro de Deus para o bem, isto é, para a segurança, ordem e a paz da sociedade (Rm 13:3,4). Esse serviço ou ministério estatal para o nosso bem deve, de acordo com o Apóstolo Paulo, ser implementado de duas maneiras importantes e fundamentais:

1) Castigar o mal (13:3,4). O Estado recebe de Deus uma responsabilidade e uma função explicitamente proibidas às igrejas cristãs (Rm 12:17-19). As igrejas cristãs não têm chamado e autoridade para multar, prender, castigar ou executar criminosos, assassinos e estupradores. Mas o que Deus proíbe às igrejas ele ordena ao Estado fazê-lo. Os governantes (presidente, comandantes militares, prefeitos, delegados de polícia, etc.) devem ser austeros no combate ao mal, pois liberdade sem restrição resulta em anarquia. O governo não pode ser complacente com os crimes, com o mal, com a anarquia, com as forças desintegradoras que tentam anarquizar a sociedade. O governo não pode agir com frouxidão no castigo dos crimes. Ele precisa punir exemplarmente os promotores do mal. Tem de reagir com rigor e firmeza contra toda forma de violência, crime e suborno (Gn 9:6; Pv 17:11,15; 20:8,26; 24:24; Rm 13:4).

2) Elogiar os cidadãos que fazem boas obras (Rm 13:3,4). O objetivo do governo não é substituir a família e a igreja nos seus papéis importantes de bem-estar social, nem substituir os cidadãos em sua liberdade e chamado divino de amar o próximo. O papel do governo é elogiar aqueles que fazem o bem.

Como diz Mary Pride em seu livro De Volta Ao Lar: “O versículo não diz absolutamente nada sobre o governante fazendo o bem, nem nas próprias palavras nem no contexto. O versículo anterior nos diz que o governante nos elogiará se nós fizermos o que é bom. Por que? Porque ele é servo de Deus para nós em favor do bem. A responsabilidade do governante é estabelecer uma atmosfera na qual as boas obras de cada pessoa sejam incentivadas e as más ações sejam reprimidas. Obviamente, se o governante começar a sentir que é dever dele fazer todas as boas ações, ele não vai querer elogiar as boas ações dos cidadãos. Além disso, ele fará tudo o que puder para reprimi-las, já que as boas ações dos cidadãos estarão rivalizando com os planos do governo e usurpando sua autoridade. Essa sempre foi a situação dos países socialistas [como a ex-União Soviética], cujas leis proibiam as instituições de caridade particulares. A afirmação de que o governante é servo de Deus para nos fazer o bem, através das entidades de assistência social do governo, não tem base bíblica, pois esse tipo de raciocínio contradiz tanto o texto quanto o contexto de Romanos 13:4”.

 Quando o governo muda o foco e quer ser o Supremo Benfeitor, ele tira mais impostos dos cidadãos, que ficam com muito menos de seu próprio dinheiro para fazerem caridade e ajudarem os necessitados. A enorme e exagerada carga de impostos, cobrada sob a desculpa de ajudar os pobres, provoca um grande sangramento dos recursos das famílias, escoando em grande parte para os bolsos, cuecas e cofres de governantes corruptos. Enquanto isso, a função fundamental de o Estado dar segurança à sociedade fica à deriva.

No caso específico do governo brasileiro, como é que ele conseguirá enfrentar a macabra pena de morte aplicada anualmente pelos criminosos em mais de 50 mil vítimas brasileiras? Não pode, pois ele está ocupado demais competindo com as famílias e igrejas na oferta de caridade. Governo brasileiro como terror para os bandidos? Nem sonhando.

O desempenho do governo brasileiro está bem distante da responsabilidade que o Apóstolo Paulo aponta no Novo Testamento: “Visto que a autoridade é ministro de Deus (ênfase nossa) para seu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada (ênfase nossa); pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal (ênfase nossa). É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência”. (Rm 13:4,5).

A palavra grega para espada, ???????? (machaira), é usada por Paulo aqui como símbolo de punição capital, que é a pena mais elevada e compatível com o crime mais elevado, que é tirar injustificadamente uma vida humana inocente.

Tal postura nada tinha a ver com legalismo, pois Paulo não estava falando sobre espada nas mãos da igreja, mas nas mãos de quem competia: o Estado. Como o melhor intérprete da missão, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, Paulo sabia perfeitamente separar o papel da igreja (oferecer a compaixão e misericórdia de Deus, que é parte integral do caráter amoroso de Deus) e o papel do Estado (aplicar punições, que é parte integral do caráter justo de Deus).

Ele combatia o legalismo dentro da igreja como nenhum outro apóstolo, de modo que se algum novo ensino instruísse que era missão da igreja aplicar multas, prisão, castigos ou pena capital em criminosos, ele o refutaria como legalismo, pois a igreja jamais pode usurpar ou substituir o Estado em sua missão.

De forma semelhante, ele jamais aceitaria um ensino que defendesse o Estado usurpando ou substituindo a igreja em sua missão e ministério de misericórdia e transformação (também chamada de “reabilitação”) de pecadores.

Portanto, como profundo conhecedor dos Evangelhos, o que Paulo faz em Romanos 13 não é oferecer sua opinião pessoal, mas descrever o rigoroso chamado anticriminal do governo tal qual deve ser, de acordo com a vontade de Deus. Seja qual for o país — Império Romano, Israel, Brasil, EUA, etc. —, todo governo tem ordens divinas de impor punição e retribuição à altura dos crimes cometidos, usando inclusive a aplicação de força e meios letais.

Em sua função, o papel do Estado é ser, nas palavras do Apóstolo Paulo, terror para as más ações: assassinatos, estupros, sequestros, pedofilia, etc. Assim como Deus não tolera o mal, também as autoridades devem ter pulso forte para combatê-lo. Quando o Estado impõe aos malfeitores punições de acordo com o merecimento de seus crimes, está agindo como servo de Deus, executando sobre eles a ira divina (Rm 13:4).

