Category Archives: Pérolas

ONU, Israel e Irã

 

Um exemplo de oratória e habilidade política, ocorrido recentemente na ONU, fez sorrir toda a comunidade mundial ali presente.

 

Falava o representante de Israel na ONU:

 "Antes de começar o meu discurso, quero contar-lhes algo inédito sobre Moisés … (todos ficaram muito curiosos)…quando Moisés golpeou a rocha com seu cajado e dela saiu água, pensou imediatamente":

 

“Que boa oportunidade para tomar um banho!”.

 

Tirou a roupa, deixou-a junto da pedra e entrou n´água. Quando acabou de banhar-se e quis vestir-se, sua roupa tinha sumido! Os palestinos haviam-na roubado!"

 

O presidente do Iran levantou-se furioso e bradou:

 

– "Que mentira boba e descabida!…nem havia palestinos naquela época!" , gritou o presidente  todos os palestinos presentes concordaram, aplaudindo.

O representante de Israel então sorriu e afirmou:

 

"Muito bem…então, agora que ficou bem claro quem chegou primeiro a este território e quem foram os invasores, posso enfim começar o meu discurso…"

 

 

Uma Cristologia no livro dos Salmos

O Salmo 22 é chamado de “o salmo da cruz”. Normalmente pensamos apenas nos Profetas como anunciadores da vinda e do ministério do Messias, mas também os salmos testemunham dele com abundância de dados. O próprio Senhor Jesus assim declarou, em Lucas 24.44: “São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. É muito provável que Jesus empregasse a palavra Salmos referindo-se à terceira parte da Bíblia Hebraica, Os Escritos. Mas a passagem em tela ilustra bem a verdade que Jesus se viu nos Salmos. Aliás, uma observação de Agostinho, em um de seus comentários sobre os Salmos mostra isso. Ele se referiu a Jesus como “este admirável cantor dos salmos” [1].

Poucos textos do Antigo Testamento são tão realistas e detalhistas sobre a morte do messias de Deus, Jesus de Nazaré, como o Salmo 22. O relato é de profundo impacto. Basta dizer que Aage Bentzen, que não é conhecido propriamente por escrever estudos devocionais, mas sim artigos bem críticos, comentou sobre seu conteúdo: “não é a descrição de uma doença, mas, sim, a de uma execução” [2]. A Bíblia de Jerusalém comentou, em nota de rodapé: “ (…) Próximo do poema do Servo sofredor (Is 52.13-53.12) este Salmo, cujo início Cristo pronunciou sobre a cruz e no qual os evangelistas viram descritos diversos episódios da Paixão, é, portanto, messiânico, ao menos em sentido típico” [3].

Foi nela que Jesus buscou sua quarta palavra pronunciada na cruz e que é apresentada em Mateus 27.46: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.  Das sete palavras pronunciadas pelo Salvador, na cruz, esta é, sem dúvida, a mais sofrida. O sofrimento da cruz não foi acidental. Jesus se apropria de um escrito de quase um milênio antes de seu nascimento e cujo cumprimento, mais do que em qualquer outro, cabe muito bem nele. Valham-nos as palavras do pregador puritano Arthur Pink, em um sermão em Mateus 27.46:  “A palavra ‘desamparado’ é uma das mais trágicas do discurso humano. O escritor (parece-me ser ele, nota minha) não esquecerá facilmente sua sensação de ter passado por uma cidade deserta de todos os seus habitantes – uma cidade abandonada. Quantas calamidades cabem nesta palavra – um homem abandonado por seus amigos, uma mulher abandonada por seu marido, uma criança abandonada por seus pais! Mas uma criatura abandonada pelo seu Criador, um homem desamparado por seu Deus – ó, isto é o mais trágico de tudo”. [4]

Jesus proferiu o Salmo 22.1 em sua língua natal, o aramaico. Foi aqui que ele manifestou o maior de todos os seus sofrimentos: o Pai o abandonara. Ele, que antes dissera “eu estou no Pai, o Pai está em mim” (Jo 14.10), agora se vê desamparado pelo Pai. Aqui se pode ver o cumprimento de Gálatas 3.13, segundo o qual ele nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição em nosso lugar. O fato é que o sofrimento de Jesus é muito bem descrito aqui. O sofrimento físico, infligido ao seu corpo, é muito bem demonstrado nos versículos 14-16. “Os meus ossos todos se desconjuntam” mostram o efeito da crucificação e seu poder de desconjuntar o corpo humano.  “Meu coração está como a cera” é uma perfeita descrição de como o coração se sobrecarregava com a crucificação. Todo o corpo pendia dos braços, a respiração se tornava difícil e o trabalho de bombear o sangue, com escassez de oxigênio, se tornava um esforço enorme. Um artigo escrito por um pastor, médico, analisando a crucificação, põe esta situação em termos mais científicos: “Sofreu durante horas a fio a dor sem limites, ciclos de retorcimento, cãibras que desconjuntavam seus ossos, asfixia parcial e intermitente e dor ardente quando os tecidos eram arrancados de suas costas dilaceradas ao mover-se de baixo para cima contra o madeiro áspero da cruz. Então veio outra agonia: a dor profunda e esmagadora no peito quando o pericárdio, a membrana que envolve o  coração, começou a encher-se de soro e pressionava o coração. A profecia no Salmo 22.14 estava sendo cumprida: ‘Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se-me dentro de mim’”. [5]

“Seco está o meu paladar, como um caco, e minha língua colada ao maxilar” (v. 15) é uma perfeita descrição da sede, produto da febre. É neste momento que ele expressa sua sede: “Tenho sede” (Jo 19.28). É neste momento que lhe dão vinagre (Jo 19.29), cumprindo-se, então, outro salmo messiânico e também de sofrimento, o 69, em seu versículo 21: “Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre”.

