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Se Deus é bom, por que existe o mal?

Talvez você já ouviu falar do “Problema do Mal”. A expressão se refere à mais difícil pergunta da história da teologia cristã: Se Deus é onipotente e bondade, por que ele permite a existência do mal e do sofrimento? Afinal, o que quer a expressão “Problema do Mal”? Antes de tudo, é importante reconhecermos que o mal não é necessariamente um problema no sentido filosófico do termo. O conceito de problema pode ser invertido aqui. Por exemplo, uma perspectiva pessimista e ateísta que afirma a realidade do mal como experiência básica da realidade e nega o divino e o bem, teria de enfrentar o “problema do bem”. Explicando melhor: “se o universo não tem propósito e é absurdo (como sugerem alguns existencialistas ateus, por exemplo), como explicar a experiência do belo, do inefável e do prazer”? Não seria esse um grande problema filosófico? Como disse o famoso biblista autraliano Francis I. Andersen: “A rigor, a desgraça humana, ou o mal em todas as suas formas, é um problema somente para a pessoa que crê num Deus único, onipotente e todo amoroso”. Isso significa que outras religiões e filosofia não enfrentam um dilema, no sentido de terem de explicar a existência do mal. Mesmo assim, o mal ainda permanece um problema para todos os sistemas de pensamento por causa da questão do sofrimento.

A tentativa cristã de lidar com esse tripé “Deus todo-poderoso”, “Deus todo-amoroso” e “existência do mal”, mostrando que a despeito do mal, Deus continua justo, bom e poderoso foi historicamente denominada Teodicéia. A palavra foi cunhada em 1710 pelo filósofo alemão Gottfried Leibnitz (1646-1716). Seu sentido é “justificação de Deus” (do grego theós “Deus” e dikê “justiça”). A dificuldade do problema foi bem definida pelo filósofo escocês David Hume (1711-1776) numa retomada do antigo filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.). Conforme escreveu David Hume: “As antigas perguntas de Epicuro permanecem sem resposta. Quer ele (Deus) impedir o mal, mas não é capaz de fazê-lo? Então ele é impotente (i.e, não é onipotente). Pode ele fazê-lo, mas não o deseja? Então ele é malévolo. Não é ele tanto poderoso como o deseja fazê-lo? De onde, pois, procede o mal?

O problema do mal também é discutido e compartilhado pelo judaísmo e islamismo. A importância da discussão na tradição judaica foi expressa por Nachmânides quando se referiu ao problema do mal como “a questão mais difícil que se encontra tanto na raiz da fé quanto da apostasia, com a qual estudiosos de todas as épocas, povos e línguas têm lutado”.

 Historicamente, na tentativa de construir-se essa explicação que procura manter a justiça de Deus diante do mal, vários tipos básicos de teodicéia foram elaborados. Os principais tipos respondem ao problema assim:

A Teoria do Livre-arbítrio

              É a posição clássica das religiões monoteístas. Ela afirma que Deus permite o mal e o utiliza para fins bons. Deus permite o mal para produzir um bem maior. Nunca foi elaborada solução mais razoável e esperançosa do que a judaico-cristã. Para explicar a origem do mal, afirma-se que o mal sempre seria uma possibilidade, visto que Deus criou seres dotados de vontade livre. E para que fossem de fato livres, e não máquinas, tais seres sempre teriam a possibilidade de optar contra a vontade de Deus, dando assim origem ao mal. Portanto, a única saída para a impossibilidade plena do mal seria a inexistência de seres pessoais livres, o que nos daria um universo mecanicista, composto de seres impessoais, destituídos de arbítrio. Os defensores dessa posição ainda argumentam que Deus apenas permite o mal, o que é diferente de ser autor direto do mal, por razões e finalidades boas que não compreendemos plenamente agora. Evidentemente, a força desses argumentos depende de suas pressuposições. O argumento teísta clássico afirma que o mal pode ter início no bem, embora isto nunca seja de modo essencial. Não há derivação essencial do bem para o mal. Isso é compreensível, pois segundo o teísmo clássico o mal não existe enquanto substância, conforme mostrou Agostinho, ou seja, o mal não possui existência plena. É como a ferrugem que atinge o ferro. Não existe um ferro totalmente enferrujado, pois esse deixaria de existir. Assim como a ferrugem existe em função do ferro como elemento parasita e destruidor, também o mal só existe em função do bem.