A diferença é clara. A igreja é chamada para mostrar a misericórdia, o amor e a compaixão de Jesus Cristo a toda a sociedade, inclusive ministrando cura e libertação. O chamado da igreja também inclui a importante responsabilidade de dar educação às suas congregações.

Mas o Estado é chamado a mostrar a ira de Deus sobre os malfeitores e elogiar os que fazem o bem. Portanto, grande é a distância de atuação entre esses dois diferentes ministros de Deus, embora misericórdia e justiça sejam componentes completamente unidos no caráter de Deus.

O que o Estado não pode fazer, a igreja deve fazer. O que a igreja não pode fazer, o Estado deve fazer.

Ao falar sobre o Estado e seu direito de executar malfeitores culpados de cometerem o mais elevado ato de violência contra a inviolabilidade, valor e sacralidade da vida humana, Paulo não estava se referindo a um Israel teocrático, que nem existia mais na época. Evidentemente, ele estava falando do Império Romano, um governo que aplicava amplamente a pena de morte. Suas palavras confirmavam e corrigiam o papel do Estado. Confirmavam o papel do Estado como executor de assassinos e outros indivíduos de igual periculosidade.  E corrigiam mostrando que a execução não é um direito ilimitável, isto é, o Estado não tem autorização de Deus para executar toda e qualquer pessoa. Apenas criminosos de alta periculosidade.

Tal compreensão hoje é importante, quando vemos governos comunistas e islâmicos executando homens e mulheres pelo “crime” de se converterem a Cristo. Já na Europa, que se orgulha de não mais aplicar a pena capital em assassinos e outros criminosos perigosos, há uma ampla aplicação dessa pena em inocentes, mediante práticas de aborto, infanticídio e eutanásia. São literalmente milhões de vidas inocentes perecendo sob o peso de uma pena capital 100% injusta imposta pelo Estado.

No Brasil, que se orgulha igualmente de não ter pena capital para criminosos assassinos, o governo não só tolera que mais de 50 mil brasileiros inocentes sofram a pena de morte, muitas vezes sob tortura e crueldade, nas mãos de criminosos, mas também está trabalhando para seguir o padrão europeu de aplicação dessa pena em bebês em gestação, doentes, deficientes e idosos, mediante a aprovação de leis de aborto e eutanásia.

O que fazer nesse cenário onde o Estado mostra misericórdia para quem deveria punir e mata quem precisa de proteção e misericórdia? Como servos de Deus, devemos orar pelos governantes (1Tm 2.1,2), para que cumpram sua missão. Devemos honrá-los, obedecer-lhes e pagar-lhes impostos para sustentá-los em seu papel de dar segurança contra os malfeitores. Mas devemos também confrontá-los se eles se desviarem de seu chamado fundamental, pois quer saibam ou não, eles governam debaixo do próprio governo de Deus e o representam.

Servos de Deus como o Apóstolo Paulo são a consciência do Estado e seus governantes, alertando-os sempre que perderem o rumo da sua caminhada.

Pr Marcello de Oliveira em parceria com Julio Severo

A pena capital é bíblica ?

A instrução sobre a pena capital (Gn 9.5,6) é inserida no arcabouço da promessa do Senhor (Gn 8.20-22) e da aliança (Gn 9.8-17), que é ministrada a toda a humanidade para preservar toda a vida humana. Nesse contexto, a legislação para se executar a pena capital pertence a todo o povo (Gn 9.5,6). A pena capital se fundamenta na verdade de que todos os seres humanos portam a imagem de Deus, separando-os do resto das criaturas vivas. “Ninguém pode ser injurioso para com seu irmão sem ferir a Deus mesmo.” A ofensa em si não é contra o homicida, nem sua família, nem a sociedade em geral (obviamente ela os impacta também), mas é contra Deus.

Tão valiosa é a vida humana como a portadora da imagem de Deus, que este estipula compensação para se derramar a vida de seu sangue, não só do homicida, mas inclusive dos animais. O principio de lex talionis (isto é, vida por vida) fica esclarecido nos mandamentos divinos dados ao povo pactual relativos ao homicídio (Nm 35.16-21) e no ensino de Paulo sobre o cristão e o Estado. No caso do homicídio involuntário, os culpados são consignados a cidades de refúgio, não penitenciarias, até a morte do sumo sacerdote (Nm 35.22-28). Não obstante, no caso de homicídio, impõe-se a pena capital. 

No Novo Testamento, os cristãos não devem vingar-se por qualquer malfeito recebido, mas devem dar lugar à ira de Deus para vingá-lo (Rm 12.19). Deus, por sua vez, designa o governo civil como seu ministro, um vingador para executar a ira sobre quem pratica o mal (Rm 13.4). O Senhor e Rei supremo arma a autoridade civil com a espada, instrumento de morte, para o castigo dos malfeitores. A legislação, “quem derrama o sangue do homem, pelo homem se derramará seu sangue”  fornece a evidência que a autoridade civil, como ministra de Deus, tem  a responsabilidade de executar a pena capital por uma ofensa capital.

Esta é uma obrigação, não uma opção. Três vezes Deus diz: “pedirei contas” (Gn 9.5). O sangue derramado pelo homicida deve ser tratado da mesma forma. Investe o culpado com sua poluição (Nm 35.33; Sl 106.38) e assegura sua expiação pela morte do homicida (cf. Gn 9.6; 1Rs 2.32) ou pela expiação (cf. Dt 21.7-9). O sumo sacerdote deve morrer antes que o culpado por homicídio involuntário se vá livre. Se o sangue não for compensado pela pena capital ou expiado por ela, ele traz o juízo do Senhor sobre a terra (Dt 19.13; 2Sm 21; 1Rs 2.9,31-33).