Ainda no contexto da dor física, o versículo 17 (na Bíblia de Jerusalém, mas 16 na Versão Revisada) traz um problema de tradução. Diz ele: “um bando de malfeitores me envolve, como para retalhar minhas mãos e meus pés”. O problema é com o verbo traduzido por “retalhar” (Bíblia de Jerusalém) ou “traspassaram” (na Versão Revisada – “traspassaram-me as mãos e os pés”). Citamos a Bíblia de Jerusalém, em rodapé, porque o Texto Massorético está incompleto e traz uma nota de rodapé declarando como a New International Version lê: karû. Diz a BJ: “‘Como para retalhar’: ke’erô (do verbo ‘arah), conj.; ‘como um leão’: ka’ari; hebraico, ininteligível; grego: ‘eles cavaram’; siríaca: ‘eles feriram’; Vulgata: ‘eles furaram’. A passagem recorda Isaías 53.5, mas os evangelistas não a utilizaram no relato da Paixão”.[6]

Além do sofrimento físico, houve o sofrimento moral. Pode parecer estranho, mas creio que este dói muito mais que o físico. É sabido que feridas emocionais e morais custam a cicatrizar muito mais lentamente que as físicas. Os versículos 12-13 (“Muitos touros me cercam; fortes touros de Basã me rodeiam. Abrem contra mim a sua boca, como um leão que despedaça e que ruge “) mostram algo deste sofrimento. Havia ódio, um profundo ódio. Que se nota, novamente, no versículo 16: “pois cães me rodeiam; um ajuntamento de malfeitores me cerca”. Parece haver na multidão uma atitude de ironia, de deboche ou desejo sádico de ver a morte de alguém: “eles  me olham e ficam a mirar-me” (v. 18).

Os seus despojos são repartidos, numa atitude de desprezo. Ainda não está morto, mas é tratado como se fosse, com a túnica sendo sorteada: “repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica  lançam sortes” (v. 19). Este texto é cumprido em   Lucas 23.34. Os despojos de um criminoso eram o pagamento dos seus executores. Algo parecido com o que fazem os chineses, hoje: quando alguém é executado à bala, a conta da bala é encaminhada à família. A lei foi cumprida, mas a pessoa é tão inútil e danosa ao Estado que sua execução é cobrada.

Esta zombaria é muito bem mostrada nos versículos 6 a 8 : “Quanto a mim, sou verme, não homem, riso dos homens e desprezo do povo; todos os que me vêem caçoam de mim, abrem a boca e meneiam a cabeça: ‘Voltou-se a Iahweh, que ele o liberte, que o salve, se é que o ama!’” (Bíblia de Jerusalém). É o sarcasmo dos circunstantes ao pé da cruz, como se vê no relato dos evangelistas.

Há dois outros aspectos que são altamente relevantes, do ponto de vista profético e teológico, no corpo do Salmo 22. Do versículo 19 ao 22 vem o livramento e do 27 ao 31, a declaração de sua vitória. Mas sem deixar de ter estas idéias como fundamentais à nossa fé, importa que ressaltemos o testemunho profético do salmo messiânico, relatando o sofrimento necessário do messias. E algo importante: seu livramento e sua exaltação sucedem por causa do seu sofrimento. Ou seja, o sofrimento do messias está presente nos planos do Senhor.  Voltamos a este ponto: sofrer não significa  falta de fé e não indica ausência de confiança em Deus. O sofrimento faz parte do plano de Deus e está na raiz da redenção da Igreja.  E, mais uma vez, precisamos retornar a uma declaração do Senhor Jesus: “não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, guardarão também a vossa” (Jo 15.20). Não se pode pensar numa vida cristã sem sofrimentos, quando se reconhece que eles estão presentes na vida do próprio Salvador. E de tal maneira decididos que foram profetizados um milênio antes. O sofrimento de Jesus, o messias dos salmos, não foi acidental. Foi planejado e por isso profetizado. Pode o discípulo pretender não sofrer? Pode-se ver o sofrimento como estando fora do propósito divino? Temos direito de presumir uma vida de vitória.

UM RESUMO – Torna-se difícil fazer um resumo das observações do Salmo 22 pela vastidão da matéria. Mas pode-se sintetizar seu conteúdo nos seguintes termos: o caminho escolhido pelo messias é o do sofrimento. Não nos parece racional, a nós, no século XX, produtos da cultura ocidental e filhos intelectuais dos gregos que somos. Mas o caminho não é difícil de entender, à luz da cultura oriental: o pecado trouxe o sofrimento. Mas é o sofrimento que traz a redenção. Um homem carrega o mais intenso sofrimento para carregar o pecado da humanidade, para levantá-la e reconduzi-la a Deus, na trilha que seguia ela antes do pecado. Sofrimento não é, necessariamente, indício de abandono da parte de Deus nem falta de fé. Pode ser a pedagogia divina para que seus planos obtenham consecução. Pensar nisso se torna necessário, tamanha a ênfase no sofrimento do Messias como mostra o Salmo 22.

Pr Isaltino Gomes 

 


[1] GOURGUES, M. Os Salmos e Jesus – Jesus e os Salmos. S. Paulo: Edições Paulinas, 1984, p. 96.