A Teoria Pedagógica

 

Numa teodicéia pedagógica o enfoque é deslocado da origem do mal e é colocado principalmente nos possíveis bons resultados da experiência do sofrimento. A idéia é que a experiência do sofrimento (mal) é um benefício indispensável para o desenvolvimento das capacidades humanas, do contrário a humanidade permaneceria eternamente na infância. Argumenta-se, por exemplo, que um pouco de sofrimento aumenta a nossa própria satisfação com a vida e que um sofrimento maior e mais intenso desenvolve em nós uma maior profundidade de caráter e de compaixão. Além disso esta posição enfatiza a realidade de que vivemos em um mundo regulado por leis naturais e que boa parte do mal existente no mundo decorre da atuação destas leis. Deveria Deus ter criado um mundo desprovido de ordem natural para satisfazer a vontade de cada um? Isso seria bom? Todavia, há duas grandes dificuldades aqui: 1) nem sempre o sofrimento produz maturidade e aprendizado. Muitas vezes o que fica é ódio e amargura; 2) em alguns casos não há muito o que aprender e o preço pago é muito alto. Quando milhares de pessoas morrem em uma guerra, devemos perguntar: que tipo de pedagogia é essa que mata seus próprios alunos?

A Teoria Escatológica

 

Uma teodicéia escatológica diz que há esperança para o problema, pois ela está baseada na convicção de que a vida transcende a morte e que justiça e injustiça receberão sua devida recompensa. As perspectivas variam desde uma esperança entre o inaugurar de uma nova história humana por meio da ressurreição ou ainda como uma vida em um reino celestial após a morte. O futuro tem a resposta e a solução do que acontece no presente. Apesar de essa ser uma das esperanças mais enfatizadas pelas religiões monoteístas, muitos descartam esta possibilidade e questionam que tipo de reparação pode haver pela desgraça atual. Alguém que teve sua família arruinada e assassinada repentinamente pode de fato ter tal sofrimento “reparado”? Será possível isso?

A Teoria da Teodicéia Protelada

             

 É uma postura de expectativa e fé em Deus a despeito do mal. A fé na soberania e bondade finais de Deus espera a compreensão de todas as questões. A diferença entre essa teodicéia e a teodicéia escatológica é a seguinte: na teodicéia protelada espera-se mais uma compreensão do que uma compensação final do mal. Argumenta-se que as limitações humanas e a tremenda distância que separa Deus do homem não nos permitem conhecer as razões da permissão do mal agora. Deve-se destacar ainda que tal posição também é diferente da idéia que sugere ser impossível avaliar o comportamento de Deus.

A Teoria da  Teodicéia de Comunhão

             

Para muitos, a experiência do sofrimento leva o homem a encontrar motivos para romper com o divino. Essa é, por exemplo, a fonte do ateísmo, do agnosticismo e do antagonismo religioso. A Teodicéia de Comunhão enfatiza que Deus é principalmente percebido e conhecido no sofrimento. O Deus verdadeiro é aquele que se compadece. É o Deus que sofre com suas criaturas e que, de certa forma, é vítima do  mal,  juntamente com elas. Esta teodicéia não explica o sofrimento imerecido. Todavia, transforma a visão sobre o sofrimento, pois o sofrer por um propósito justo é fazer a vontade de Deus e torná-lo conhecido. O sofrimento é a grande oportunidade para Deus e o homem entrarem em comunhão e colaboração. O sofrimento é transcendido e aquilo que parecia ser o pior é visto como a ocasião da mais intensa experiência religiosa.

A Rejeição da Resposta Cristã

No panorama da história, muitas correntes de pensamento apresentaram soluções alternativas para o problema, sem a intenção de justificar a Deus. Vamos apresentar um resumo daquelas posições filosóficas que tratam o problema do mal com um enfoque distinto do teísmo ou da teodicéia. As diversas propostas de resolução das relações entre o divino e o mal serão delineadas, destacando os seus principais representantes.