A lei protege cuidadosamente o inocente. Deve haver pelo menos duas ou três testemunhas para convencer uma pessoa de crime (Dt 19.15). Além disso, se uma testemunha cometer perjúrio, então os juízes que julgam o caso farão com o perjuro o que este pretendia fazer com o acusado, inclusive vida por vida (Dt 19.16-21). Além disso, as testemunhas devem ser envolvidas na execução (Dt 17.2,7).

Todavia, o homicida que realmente se arrepende do crime deve achar misericórdia (Pv 28.13). Embora Davi cometesse um adultério e mandado matar a Urias, ele achou perdão com base nos sublimes atributos da graça de Deus, em seu amor infalível e em sua terna misericórdia (2Sm 12.13,14; Sl 51).

Nele, Pr Marcello Oliveira

As consequências da conversão de Saulo

É maravilhoso ver a transformação que ocorreu na vida de Saulo, especialmente em seus relacionamentos. Ele se tornou mais reverente a Deus, conforme podemos observar em sua oração. Como fariseu, ele já devia ter orado muitas outras vezes, ou pelo menos lido algumas orações, publicamente ou quando estava sozinho. Mas agora ele podia desfrutar de um novo acesso a Deus através de Cristo e de uma nova percepção da paternidade de Deus quando o Espírito Santo testemunhou em seu espírito que ele era filho de Deus. O ilustre comentarista G.H. Lenski disse: “O leão feroz se transformou em um manso cordeiro”.

O relacionamento de Paulo com a igreja mudou completamente. Quando Ananias visitou Saulo e lhe impôs as mãos, dirigiu-se a ele como “irmão Saulo” ou “Saulo, meu irmão”. Essas palavras tocam nossos corações. Elas devem ter soado como música aos ouvidos de Saulo. O quê? O arquiinimigo da igreja recebido como irmão? Sim! Paulo levantou-se e foi batizado na comunidade cristã. Três anos depois, em Jerusalém, os discípulos ainda estavam céticos quanto à conversão de Paulo, mas Barnabé o levou até eles. Devemos dar graças a Deus por Ananias, em Damasco, e por Barnabé, em Jerusalém. Se eles não tivessem dado boas vindas a Paulo, a história da igreja seria outra.

Por fim, Paulo tinha agora uma nova responsabilidade para com as pessoas. Já na estrada de Damasco, Jesus lhe havia dito que ele precisava dar testemunho de tudo o havia visto e ouvido. Ananias confirmou seu chamado como apóstolo aos gentios. Ele também foi advertido que sofreria. De fato, ele precisou ser retirado às escondidas de Damasco e fugir para Jerusalém. Assim, a história da conversão de Saulo começa com sua chegada a Damasco levando uma autorização oficial do sumo sacerdote para prender os cristãos e termina com sua chegada a Jerusalém, como fugitivo.

O mundo está cheio de pessoas como Saulo. Pessoas inteligentes e íntegras, mas flexíveis e intolerantes em relação a Cristo. Não podemos perder a perspectiva de que essas pessoas precisam primeiro se converter para que seus relacionamentos sejam transformados. Por isso devemos exalar a maravilhosa graça de Deus. Amém!

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Stott, John. A Bíblia Toda, Ano Todo. Ed. Ultimato

                           Stott, John. A mensagem de Atos. Ed. ABU

Mal(ben)dita seja a cidade

Na Bíblia, o tema da cidade é um dos mais relevantes. O nascimento da cidade tem origem na arrogância humana e na independência do homem em relação a Deus. É a linhagem de Caim que dá início à cidade: “Depois Caim fundou uma cidade, à qual deu o nome do seu filho Eno­que” (Gn 4.17b). Caim representa a auto-suficiência humana. Tendo perdido o Éden, o homem está diante da ruptura ecológica da terra que agora produzirá “espinhos e ervas daninhas” (Gn 3.18). A solução humana é apostar em Caim, que não só se revela ingrato para com Deus, mas comete o primeiro assassinato da história bíblica. Caim amplia a ruptura com Deus, com o próximo e com a terra. A solução para os seus problemas é uma só: “fundar uma cidade”. Portanto, a cidade surge como a marca maior da arrogância humana contra Deus. Acompanham a cidade, o surgimento da ciência, da economia e da arte (Gn 4.20-22). O ápice desse progresso perverso aparece quando o texto de Gênesis afirma que o sétimo depois de Adão, pela linhagem de Caim, é Lameque, o primeiro bígamo da história, grande “precursor dos filmes de ‘ação’ de Hollywood”. Os “efeitos especiais” até fazem parte do discurso dele:  “Ada e Zilá, ouçam-me; mulheres de Lameque, escutem minhas palavras: Eu matei um homem porque me feriu, e um menino, porque me machucou.” O quadro é simplesmente assustados e apavorante!

Não muito tempo depois, a situação da cidade piora ainda mais. Em Gênesis 11, os homens querem construir uma cidade que pudesse invadir o céu. No mesmo espírito de Caim, eles agora aprofundam a arrogância humana, dizendo: “Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso ­e não seremos espalhados pela face da terra” (Gn 11.4). A gramática hebraica permite que a expressão “cidade, com uma torre” seja traduzida por “cidade que cresce para o alto”. Como os antigos achavam que o céu estava a cerca de dois quilômetros da terra, a idéia era “invadir o céu”. Era uma espécie de movimento dos “sem céu”, ou dos “invasores do condomínio celestial”. Os homens já “sem terra” e “sem céu”, tornam-se agora “sem comunicação”! De fato, o movimento inicial das cidades cresceu desordenadamente e foi um grande desastre.