[2] BENTZEN, Aage. King and Messiah. Citado por KIDNER, Derek, em Salmos 1-72 – Introdução e Comentário.S. Paulo:  Vida Nova e Mundo Cristão, 1980, p.  123. Conforme Kidner, o itálico é de Bentzen.

[3] Trecho da nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, em comentário sobre o Salmo 22.

[4] PINK, Arthur. The Seven  Sayings of the Saviour on the Cross. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House. 1958, p. 65.

[5] Artigo  “A crucificação: uma descrição médica”, publicada no jornal Palavra da Fé, ano II, no. 4, março/abril de 1984, página 5. Não possuo mais dados do jornal, pois o que tenho é um recorte contendo o artigo usado.

[6] É o que traz o rodapé da Bíblia de Jerusalém, em comentário in loco, mostrando as variantes do texto. O hebraico não faz sentido e nem mesmo qualquer tradução pode ser entendida facilmente. A idéia é de mãos sendo rasgadas, possibilitando entender a crucificação. Isto torna o relato fantástico, posto que os hebreus desconheciam a morte por cruz. Os romanos a copiaram dos cartagineses e a disseminaram. Mas na época do Salmo 22, um milênio antes de Jesus, sua declaração foge ao limite da compreensão natural. Mais aspectos desta questão crítica aparecem em Kidner (op. cit.), p. 126 e em DELITZSCH, Franz, Biblical Commentary on the Psalms, vol. 1, ps. 317-320.

Uma análise da palavra grega “analysys”

A morte para o cristão não é o final da linha. A morte na vida do cristão não tem a última palavra. Depois da morte vem o juízo, quando uns entrarão na bem aventurança eterna e outros serão atormentados eternamente. A morte nivela todos os homens: pobres e ricos, jovens e velhos, doutores e analfabetos. Todos nós viemos do pó e voltaremos a ele. Por outro lado, nem todos terão o mesmo destino após a morte.

 

O grande paladino do cristianismo, o idoso e surrado Paulo, fechando as cortinas da vida, na ante sala do martírio escreve: “Quanto a mim, estou sendo oferecido como libação, e o tempo da minha partida é chegado” (2 Tm 4.6). O apóstolo Paulo usa aqui um eufemismo para definir a morte para o cristão. Em vez de falar que o tempo de sua morte é chegado, fala do tempo de sua partida. Neste momento vemos a riqueza das línguas originas e sua importância para aclarar muitos textos das Escrituras. A palavra grega usada neste texto é analysys (partida) e esta possui três significados, que veremos agora: 

 

1)  Ela significa ficar livre de um jugo.

 Esse era o termo usado pelos agricultores em referência ao ato de remover o jugo dos bois. O apóstolo Paulo havia levado o jugo de Cristo, que era suave (Mt 11.28-30), mas também carregou inúmeros fardos em seu ministério (1 Co 11.22; 12.10). Portanto, partir e estar com Cristo significa colocar de lado todos os fardos, pois o seu trabalho na terra estaria consumado. A morte para o cristão é alívio de toda fadiga (Ap 14.13). A morte é descanso (Hb 4.9). A morte é entrar na posse do reino e no gozo do Senhor (Mt 25.34).

 

A morte para o cristão não é decadência, mas aperfeiçoamento para entrar na glória, na cidade santa, ma Jerusalém celeste. Enquanto estamos aqui, passaremos muitas lutas e sofrimentos. Aqui há choro e dor. Aqui há vales sombrios e trabalhos extenuantes.

 

2) Ela significa levantar acampamento.

 A ideia central aqui é a de desatar as cordas da tenda, remover as estacas e prosseguir a marcha. A morte é colocar-se em marcha. Cada dia dessa marcha é uma jornada que nos aproxima mais do nosso lar. Até que enfim se levantará pela última vez o acampamento neste mundo e se transferirá para a residência permanente na glória. A morte é uma mudança de endereço. A Bíblia diz: “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Co 5.1). O que o texto está dizendo é que esta casa terrestre é nosso corpo frágil e sujeito ao cansaço, à doença e à morte. Quando esta casa se desmoronar, então, teremos um edifico (no grego: mansão), feita não por mãos, mas eterna nos céus.

 

Conta-se que um pastor foi visitar um crente no leito de morte.  Ao chegar no leito perguntou-lhe: “Meu irmão, como você está”? O irmão enfermo respondeu: “Pastor, a casa onde eu moro está desmoronando, mas eu já estou de malas prontas para me mudar. Estou indo para a casa do Pai”.  Dwight Moody, o grande evangelista do século 19, disse na hora da sua partida: “Afasta-se a terra, aproxima-se o céu, estou entrando na glória”.

 

3)  Ela significa desatar as amarras do barco, levantar a âncora e lançar-se ao mar.

A palavra “partida” significa literalmente desatar as amarras de um bote e singrar as águas, atravessando para a outra margem. A morte para o cristão é singrar as águas profundas da vida e chegar do outro lado, na praia áurea da eternidade. A morte para o cristão é ir para o céu (Fp 1.21,23). A morte para o cristão não é fazer uma viagem rumo ao desconhecido. Não é mergulhar na escuridão do sofrimento nem viver perambulando pelo espaço.

A morte para o cristão é preciosa ao Senhor (Sl 116.15). Morrer para o cristão é lucro (Fp 1.21). Morrer é deixar o corpo e habitar com o Senhor (2 Co 5.8). Morrer é bem aventurança (Ap 14.13). Morrer é partir para estar com Cristo o que é incomparavelmente melhor (Fp 1.23). Isso não significa que devemos aborrecer da vida e amar a morte. Não significa que devemos desistir de lutar pela vida e buscarmos os recursos para vivermos bem. Não. O cristão não teme a morte. Ele sabe em quem tem crido. Sua esperança está naquele que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25)

Pr Marcelo de Oliveira

Bibliografia: Rienecker, Fritz e Rogers, Cleon. Chave linguistica do NT. Ed. Vida Nova

Stott, John. A mensagem de 2 Timóteo. Editora ABU

Mensageiro da Paz: A Páscoa e os 4 cálices

Shalom!