Alguns Negam a Existência do Mal

  

O Mal é visto como ilusão. Essa perspectiva é encontrada em conceitos monistas e panteístas. A tensão entre Deus e o mal é resolvida pela negação do mal. A cosmovisão hindu (ensinos Vedanta), Zenão (336-274 a.C.) e Spinoza (1632-1677) são exemplos desta perspectiva. Spinoza, por exemplo, chega a afirmar que o mundo parece cheio de mal apenas porque é visto de uma perspectiva humana estreita e errônea. Da perspectiva divina, porém, o mundo forma um todo necessário e perfeito. A dificuldade dessa posição é provar que os sentidos não merecem confiança alguma, visto que eles apontam para a realidade objetiva do mal. Além disso, os defensores dessa perspectiva precisam responder por que tal “ilusão” é tão comum e se mostra persistente na história humana? Que conhecimentos nos levam a tal conclusão? Seria tal conclusão uma ilusão também?

Alguns Negam a Existência de Deus

  Essa é a perspectiva do ateísmo. É a negação da realidade de Deus. Os ateus opõem-se diretamente aos “ilusionistas”. Afirmam a realidade do mal com base nos sentidos e negam a realidade de Deus, cuja existência é incompatível com o mal. O pensamento ateísta sistematizado desenvolveu-se nos últimos dois séculos de história da filosofia ocidental, fruto do racionalismo. Os principais argumentos ateístas são: 1) Deus e o mal são mutuamente excludentes: se o mal existe, logo Deus não pode existir; 2) Se Deus existisse, ele não seria Deus propriamente dito, pois carece de bondade por permitir o mal; 3) Se Deus existisse ele não seria Deus propriamente dito, pois carece de poder visto que permite o mal.

  Essa perspectiva é encontrada no budismo que pressupõe uma alienação entre o homem e o universo. O universo é impessoal e opera por causa e efeito. Não existe a figura de Deus, o sofrimento decorre da vontade humana e a sua solução se dá de maneira individual e existencial. Por isso o budista anseia pelo estado impessoal no nirvana. Esse pessimismo também encontra exemplos no pensamento grego clássico. Hegesias de Cirenaica ensinava ser a vida sem valor e que o único bem, que nunca seria alcançado, seria o prazer. Todavia esse pessimismo não marca o pensamento helênico propriamente dito que, de modo geral, acreditava na vitória sobre o mal por meio da virtude e da sabedoria.

   É no pensamento europeu contemporâneo que encontraremos um exemplos dessa posição: Arthur Schopenhauer (1788-1860). Há também filósofos existencialistas ateus que enfatizam o absurdo da realidade, vendo o homem como um ser sem saída. Os principais são Jean Paul Sartre (1905-1980) e Albert Camus (1913-1960), famoso por sua obra “A Peste”. Schopenhauer cria que a realidade última é a cega vontade irracional de viver que a todos impulsiona. Tal vontade transcendental é essencialmente má, particularmente pelo fato de haver criado o nosso corpo com desejos que não podem ser satisfeitos. O sofrimento é causado pelo desejo incessante que nunca pode ser plenamente atendido. A dor e a ilusão são inevitáveis. A maior tragédia humana é o fato de ter o homem nascido.

  Entre o pensamento judaico-cristão e as alegações ateístas têm surgido propostas problemáticas e incompletes que merecem ser mencionadas.

  1. Negação da bondade de Deus. Deus pode ser poderoso, mas é visto como mau e comprometido com a desgraça e o sofrimento.
  2. Negação do poder de intervenção de Deus. O bem não tem poder infinito sobre o mal. Essa é a posição deísta, da teologia do processo e do teísmo aberto. Fundamenta-se na realidade da persistência do mal. O bem parece não ter poder para destruí-lo.
  3. Negação do poder original de Deus. Deus foi obrigado a criar um mundo mau. Deus, sendo limitado, tinha necessidade de criar um mundo e não pode impedir que este fosse mau.
  4. Negação da onisciência divina. Deus não podia prever o mal. Deus é criador, e justo, mas não é plenamente onisciente.
  5. Negação da imanência divina. Deus não pode ser avaliado pelos nossos padrões morais. Desse modo não é necessário defender sua conduta. Suas ações estão numa esfera de atuação que não podemos julgar.