Mais uma vez, só Deus para salvar o enredo humano. De forma inesperada, Deus surge da maneira como ninguém poderia esperar. Deus resolve dar início à redenção da cidade por meio de sua própria iniciativa. Por incrível que pareça, Deus constrói e age a partir da mais soberba rebeldia humana. A ação redentora e salvífica de Deus na história tem seu grande centro na monarquia davídica. A própria figura do rei surgira também como sinal da rebeldia e arrogância humana contra Deus (1Sm 8.5-7). Ao querer um rei, imitando os demais povos pagãos, o povo de Israel estava rejeitando a Deus. No entanto, Deus, surpreendentemente não só escolhe um rei, Davi, como também elege uma cidade, Jerusalém. Os símbolos maiores da auto-suficiência e independência humanas tornam-se símbolos da intervenção redentora divina. A suprema derrota transforma-se em vitória absoluta! Os textos bíblicos são inequívocos: “Darei uma tribo ao seu filho a fim de que o meu servo Davi sempre tenha diante de mim um descendente no trono em Jerusalém, a cidade onde eu quis pôr o meu nome (1Re 11.36)” e: “Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei (Mt 5.34,35). Como podemos ver, a monarquia davídica e a cidade de Jerusalém tornam-se o principal palco da intervenção divina na história em favor do homem pecador.

Todavia, a história ainda não termina aqui. O mais surpreendente de tudo aparece no Apocalipse, quando o desfecho da história humana traz de novo a figura da cidade. O texto sagrado é de “parar a respiração”: “Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia. Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21.1-5). Que coisa! A Nova Jerusalém parece o Éden “urbanizado”. Parece que o antigo jardim passou por um projeto de “arquitetura celestial”. O Éden da redenção é melhor do que o da criação!  A cidade que marcou o início do pecado humano é agora marca máxima da redenção. A cidade humana sobe do chão, a cidade de Deus desce dos céus. A cidade humana é efêmera, a de cidade de Deus é eterna. A cidade humana trouxe fragmentação e dor, a cidade de Deus traz união e cura. Deus faz questão de mostrar sua vitória a partir do símbolo máximo do poderio e independência humanos. É surpreendente e verdadeiro: Deus traz a redenção a partir da pior desgraça humana. Diante dessa palavra de esperança e de vitória, olhe lá fora e veja como o sol está mais brilhante, o céu está mais azul, e o ar está menos poluído. Amém!!!

Luiz Sayão – Teólogo. Hebraísta. Coordenador Geral de Tadução da Bíblia NVI. Recentemente, prefaciou meu livro: Reflexões sobre a vida de Paulo – que pode ser adquirido neste site na Seção – Meus Livros

Fonte: www.prazerdapalavra.com.br

Os 3 jardins mais importantes da história

O belo sempre nos encanta. Nossos olhos são atraídos pelo paisagismo dos belos jardins que estão engrinaldados de flores. Tenho a convicção que você já sentiu este encantamento ao visitar um “stand” de um belo apartamento, que em sua estrutura contava com belos jardins e um lindo paisagismo. A Bíblia também fala de alguns jardins. Nesta reflexão destacaremos os três mais importantes:

1. O jardim do Éden (Gn 1-3).

A história da humanidade começa num jardim, o jardim do Éden. Lá nossos primeiros pais viveram na inocência, desfrutando de todas as belezas daquele jardim. Naquele jardim desfrutavam de plena e intima comunhão com Deus. Naquele jardim, não havia dor nem tristeza. Tudo era belo e encantador. O pecado, porém, entrou no mundo por meio de Adão. Ele desobedeceu a Deus, e toda a raça humana caiu nas teias do pecado. Adão foi expulso do jardim e viu a terra produzir espinhos, viu sua mulher dar à luz com dores e viu o trabalho, até então deleitoso, tornar-se penoso.

O jardim do Éden foi perdido, e a raça humana mergulhou numa história de rebelião, tristeza e morte. O pecado de Adão o separou da natureza, de si mesmo, do próximo e de Deus. O pecado trouxe transtornos na natureza, nos relacionamentos humanos, bem como na relação com Deus. A partir da entrada do pecado no mundo, a história está marcada por lágrimas, doença, sofrimento e morte.

2. O jardim da Cidade Celeste (Ap 21 – 22).

A história da humanidade terminará num outro jardim, o jardim da Cidade Celeste. O jardim perdido será restaurado. Lá não entrará nenhuma maldição. Lá o pecado não penetrará suas portas. Lá as lágrimas serão enxugadas. Lá o sofrimento, a doença e a morte não entrarão. Nesse jardim, não haverá noite, pois o Cordeiro de Deus é a sua lâmpada. Nesse jardim, o rio da água da vida vai fluir do trono de Deus. Nesse jardim, os que foram expulsos por causa do pecado, e agora estão lavados pelo sangue do Cordeiro e vestidos de vestiduras brancas, entoarão um novo cântico àquele que está assentado no trono.

Nesse jardim reconquistado, teremos um novo corpo, cheio de glória, semelhante ao corpo de Cristo. Neste jardim, viveremos e reinaremos com Cristo pelos séculos dos séculos. Ninguém poderá nos separar uns dos outros nem nos afastar da presença daquele que nos deu vida abundante e eterna. Nesse jardim, as belezas mais esplêndidas da terra serão figuras opacas diante do seu exuberante esplendor.

3. O jardim do Getsêmani (Mt 26.36-46).

A história da humanidade revela que entre esses dois jardins, o jardim do Éden e o jardim restaurado, há o jardim da agonia, o jardim do Getsêmani. É pela desolação, pelo sofrimento e sacrifício vicário de Cristo, pela indescritível angústia no Getsêmani, que o “rio da vida límpido como cristal”, corre nesse jardim restaurado. Sem o Getsêmani, não haveria a Nova Jerusalém.

O apóstolo Paulo diz: “[…] quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho […]” (Rm 5.10). No jardim do Getsêmani, Jesus enfrentou solidão. Ali ele ficou sozinho quando travou a mais terrível batalha do universo. Ali Ele suou sangue quando resoluta e voluntariamente se entregou por nós. No Getsêmani, a antiga serpente, que enganou Eva no jardim do Éden, teve sua cabeça esmagada. Ali Jesus aceitou de bom grado o cálice amargo, de se fazer pecado e maldição por nós, ao sofrer a dolorosa e maldita morte de cruz em nosso lugar.