Por infinita graça do Eterno, foi publicado mais um texto de minha autoria, no ótimo jornal – Mensageiro da Paz – orgão oficial da CGADB.  Meus sinceros agradecimentos ao amado amigo e pastor Silas Daniel, editor-chefe do jornalismo da CPAD.  O artigo encontra-se na página 21 da edição de Abril. 

Abaixo o texto na íntegra: 

Numa primeira leitura sobre as dez pragas enviadas contra o Egito, nós deduzimos que a aparente razão para tais calamidades foi a obstinada recusa do Faraó em obedecer à ordem do Eterno de libertar Israel. No entanto, se esse fosse o único propósito, um único golpe devastador teria sido suficiente.

 

Agora surge a pergunta: Por que o Eterno optou por dez pragas? Porque, por intermédio das dez pragas, o Eterno demonstrou não apenas ser o Criador do universo, mas Senhor único e absoluto dos céus e da terra, o Juiz supremo e o Regente da natureza. Segundo a cultura judaica, cada praga que Deus manifestou no Egito serviu como castigo pela escravidão, tortura e a campanha de genocídio perpetrada pelos egípcios contra o povo judeu.

 

O texto de Êxodo 5.1 diz: “[…} para que celebre uma festa no deserto”. Implicitamente esta era a festa da Páscoa. Somente depois que o faraó ter “endurecido o coração” e repetidamente se recusado a liberar o povo judeu, as portas do arrependimento se fecharam. Maimônides, um dos maiores rabinos da história de Israel, explica que a expressão “endurecerei o coração”, é o castigo que Deus impõe a quem cometeu um grave pecado é privá-lo da possibilidade de se arrepender. Este é o significado desta expressão. Percebemos esta ideia no caso de Esaú, que buscou o arrependimento e não encontrou (Hb 12.16,17).

 

As razões naturais que levaram os judeus a incorporar em suas vidas a celebração da Páscoa, no hebraico Pesach (passagem, passar por cima) são relevantes e todas de grande significado. Buscando descortinar os motivos que deram alegria aos judeus em comemorar a Páscoa, devemos observar o capítulo 12 de Êxodo, onde vemos o Eterno não só instituindo tal festa, como também apontando os benefícios dela advindos. Assim, ao celebrar a Páscoa, quer a primeira, quer as que seguiram, o judeu tinha por base quatro grandes bênçãos de Deus, como veremos agora:

 

1) Ela representou o começo de uma nova contagem do tempo.  A partir dessa data o povo deveria, e num certo sentido estava, reiniciando a vida. Isso é magnífico, pois para os judeus a vida era somente opressão, humilhação e opróbrio. Deus queria lhes ensinar algo lindo: a partir deste acontecimento, eles estavam voltando ao zero, e tendo a oportunidade de recomeçar suas vidas.

 

O versículo 2 diz: “este mês será o principio dos meses”. Isto queria dizer que o novo calendário vinha diretamente de Deus e que eles teriam um novo começo. Definitivamente eles abandonariam o calendário da escravidão vivida sob o império egípcio e começariam a contar seus dias a partir do mês da libertação! Nenhuma lembrança deveria acompanhá-los. Houve uma ruptura entre o calendário egípcio e o divino. Hoje pode ser um novo tempo em sua vida. Não haverá lembrança dos tempos antigos. Deus estava dizendo ao povo judeu: chega de escravidão, hoje faço uma ruptura no calendário antigo.

 

O profeta Isaías alça sua voz e diz: “Eis que faço uma coisa nova, agora sairá a luz” (Is 43.19).

 

2) De escravos, foram feitos em homens e mulheres livres.  A segunda razão da alegria de celebrar a Páscoa estava no fato de que o povo seria livre. Tente imaginar: os judeus estavam confinados aos estreitos limites da terra da escravidão, e sem nenhuma condição de se moverem daquele território. Agora, por causa da Páscoa, seriam livres para andar sob a direção de Deus. A chance de ver-se livre das amarras do escravizador era iminente.

 

Os judeus celebravam a Páscoa sob a ótica da liberdade. Como uma autêntica carta de alforria, a Páscoa proclamava liberdade aos cativos. Assim éramos nós, escravos do pecado, confinados nele, mas por meio do sangue de Jesus, somos livres!

 

Jesus disse: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36). O apóstolo Paulo, em Romanos 6.18 diz: “E libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça”.

 

3) Foram guardados diante do juízo de Deus.  Sob o efeito protetor do sangue do Cordeiro pascal, o povo judeu foi preservado da morte que atingiu todas as famílias egípcias. A morte que fez definhar o poderio egípcio, pois desde o rei ao mais simples cidadão, bem como os animais, todos tiveram de chorar aquela noite a perda do seu primogênito, mas a família dos judeus não foi atingida.

 

Ao ver toda a família presente no banquete pascal, é possível imaginar a enorme alegria que tomou conta do coração do judeu. Assim, a Páscoa não comunica somente o começo de um tempo novo e a liberdade, mas também a vida guardada diante da morte.

 

A cultura judaica é uma das mais fascinantes do mundo. Os judeus até hoje celebram a Páscoa com quatro cálices. Neste momento você deve estar se perguntando: De onde veio a ideia dos quatro cálices? Os exegetas judeus observaram um detalhe interessante no livro do Êxodo 6.6,7 onde há quatro verbos que se destacam.

 

“Portanto, dize aos filhos de Israel: Eu o Senhor, vos tirarei [1] de debaixo das cargas dos egípcios, e vos livrarei [2] da servidão, e vos resgatarei com braço estendido [3] e com grandes juízos.  Versículo 7: Eu vos tomarei [4] por meu povo […]” (Ex 6.6,7).  Eles também relacionam estes quatro verbos as quatro letras do nome inefável do Eterno, o tetragrama sagrado: Yod, Hei, Wav, Hei. 


A Palavra de Deus é um livro incomparável e magnífico. No evangelho de Lucas 22, temos quatro cálices também!

 

Vejamos:

 

Lucas 22.17: E, tomando um cálice [1]

Lucas 22.20: Semelhantemente, tomou o cálice [2]

Lucas 22.42: “[…} passa de mim este cálice [3]

Lucas 22.18: “[…] não beberei do fruto da vide [4]

 

Perceba que os cálices no texto de Lucas não estão em uma ordem cronológica. O versículo 18 aponta para o cálice que “beberemos” por ocasião  das bodas do Cordeiro.

 

Agora, o que desejo destacar, é o 3º cálice, em que encontramos o verbo: “resgatarei com braço estendido”. Esse foi o cálice que Jesus, o Filho de Deus, pediu ao Pai para que ele não tomasse, quando orava no Getsemani. Todavia, sabemos que o Pai não ouviu sua oração. Jesus teria que sorver toda a ira de Deus e levar sobre si os pecados do mundo. Surge a pergunta: “Onde Jesus tomou este cálice”? Na cruz, com o braço estendido! Ele nos resgatou com braço estendido! Oh profundidade das riquezas! É por este motivo que devemos amar e estudar a Bíblia. Ela é perfeita, bela, incomparável.

 

4) Eles tinham como destino uma terra abençoada. Para um povo que viveu tanto tempo sem uma pátria, a Páscoa prometia uma terra rica, abençoada sob o governo redentor de Deus. O texto de Êxodo 12.25 diz: “E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos dará…”. Mais tarde, Josué disse: “E eu vos dei a terra em que não trabalhaste, e cidade que não edificaste, e habitais nela e comeis das vinhas dos olivais que não plantaste” (Js 24.13).

 

Assim, tendo reiniciado a contagem dos dias, experimentando a liberdade, guardados do poder destruidor da morte e indo em direção a uma terra rica, não é de admirar que a Páscoa tinha um clima de festividade indizível. Contudo, há de se observar que a celebração da Páscoa não tinha como objetivo centralizar a atenção do povo nas bênçãos que lhe foram outorgadas, mas no Deus Eterno, que era a fonte de tudo e os abençoara. 

 

Assim como o povo de Israel entrou na terra da promessa, nós, que conhecemos a Jesus, o Cordeiro de Deus, e reconhecemos seu senhorio, entraremos na Jerusalém celestial, a cidade cujo arquiteto é o próprio Deus. Amém!

 

Pr Marcelo Oliveira – Teólogo. Pós graduado em AT.  Conferencista. Hebraísta. Escritor. Membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil. 

 

Os 4 maiores silêncios da Bíblia

Amados, segue um esboço de uma mensagem nunca pregada que o ETERNO me concedeu nesta última semana.  Desejo-lhes que seja uma benção para as vossas vidas. 

A) O silêncio da criação – Onde os rabinos perguntam: Que havia antes do ETERNO criar o mundo? Resposta: Silêncio.  Todo silêncio de Deus resultará em algo grande, magnífico, portentoso. 

B) O silêncio inter-testamentário (depois de 400 anos de silêncio, DEUS volta a falar no deserto. YOHANAN, a voz do deserto ecoa em toda Judeia. 

C) O silêncio da cruz: Deus meu, Deus meu, pq me desamparaste? Sim, o desamparo foi o silêncio, pois em seguida, o véu se rasgaria de alto a baixo

D) O silêncio do Apocalipse 8 –  Há uma grande expectação, pois o julgamento virá e não tardará. 
att, Pr Marcelo Oliveira 

 

 

Qual o sentido real de “Siló” em Gn 49.10?

Gênesis 49.10 é o verso de uma das estrofes das profecias de Jacó, a respeito de seus doze filhos. De Judá se fala nos v. 8-12. Essa tribo é apresentada em termos que dão ideia de elementos bélicos, quando lemos, por exemplo: “a tua mão estará sobre a cerviz de teus inimigos” (v. 8), e Judá é leãozinho […] como leão […] quem o despertará?’ (v. 9). O v. 10 enfatiza o papel futuro de Judá como líder real sobre todas as demais tribos de Israel e, possivelmente, sobre nações estrangeiras também.

Lemos o seguinte: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre os seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos” [‘ammîm]. Há grande ênfase na bravura militar e no status real dessa tribo estabelecida como a principal, havendo afirmação clara de que esse aspecto de realeza prossiga até o aparecimento da figura-chave a que se dá a denominação de Siló. O cetro e o bastão de legislador estarão nas mãos dessa tribo até que venha o pacificador.