Ali, o Cordeiro de Deus, não levou em conta a ignomínia da cruz por saber que a alegria que lhe estava proposta, a alegria de nos salvar e nos reconduzir de volta ao jardim de Deus, o jardim restaurado da Jerusalém celestial. A Bíblia diz que onde abundou o pecado, superabundou a graça. Pela sua morte, Cristo trouxe vida; pelo seu sacrifício, redenção. Agora, por meio do seu sangue, temos livre acesso à presença do Pai e, quando da sua vida, entraremos no jardim restaurado de Deus, onde estaremos para sempre com Ele. Aleluia!

Rev. Hernandes Dias Lopes

Adaptado por: Marcelo Oliveira

Um espírito mau da parte do Senhor?

Talvez uma das perguntas mais discutidas nas igrejas cristãs seja essa. Como entender um texto bíblico que afirma que um “espírito mau” da parte do Senhor atormentava Saul (1Sm 16.14)?

Na verdade o problema parece ser mais complicado quando vemos que esse texto não é único. Há diversos outros textos bíblicos semelhantes: Em Juízes 9.23 lemos que Deus envia um “espírito mau” para atuar entre Abimeleque e os “cidadãos de Siquém”; 1 Samuel 18.10 e 19.9 trazem mais informação sobre o espírito mau da parte do Senhor e Saul; 2 Crônicas 18.19-22 fala até de um “espírito mentiroso” colocado pelo Senhor na boca de profetas. Há ainda textos que incomodam por dizer que “Deus se arrependeu do mal” (Êx 32.14) e que “Deus cria o mal” (Is 45.7).

Para começar a discutir uma questão tão complexa é importante destacar que o substantivo “mau” e seu adjetivo “mau” tem significado muito genérico. Na verdade, o termo precisa ser dividido em categorias menores. John Hick, um grande estudioso do assunto tem dividido o mal em quatro categorias: a) existe o mal originado por seres pessoais. Esse é o mal moral, isto é, o pecado; b) há também o mal como sensação física da dor e a angústia do sofrimento psicológico, isto é, o sofrimento subjetivo; c) há ainda o mal natural: é o caso do terremoto, da epidemia etc.; e d) existe finalmente o que é chamado de mal metafísico ou inerente à criatura. Refere-se à finitude e contingência dos seres criados que lhe dão um condição de perene de imperfeição.

A tradição teológica cristão sempre viu o mal como tendo origem no uso incorreto do arbítrio humano. Agostinho, o famoso bispo de Hipona, afirmava que tudo o que Deus criou é bom, e que o fenômeno do mal ocorre apenas quando seres intrinsecamente bons se corrompem. Não pode existir nada inteiramente mau, nenhum ser. Mesmo não admitindo a existência ontológica do mal, Agostinho procurou defender a Deus de qualquer culpa pela existência do mal, negação do bem. Por isso, afirmou também que se a existência do mal não fosse uma coisa boa, certamente Deus onipotente não o teria permitido.

Para entender os textos bíblicos, é preciso reafirmar que a fé bíblica do Antigo Testamento, monoteísta e ética em sua essência, nunca admitiu a idéia de que há seres maus comparáveis a Deus. Não existe um dualismo. Toda experiência humana deve ser explicada em Deus e a partir dele. A visão monista do mundo e da divindade de Israel fazia com que até mesmo toda experiência negativa também fosse atribuída a Deus. Por isso até os chamados espíritos maus são enviados por Deus e estão sob o seu domínio, como é o caso de Satanás no livro de Jó (Jó 1.6). Isso chegou a permitir um certo henoteísmo, pois Deus é considerado em alguns textos como o deus dos deuses (Sl 95.4), isto é, acima dos deuses que só existem sociologicamente. Os deuses das nações nada são, e o Deus verdadeiro está acima de todos eles. Por isso há também uma idéia da vitória divina sobre as figuras mitológicas e suas nações. Este é o caso de Raabe, do Leviatã e da Serpente. Na verdade não há um espaço para qualquer divindade ou ser mitológico que se apresente como o opositor de Deus. Isso significa que todos os “seres maus” estão subordinados a Deus, e de certa forma, acabando sendo também “seus servos”, pois não passam de criaturas que só agem até o limite que Deus lhes permite atuar.

Retomando a amplitude semântica do termo “mal”, precisamos entender que é bem possível que a palavra não tenha significado ético em muitos desses textos bíblicos citados. Na verdade, “mal” tem em diversas passagens o significado de “desgraça”, “infortúnio”, “calamidade”. Se entendermos o termo dessa forma, é possível que o “espírito mau” não seja um demônio que se opõe a Deus, mas sim um “espírito arruinador” (que traz sofrimento) de juízo. Isso significa também que o Senhor “se arrependeu da punição que traria ao povo”, pois Deus não se arrepende do mal enquanto pecado! Finalmente Deus não cria o mal, no sentido ético, mas sim “a desgraça” (Veja Is 45.7 na NVI). Deus permite o mal, mas nunca é o criador direto do mal ético; ele não é o autor do pecado.

(Luiz Sayão) – Teólogo. Hebraísta (USP). Coordenador Geral de Tradução da Bíblia NVI. Prefaciou o meu novo livro: Reflexões sobre a vida de Paulo

Fonte: www.prazerdapalavra.com.br

Pela fé Raabe, a meretriz

Hebreus 11 é a galeria dos heróis da fé, cita apenas duas mulheres pelo nome: Sara, a esposa de Abraão (v. 11) e Raabe, uma meretriz de Jericó (v. 31). Sara era uma mulher temente a Deus, esposa do fundador do povo hebreu , e Deus usou seu corpo consagrado para dar à luz Isaque. Raabe, por sua vez, era uma gentia ímpia que adorava a deuses estranhos e vendia seu corpo. Em termos humanos, Sara e Raabe não tinham nada em comum. Mas do ponto de vista divino, Sara e Raabe compartilhavam a coisa mais importante da vida: as duas exercitaram a fé salvadora no verdadeiro Deus vivo.