Surge, porém, a pergunta: Quem é, ou que é Siló? O Targum aramaico traduz o v. 10 assim: “Até que venha o Messias, a quem pertence o reino”. Parece que isso identifica um título do Messias, mas aponta também para uma interpretação desse nome que envolve a frase “quem a ele” ou “a quem”.  A Septuaginta, que data do século III a.C.,  traduz assim essa cláusula: “Até que venha as coisas que foram preparadas (apokeimena) para ele”. Isto contém a sugestão de que Siló era interpretado como se houvesse uma pontuação vocálica diferente, isto é,  sellô (“alguém a quem”). As traduções do gego, de Aquila e Simaco, do segundo século d.C.  redundaram num texto mais sucinto: “aquele para quem se estocou”, ou “se reservou”, usando-se o mesmo verbo grego, mas na forma apokeitai.

Não podemos encerrar esta temática sem mencionar antes uma passagem paralela bastante intrigante de Ezequiel 21.27 que aparentemente se refere a Gênesis 49.10:  “Ao revés, ao revés, ao revés porei aquela coroa, e ela não mais será, até que venha aquele a quem pertence de direito; a ele a darei”.  [ Jerusalém prestes a ser atacada por Nabucodonozor em 586 a.C ]. Também isto não existirá mais [ ou “não acontecerá (ló hayah)], até que venha aquele a quem pertence o direito; e a ele a darei”. 

Na declaração de Ezequiel encontramos hammishpat (“o direito de julgamento”), substituindo o conceito de “cetro” em Gn 49.10. Portanto, se Ezequiel 21.27 tenciona edificar sobre o alicerce de Gn 49.10 e revelar sua aplicação última ao Messias – como é que parece aplicar-se em Ezequiel – que descenderá da casa real de Judá, estaremos pisando em solo firme ao interpretar Gn 49.10 como sendo referência ao Filho divino, Jesus Cristo, o descendente messiânico de Davi. 

Pr Marcelo Oliveira

Fonte: Archer, Gleason. Enciclopédia de Dif. Bíblicas. Editora Vida. 

 

Nem Monge nem Executivo!

É moda entre os evangélicos citar monges como modelo de espiritualidade. Apesar de permanecerem idólatras, são mostrados como exemplos para nós. Por exemplo, Philip Yancey, que exibe grande ressentimento contra tradicionais, é mestre em exaltar monges. Nesta esteira veio o livro O monge e o executivo, de James Hunter, tido como uma “bíblia” de liderança.

 

Quando vi o livro de Paul Freston, Nem monge nem executivo, gostei e adquiri. Pelo título e por Freston, que combina espiritualidade e brilho intelectual. Li de uma assentada. É um livro de meditações nos evangelhos. Analisando personagens que se relacionaram com Jesus, começando por Maria, Freston mostra como suas vidas foram radicalmente modificadas. Ao invés de olhar para homens como modelos de espiritualidade, ele acena com o modelo de vida de Jesus. Não trata de liderança, mas como Jesus é um modelo de espiritualidade invertida, uma espiritualidade serviçal. Freston não combate o livro de Hunter. Nem eu. Li O monge e o executivo, aprendi com ele, e vejo valor nele. Mas Jesus é realmente fantástico. Um homem absolutamente despreocupado consigo mesmo, sem qualquer desejo de dominar. Na realidade, um antilíder, pois sua preocupação maior era de ser servo.

 

Jesus é o maior líder, o maior vulto da história. Escolheu doze homens sem relevância social, numa região atrasada, subdesenvolvida, e trabalhou com eles por curtos três anos. Foi traído por um deles e abandonado pelos demais. Foi morto com requintes de crueldade, sob intensa zombaria. Não deixou uma linha escrita. Mas mais livros se escreveram sobre ele que sobre qualquer outro personagem. Mais músicas se compuseram sobre ele que sobre qualquer tema. Sua maior viagem não ultrapassou 300 km. Mas marcou o mundo. Fundou um movimento que chamou de “minha igreja”, e que tem atravessado os milênios, duramente perseguida. Até mesmo por gente que diz segui-lo. Há gente na igreja que serve ao inimigo: odeia-a. Muitas vezes seus seguidores o desonraram e fizeram coisas erradas em seu nome. E ele continua como o maior homem que já existiu.

 

Ninguém recuperou mais vidas que ele. Ninguém reconstruiu mais lares que ele. Ninguém encheu os homens de esperança e vigor para uma vida correta mais que ele. Gosto de Beethoven, mas não morreria por ele. Gosto de Machado de Assis, mas não sofreria por ele. Não apenas eu como milhões de pessoas morreriam por Jesus, vendo isto como privilégio.

 

Jesus é o modelo. Um líder que não aprendeu com monges. Era menos executivo e mais office boy: sua preocupação era fazer a vontade do Pai. Nunca usou as pessoas como trampolim para seu ego, mas deu a vida por elas. Ninguém chega aos seus pés.

Sim, nem monge nem executivo. Jesus.

Pr Isaltino Gomes

O SALMO MAIS TRISTE DA BÍBLIA

Hemã, filho de Joel, foi um dos músicos do templo durante o reinado de Davi (1 Cr 6.33; 2 Cr 35.15) e é o candidato mais provável à autoria deste salmo. A segunda opção é Hemã, filho de Maol, um dos sábios durante o reinado de Salomão (1 Rs 4.31). Os termos hebraicos mahalat e leannoth significam “enfermidade” e “para cantar” ou “para humilhar”, respectivamente. É provável que a primeira palavra se refira a uma melodia triste para acompanhar esse cântico melancólico, enquanto a segunda palavra pode identificar o propósito do salmo: nos humilhar diante do Senhor.

 

Este é o último salmo dos “filhos de Corá” e, talvez, o cântico mais lastimoso de todo o livro. No texto hebraico, o salmo termina com a palavra hoshek, “trevas”, e não encerra com um tom de triunfo, como acontece com outros salmos que começam com sofrimento e perplexidade. Este salmo fala de trevas (vv. 1,6,12,18), da vida à beira da morte (vv. 5,10,11), da sensação de estar afogando (vv. 7,16,17), da solidão (vv. 5,8,14,18) e da prisão (v. 8).

 

Hemã era um servo de Deus que experimentava sofrimento intenso, sem compreender o motivo de sua aflição. Ainda assim, perseverou em suas orações a Deus e não abandonou a sua fé.

 

Buscando o ETERNO pela fé (Sl 88.1,2) – A vida de Hemã não havia sido fácil (v. 15), agora, torna-se ainda mais difícil, a ponto de ele sentir que está à beira da morte (vv. 3,10,11). Mas ele não desiste! Continua confiando em Deus, ao qual se dirige como “Senhor”, quatro vezes nesta oração (vv. 1,9,13,14). Iavé é o nome do Senhor que enfatiza sua relação de aliança com seu povo, e Hemã era um filho dessa aliança. Ele também se dirige ao Senhor como “Deus Elohim” – designação que expressa seu poder.

A expressão “Deus da minha salvação” indica que Hemã havia confiado que o Senhor o salvaria, e o fato de orar dessa maneira mostra que sua fé ainda está viva. Em três ocasiões, o texto diz que ele clamou ao Senhor e, para isso, são usadas três palavras diferentes: verso 1 – “um clamor por socorro em meio a grande aflição”; verso 2 – “um grito alto”; verso 13 – “um clamor de angústia”. A oração de Hemã é fervorosa. Ele crê que Deus pode ouvir suas súplicas e fazer maravilhas (vv. 10,12), um Deus que o ama e que é fiel a seu povo (v.11).

 

Dizer ao ETERNO como nos sentimos (vv. 3-9) – Não há lugar para a hipocrisia na oração pessoal. Um dos primeiros passos para o reavivamento é a mais completa transparência ao orar e a determinação de não dizer ao Senhor coisa alguma que não seja verdadeira e sincera. Hemã confessa que sua alma “está farta de males” e que se sente como um “morto-vivo”. Não tem forças e se sente abandonado pelo Senhor.

Hemã, também diz ao Senhor que Ele é responsável pelos males que aflige seu servo! A mão de Deus o colocou na cova (sheol), e a ira de Deus flui sobre ele como as ondas do mar. Ele não tem riquezas, não tem luz, não tem amigos – e sente como se não tivesse Deus! É um prisioneiro sem qualquer esperança de escapar. Como Jó, Hemã deseja saber o motivo desse sofrimento que lhe sobreveio.

 

Defender nossa causa diante do ETERNO (vv. 10-14) – O argumento de Hemã é simplesmente de que sua morte privará Deus da grande oportunidade de demonstrar seu poder e glória. Que serventia Hemã teria para o Senhor no sheol? Os espíritos dos falecidos não se levantam no mundo dos mortos para obedecer às ordens do Senhor (cf. Is 14.9-11), mas Hemã pode servir ao Senhor na terra dos vivos (cf. Sl 30.8-10). Antes de ir ao santuário para auxiliar no culto, Hemã ora pedindo que o Senhor conceda restabelecimento e forças, e, no final de um dia atarefado, volta a orar.

Durante seu ministério diário, ouve a benção sacerdotal: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha  misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26), mas não recebe! Sente-se rejeitado e sabe que o rosto de Deus não está voltado para ele. Ainda assim, ele continua orando!

 

Esperar pela resposta do ETERNO (vv. 15-18) – Não sabemos o que foi essa aflição que lhe sobreveio ainda em sua juventude, mas é triste pensar que sofria todos os dias e o dia todo (vv. 15-17). Nem sequer conseguia se lembrar de uma época em que desfrutasse de boa saúde. Os vagalhões que quase o afogam (v. 7) transformaram-se em ondas abrasadoras de tormento (v. 16).

A escuridão é sua amiga, pois o esconde dos olhos daqueles que observam seus sofrimentos e talvez digam (como fizeram os amigos de Jó): “Deve ter pecado grandemente para que o Senhor o aflija de tal modo!”. Mas ele continua orando e buscando o socorro de Deus!

“Embora ele me mate, ainda assim esperarei nele” (Jó 13.15). “Eu creio que verei a bondade do Senhor na terra dos viventes. Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique o seu coração; espera, pois, pelo Senhor” (Sl 27.13,14). O ETERNO sempre tem a última palavra, e ela não será “trevas”. Quando estamos em trevas, não devemos jamais duvidar daquilo que o Senhor nos ensinou na luz.

Pr Marcello Oliveira

Bibliografia: Kidner, Derek. Salmos 73-150, Introd. e Comentário. Ed. Vida Nova

Agostinho, Santo. Comentário aos Salmos. Ed. Paulus

Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora

 

 

Quem é responsável pela morte de Jesus?

Quem foi o responsável pela morte de Jesus? Nós cristãos somos acusados de anti-semitismo porque alega-se tentamos fixar a culpa nos judeus, especialmente seus líderes. A responsabilidade pela crucificação de Jesus, no entanto, é muito mais abrangente; não se limita a apenas um grupo de pessoas.

Os evangelistas deixam claro que Judas, os sacerdotes, Pilatos, a multidão e os soldados, todos desempenharam um papel significativo no drama. Além disso, sugere-se em cada caso mais de um motivo. Judas foi movido pela ganância; os sacerdotes, pela inveja; Pilatos, pelo medo; a multidão, pela histeria; e os soldados, pela obrigação insensível. Reconhecemos a mesma mistura de pecados em nós.