Porém, a Bíblia vai ainda mais longe e relaciona Raabe ao Messias! Ao ler a genealogia de Jesus Cristo em Mateus 1, encontramos o nome de Raabe na mesma lista (v. 5) que os nomes de Jacó, Davi e de outras pessoas famosas da linhagem messiânica. Sem dúvida ela percorreu um longo caminho de prostituta pagã a antepassada do Messias.

Neste ensaio, gostaria de chamar a sua atenção para a fé de Raabe. Surge a intrigante pergunta: Como pode uma meretriz ter fé? É possível? Como era a fé de Raabe?

1. Uma fé corajosa (Js 2.1-7)

Tanto Hebreus 11.31 quanto Tiago 2.25 mostram que Raabe havia depositado sua fé no Deus Eterno antes de os espias chegarem a Jericó. Jericó era uma das “cidades estados” de Canaã, cada uma delas governada por um rei (cf. Js 12.9-24). A cidade ocupava cerca de 8 ou 9 acres, e há evidências arqueológicas de que era protegida por uma muralha dupla, cada parte separada da outra por uma distância de cinco metros. A casa de Raabe ficava nessa muralha (Js 2.15).

Quarenta anos antes, Moisés havia enviado doze espias a Canaã, e somente dois deles haviam apresentado um relato favorável (Nm 13). Josué enviou dois homens para espiar a terra e, especialmente, para obter informações sobre Jericó. Queria descobrir como os habitantes da cidade estavam reagindo à chegada do povo de Israel. De que modo os dois espias entraram na cidade sem ser imediatamente reconhecidos como forasteiros? Como encontraram Raabe? Ao ver esses acontecimentos se desenrolando, somos compelidos a crer na providência divina. Raabe era a única pessoa em Jericó que cria no Deus de Israel, e Deus levou os espias até ela.

É impressionante como Deus, em sua graça, usa pessoas que, a nosso ver, jamais poderia servi-lo (1 Co 1.27-29). Raabe colocou sua vida em perigo ao receber os espias e escondê-los, mas esse fato, em si, mostra sua fé no Senhor. É impossível ocultar a fé salvadora pó muito tempo. Uma vez que aqueles dois homens representavam o povo de Deus, ela não teve medo de ajudá-los. Se o rei tivesse descoberto a dissimulação de Raabe, ela teria sido executada como traidora.

2. Uma fé confiante (Js 2.8-11) –

A fé vale tanto quanto aquilo que se crê. Há quem creia na fé e pense que pelo simples fato de crer pode fazer maravilhas. Outros crêem em mentiras, o que na verdade não é fé, mas sim superstição.

Dr. Martyn Lloyd-Jones disse: “A fé manifesta-se em toda a personalidade”. A verdadeira fé salvadora não é apenas uma proeza resultante do esforço intelectual pelo qual nos convencemos de que algo é verdade, quando não o é. A verdadeira fé salvadora envolve “toda nossa personalidade”: a mente é instruída, as emoções são estimuladas e a vontade age em obediência a Deus.  

 Veja isto exemplificado na vida de Raabe: Ela sabia que Jeová era o Deus verdadeiro [a mente]; ela temeu por si mesma e sua família quando soube das grandes maravilhas que ele havia realizado [as emoções] e ela recebeu os espias e implorou pela salvação de sua família [vontade]. Portanto, toda a personalidade deve estar envolvida, caso o contrário, não se trata de uma fé salvadora conforme descrita na Bíblia.

Quando disse: “Bem sei que o Senhor vos deu esta terra” (Js 2.9), Raabe demonstrou mais fé do que aqueles dez espias quarenta anos antes. Sua fé baseava em fatos e não apenas em sentimentos, pois ela ouviu falar dos grandes milagres que Deus havia realizado, a começar pela divisão das águas do mar Vermelho no êxodo.

“Porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra” (Js 2.11). Uma confissão de fé tremenda, vindo dos lábios de uma mulher cuja vida havia sido cativa da idolatria pagã! Raabe creu no único Deus e não no panteão de deuses que habitavam os templos pagãos. Creu que Ele era um Deus pessoal  (“vosso Deus”), que agiria em favor daqueles que confiavam nele.

E para você leitor [a], o seu Deus é apenas Deus dos céus, ou também o Deus de toda a terra?  Para muitos cristãos, Deus é Deus apenas dos céus e não da terra!  Ele manda em cima, mas não interfere embaixo. O Deus de Raabe, era Deus nos céus e Deus de toda a terra. Aleluia!  Raabe creu num Deus grande e tremendo!

Nele, que é Deus dos céus e Deus de toda a terra

Pr Marcelo Oliveira

O Soldado, O Atleta e o Lavrador – 2 Tm

No capítulo 2 de Timóteo, Paulo faz uso de três metáforas: o soldado, o atleta, e o lavrador. Aqui todas elas enfatizam que a obra de Timóteo exigirá vigor, envolvendo tanto labuta quanto sofrimento.