O mesmo verbo grego é usado em cada etapa. A palavra grega paradidômi, que pode significar entregar, liberar, desistir ou mesmo trair. Judas entregou Jesus aos sacerdotes. Estes o entregaram a Pilatos, que o entregou à vontade da multidão, que, por sua vez, o entregou para que fosse crucificado.

Mas esse é apenas o lado humano da história. Jesus insistiu que sua morte era um ato voluntário de sua parte, de modo que Ele se entregou a ela: “Ninguém tira a minha vida, mas eu a dou por minha espontânea vontade” (Jo 10.18). E em algumas passagens o verbo paradidômi reaparece. Por exemplo, “o Filho de Deus… me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20). Entretanto, há ainda mais uma perspectiva a ser considerada, a saber, a ação de Deus, o Pai ao entregar seu Filho à morte. Por exemplo, Deus é descrito como “aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” (Rm 8.32).

Finalmente, há uma passagem em que os aspectos divinos e humanos da morte de Jesus são considerados juntos. Pedro pregou: “Este homem lhes foi entregue por propósito determinado e pré-conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens perversos, o mataram, pregando-o na cruz” (At 2.23).

Neste texto a morte de Jesus é atribuída de igual modo ao propósito de Deus e à perversidade dos homens. Não se faz tentativa alguma no sentido de equacionar o paradoxo. Ambas as declarações são verdadeiras.

Marcelo Oliveira

Bibliografia: Wiersbe. Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora.

Stott, John. A Bíblia Toda, Ano Todo. Ed. Ultimato.

A perigosa influência da televisão no séc XXI

Não porei coisa má diante dos meus olhos. Odeio a obra daqueles que se desviam; não se me pegará a mim. (Salmos 101.3) 

A televisão trouxe inúmeros benefícios à sociedade. A comunicação tornou-se precisa, ágil e global. Ela encurtou as distâncias, democratizou a informação e abriu os canais do conhecimento para todos, em todos os lugares do mundo. Não obstante os grandes benefícios trazidos por ela, ela, também, pode tornar-se um grande perigo para a sociedade.

Temos percebido sua poderosa influência, quando mal usada, torna-se extremamente perigosa. A TV brasileira está em decadência. Os valores morais estão sendo pisoteados. As banalidades infiltram-se em milhões de lares todos os dias. A vergonha, a imoralidade, a violência, a falta de respeito são ingredientes para alavancar a audiência.

O renomado teólogo e escritor John Stott, no seu livro Eu creio na pregação, alerta sobre alguns perigos da televisão:

  1. A preguiça mental – A televisão tende a tornar as pessoas mentalmente preguiçosas. Ela atrai, seduz e vicia e manipula as pessoas. É surpreendente a quantidade de tempo que as pessoas passam diante da televisão. Em média as pessoas gastam de três a cinco horas por dia diante da televisão. A televisão torna-se um vício, e esse vicio leva as pessoas a se tornarem passivas. Elas deixam de pensar e  tornam-se preguiçosas mentalmente. A televisão tende a destruir nas pessoas a capacidade da crítica intelectual, produzindo nelas uma verdadeira flacidez mental.

 

  1. A exaustão emocional – A televisão tende a tornar as pessoas emocionalmente insensíveis. As tragédias do mundo inteiro são despejadas dentro da nossa casa, e não tempos tempo para analisarmos todas essas coisas. No afã de mostrar a realidade, a televisão torna-se formadora de opinião, induzindo as pessoas às mesmas práticas que ela divulga. A violência e a imoralidade andam juntas na televisão. Dessa forma, ela não apenas retrata o que existe na sociedade, mas torna-se uma mestra dessas nulidades.

 

  1. A confusão psicológica – A televisão tende a tornar as pessoas psicologicamente confusas. Ideias, conceitos , valores e filosofias tende são despejados diante das pessoas, e muitas vezes elas não têm o discernimento necessário para filtrar o que é certo e errado. A perda do sendo crítico e a incapacidade de avaliar o que está por trás da propagandas, das telenovelas, dos filmes e até mesmo de alguns documentários e noticiários produzem uma confusão psicológica de graves conseqüências.

 

  1. A desorientação moral – A televisão tende a deixar as pessoas em desordem moral. A vastas maioria dos programas, especialmente aqueles que dão mais ibope, estão lotados de valores éticos e morais distorcidos e até mesmo nocivos para a família. A violência veiculada na televisão é uma verdadeira escola do crime. A telenovelas fazem apologia da infidelidade conjugal. Os valores morais absolutos são tripudiados, e a flacidez moral é enaltecida. Aqueles que se viciam na televisão alienam-se dentro de casa, matam a comunicação familiar e intoxicam com conceitos liberais e permissivos que conspiram contra a família e provocam verdadeira confusão moral.

 

  1. O esfriamento espiritual – A televisão tende a deixar as pessoas apáticas espiritualmente. Muitas pessoas trocam o culto devocional pela televisão. As mulheres amam as novelas. A tela cheia de cor e brilho ocupa o lugar da oração e da Palavra de Deus. A comunhão com Deus e com a família é substituída pelo vicio da televisão.

 

O Eterno nos ajude a discernimos os tempos de frouxidão e liberalismo moral que estamos vivendo.

Marcelo de Oliveira

Bibliografia:  STOTT, John. Eu creio na pregação. Editora Vida

LOPES, Hernandes Dias. Mensagens Selecionadas. Ed. Hagnos