O Soldado dedicado (2Tm 2.3,4).
As experiências como prisioneiro deram a Paulo ampla oportunidade de observar os soldados romanos e de meditar no paralelo existente entre o soldado e o cristão. Mas aqui o bom soldado de Jesus Cristo é assim chamado por ser um homem dedicado, que mostra sua dedicação por se achar sempre disposto a sofrer e estando permanentemente em guarda.
Os soldados em serviço não contam com segurança e facilidade. Pelo contrário, dureza, riscos e sofrimento são aceitos sem contestação. É como Tertuliano expressou em seu livro Address to Martyrs (Palavra aos Mártires): “Nenhum soldado vai à guerra cercado de luxúrias, nem vai à batalha deixando um quarto confortável, mas sim uma tenda estreita e provisória, em que há muita dureza, severidade e desconforto”.
O Atleta sujeito às regras (2Tm 2.5).
Agora Paulo desvia os seus olhos da imagem do soldado romano para a do competidor nos jogos gregos. Em nenhuma competição atlética do mundo antigo (assim como hoje também) o competidor dava uma demonstração de força ou de habilidade ao acaso. Cada esporte tinha as suas regras para a competição, e às vezes também para o treino preparatório. Cada prova também tinha o seu prêmio, e os prêmios conferidos aos jogos gregos não eram medalhas de ouro ou troféus de prata, e sim coroas de louro.
Contudo, nenhum atleta era “coroado” se não tivesse competido “de acordo com as regras”, mesmo que o seu desempenho tivesse sido brilhante. “Fora do regulamento não há prêmio”, essa era a palavra de ordem!A vida cristã é geralmente comparada, no Novo Testamento, a uma corrida, não no sentido de estarmos competindo uns com os outros (conquanto tenhamos que “preferir em honra uns aos outros” – Rm 12.10), mas no sentido da severa autodisciplina do treinamento (1Co 9.24-27), no sentido de que devemos nos desembaraçar de todo peso morto (Hb 12.1-2) e, especialmente nesta passagem, no sentido de que devemos observar as regras.
O contexto mostra que competir “de acordo com as regras” tem uma aplicação mais vasta do que à que se refere à nossa conduta moral. Paulo está descrevendo o serviço cristão, não somente a vida cristã. Parece estar dizendo que os prêmios pelo serviço dependem da fidelidade. O mestre cristão deve ensinar a verdade, construindo com materiais sólidos sobre o fundamento que é Cristo, se quer que a sua obra permaneça e não seja consumida pelo fogo (cf. 1Co 3.10-15).

O Lavrador diligente (2Tm 2.6).
Tendo o atleta de competir com honestidade, o lavrador, por sua vez, tem de trabalhar arduamente. O sucesso na lavoura só é conseguido com muito trabalho. Isso é verdade particularmente em países em desenvolvimento, antes de se ter as técnicas da mecanização moderna. Em tais circunstâncias, o sucesso da exploração agrícola depende tanto do suor como da habilidade.
O Rev. Moule escreve sobre a “extenuante e prosaica labuta” do agricultor. Ao contrário do soldado e do atleta, a vida do agricultor é “totalmente desprovida de emoção, distante de toda fascinação decorrente do perigo e do aplauso”. Contudo, a primeira parte da colheita pertence ao lavrador que trabalha. É seu direito. A boa produção deve-se mais a seu esforço e perseverança do que a qualquer outro fator. É por isso mesmo que o preguiçoso jamais será um bom agricultor, como ressalta o livro de Provérbios.
A que espécie de colheita se refere o apóstolo? Duas interpretações apresentam maiores evidências bíblicas. Primeira, a santidade como colheita. Verdadeiramente, a santidade é “fruto (ou colheita) do Espírito”, sendo que o próprio Espírito é o principal agricultor, que produz uma boa safra de qualidades cristãs na vida do cristão.
A segunda interpretação é que a conquista de conversões é também uma colheita. “A seara na verdade é grande”, disse Jesus referindo-se aos muitos que esperam por ouvir e receber o evangelho (Mt 9.37; cf. Jo 4.35; Rm 1.13). Nesta seara é claro que “é Deus quem dá o crescimento” (1Co 3.6,7), mas ainda assim não temos a liberdade de ficar à toa. Não só isso, mas tanto a semeadura da boa semente da Palavra de Deus como a colheita são trabalhos duros, especialmente quando há poucos trabalhadores.
A bênção de Deus foi abundante no ministério do apóstolo Paulo. Não há dúvida que a este respeito muitas explicações poderiam ser dadas. Mas até que ponto consideramos essa bênção decorrente do zelo e do interesse, da quase obsessiva devoção com que Paulo se entregava ao trabalho?
Ele se dava ao trabalho s
em pensar no que isso lhe custava; lutava sem dar atenção às feridas; trabalhava sem procurar descansar; servia sem procurar pela recompensa, a não ser o gozo de fazer a vontade do seu Senhor.
E Deus fazia prosperar os seus esforços. Mais uma vez, “o lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos”.
Rev. Josivaldo Pereira
Adaptado por Marcelo de Oliveira

5 ênfases da Carta de 1º João

A primeira carta de João é marcada por contrastes: luz e trevas, vida e morte, santo e pecador, amor e ódio, Cristo e anticristo. Nesta reflexão, destacarei 5 grandes ênfases dessa epístola:

1) Em primeiro lugar, ela é uma carta apologética. João combate com ousadia os falsos mestres e suas perniciosas heresias. Os hereges cometiam três erros básicos: doutrinário, moral e social. Eles negavam a realidade da pessoa teantrópica de Cristo, ou seja, sua natureza divino-humana. Negavam a necessidade de uma vida santa como prova do conhecimento de Deus e negavam a prática do amor como evidência da conversão.

João descreve com três expressões que chamam a atenção para a sua origem diabólica, sua influência perniciosa e eu falso ensino: eles são falsos profetas (4.1), enganadores (2 Jo 7) e anticristos (2.18). O estudioso Donald Guthrie tem razão quando diz que a heresia gnóstica, ao negar a humanidade de Cristo, atacava o próprio coração do cristianismo, porque se Cristo não se tornou homem e não morreu, então a expiação não foi feita e se ela não aconteceu, então estamos ainda debaixo da condenação do pecado.

2) Em segundo lugar, ela é uma carta de segurança espiritual. A expressão: “nós sabemos” é usada 13 x para dar segurança aos crentes. A epístola garante aos crentes que Deus enviou seu Filho ao mundo para salvar o homem, acentuando a doutrina da encarnação. As três grandes provas da vida, ou as três provas cardinais com as quais podemos julgar se possuímos ou não a vida eterna é: a teológica, se cremos que Jesus é o “Filho de Deus” (3.23; 5.6,10,13). A segunda prova é moral, se estamos praticando a justiça e guardando os mandamentos de Deus (1.5; 3.5). A terceira prova é social, se nos amamos uns aos outros. Desde que Deus é amor e todo amor vem de Deus, é claro que uma pessoa sem amor não conhece a Deus (4.7,8).

3) Em terceiro lugar, ela é uma carta que enfatiza a essência do próprio Deus. João nos diz duas coisas muito importantes acerca do ser de Deus. “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (1.5). Deus é amor e por causa desse amor ele nos enviou seu Filho para nos redimir do pecado (4.7-10,16). Em outras palavras, Deus é luz e se revela; Deus é amor e se entrega a si mesmo. Deus é fonte de luz para a mente e a fonte de calor para o coração de seus filhos.

4) Em quarto lugar, ela é uma carta que enfatiza o Espírito vivendo dentro do crente. O Espírito é quem nos faz conscientes de que Deus permanece em nós (3.24) e habita em nós e nós habitamos nele (4.13)

5) Em quinto lugar, é uma carta que enfatiza tanto a divindade como a humanidade de Cristo. João combate os hereges gnósticos mostrando que Jesus é o Filho de Deus, o Messias prometido, o ungido de Deus (1.7;2.1,22; 3.8; 4.9,10,14,15). Os falsos profetas negavam que Jesus é o Cristo (2.22) e que ele é o Filho de Deus (2.23; 4.15).

Contrariando os ensinos gnósticos que proclamavam a matéria era essencialmente má, João mostra que Jesus veio em carne (1.1-3,5,8; 4.2,3,9,10,14) A mensagem de João está supremamente interessada na manifestação histórica, audível, visível e tangível do Eterno. João está atestando a sua mensagem com a sua experiência pessoal. Não se trata de “[…] fábulas engenhosamente inventadas” (2 Pe 1.16), mas de uma revelação histórica verificada pelos três sentidos superiores do homem: audição, visão e tato.

Nele, o Verbo Eterno

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Stott, John. I,II,III João. Introd. e Comentário. Ed. Vida Nova
Lopes, Augustus Nicodemos. 1º Carta de João. Ed. Cultura Cristã
Lopes, Hernandes Dias. 1,2,3 João. Editora Hagnos

A Bíblia e os grandes monstros marinhos

Você já deve ter feito a seguinte pergunta: Quem foi que criou os monstros marinhos? De onde eles vieram? Eles de fato existiram?


Esses grandes monstros marinhos, crocodilos, serpentes eram animais mitológicos que os antigos pensavam habitar o mar, e simbolizavam o mal?

Quanto mais estudo as Escrituras, mais “descubro” suas riquezas e preciosidades. Estas criaturas mencionadas acima são mencionadas em muitas passagens do Antigo Testamento. Estudiosos como John Grammie dividem-se entre a opinião de que o autor do livro de Jó entendia que as criaturas descritas em seu livro (Jó 40.15-32; 41.1-43) eram monstros míticos e a de que eram animas naturais. Outros como Nicolas Kiessling disse: “os mais temíveis dragões do Antigo Testamento, tanin, leviatã, raabe, são horríveis, mas vagas encarnações do mal, oponentes de Deus e do homem. Eles habitam as profundezas dos mares e são com freqüência empregados como metáforas oportunas de reis pagãos hostis aos filhos de Israel”.


A palavra hebraica ?????????? (tâninim) ocorre 15 vezes no Antigo Testamento, referindo-se a diferentes tipos de criaturas: um monstro marinho que Deus destruiu ou destruirá (Sl. 74.13; Is. 27.1; 51.9); monstros marinhos em geral (Gn 1.21; Jó 7.12; Sl 148.7); uma metáfora da Babilônia (Jr 51.34) ou do Egito (Ez. 29.3; 32.3) como inimigo de Israel; e serpentes (Ex 7.9,10,12; Sl 91.13). Leviatã (Jó 3.8; 41.1; Sl 74.14; 104.26; Is 27.1) e “raabe” (Jó 9.13; 26.12; Sl 87.4; 89.10) são usados no Antigo Testamento como paralelos de “tanin”.

Em Gênesis 1.21 diz que Deus criou os monstros marinhos, tâninim significa que Deus criou e controla tudo o que há no universo, mesmo o que os outros povos consideravam símbolos do mal. As pessoas nada a tinham a temer no mundo. Deus possui os poderes do mal em suas mãos. Ele os fez e lhes deu nome. Dois outros aspectos dessa passagem são significativas: (1) o verbo hebraico ?????? (bara’), “criou”, é empregado só na segunda parte do capítulo 1 de Gênesis. A razão provável é que a vida animal fosse considerada um degrau acima do restante da criação até aquele momento. (2) a palavra ?????? ( barekh) “benção” é usada pela primeira vez nesse capítulo (Gn 1.22).

Westermann observou que a “benção” aqui inclui o poder de propagar a espécie. Este é o significado básico da palavra benção: o poder de ser fértil. É evidente que a vida do ser vivente, seja do homem, seja do animal, inclui a capacidade de propagação. Sem isso não seria uma vida real.
O sexto dia da criação (Gn 1.24-31) testemunha a criação dos animais terrestres e dos homens com uma diferença notável na descrição da origem dos dois. Os animais terrestres vêm da terra: “produzam a terra…” (v. 24). Mas o homem é objeto íntimo e direto da obra criadora de Deus: “Façamos o homem à nossa imagem” (v. 26).
A palavra “criar”, ?????? (bara’), ocorre três vezes no versículo 27 para deixar claro que o ponto culminante e alvo da criação divina é atingido na criação dos seres humanos. As pessoas e os animais foram criados no mesmo dia e ambos são chamados distintamente “nephesh hayâ,” – “seres viventes”. Cada um possui a capacidade de propagação da espécie. Ainda assim, os homens destacam-se como seres ímpares, feitos à imagem de Deus. Eles recebem domínio sobre todos os outros seres criados.

Nele, o Criador por Excelência

Pr Marcelo de Oliveira

Bibliografia: Smith, Ralph. Teologia do A.T. Edições Vida Nova 2007