 

A verdade é que o Problema do Mal permanece como a questão mais difícil da história da teologia. As outras tentativas de resolve-lo parecem apenas tê-lo complicado ainda mais. A esperança cristã continua afirmando uma mistura das teodicéias aqui apresentadas. Mas a sua essência ecoa por toda a história: Deus permite o mal e o utiliza para fins bons, e Deus permite o mal para produzir um bem maior. Por isso, vivemos pela fé e sempre na esperança.

Autor: Pr. Luis A.T. Sayão

As 5 hipóteses sobre a Estrela de Belém

A palavra áster, do grego (como afirmam os exegetas), podendo designar estrela, outro astro qualquer ou fenômeno luminoso, abre margem para cinco hipóteses que podem ser formuladas em relação à Estrela de Belém.

De forma sucinta apresentaremos essas cinco hipóteses:

Primeira hipótese:

O sinal luminoso, visto no céu de Belém, pelos magos, consistiu na conjunção de dois planetas – Júpiter e Saturno. Poderia ocorrer uma conjunção planetária tríplice: Mercúrio, Júpiter e Saturno. E neste caso, o brilho aparente do conjunto seria maior. Essa hipótese, admitida pelo astrônomo alemão J. Kepler, é denominada hipótese Kepleriana, ou ainda, hipótese de Kepler.

Segunda hipótese:

A suposta estrela que atraiu a atenção dos magos era o planeta Vênus (Estrela Vésper) que, em certo período, é visto com brilho excepcional logo depois do pôr do Sol. Vênus, na sua fase de Estrela Vésper é também chamada estrela Pastor. Sendo a hipótese mais poética e, certamente, a mais simples, é a mais fraca de todas. Essa hipótese é chamada hipótese naturalista.

Terceira hipótese:

Acreditam alguns comentadores que o astro citado por Mateus (Mt 2.2), não era propriamente uma estrela, mas sim um cometa. E quem sabe não foi o próprio cometa de Halley? Essa hipótese é atribuída a Orígenes (202-254), escritor cristão e foi recentemente apreciada pelo padre Lagrange. Tendo em vista o autor que a sugeriu, podemos, portanto, denomina-la hipótese de Orígenes.

Quarta hipótese:

Uma estrela do tipo que os astrônomos denominam Estrela Nova, aparecida na época do nascimento de Cristo, teria impressionado os astrólogos do Oriente e levado os magos até Belém. Essa Nova cintilou durante alguns dias e depois, desapareceu para sempre. Essa hipótese é denominada hipótese racionalista.

Quinta hipótese:

A quinta e última hipótese é a seguinte: a chamada Estrela dos Magos, foi um sinal luminoso que, pela vontade soberana de Deus, brilhou no céu da Palestina. Temos assim, a chamada hipótese do Sinal Milagroso.

Nele, o El Mistáter

Pr Marcelo Oliveira

O significado dos nomes de Deus

Nunca na história da igreja evangélica brasileira falou-se tanto sobre os nomes de Deus. Já existem até diversos hinetos que desfilam uma grande variedade de nomes divinos, muitas vezes cantados no idioma hebraico (nem sempre correto). Além dessa tendência, deve-se acrescentar o fato de que diversos nomes de Deus têm sido usados com freqüência de maneira quase que mágica no contexto evangélico atual. É só pronunciar este ou aquele nome divino para se conseguir a realização de qualquer desejo, conforme alguns.

A questão dos nomes e seus significados na Bíblia, particularmente os nomes de Deus, certamente merece atenção diante da grande desorientação hodierna. Inicialmente é preciso destacar que o propósito fundamental das Escrituras é revelar Deus ao ser humano. Portanto, os nomes de Deus na Bíblia têm a finalidade de revelar-nos o caráter e os atributos do próprio Deus. Cada nome divino revela-nos como Deus deseja ser conhecido por nós. Falam-nos sobre quem Deus é e como ele age em relação ao homem. É por este motivo que Deus aparece com vários nomes nas páginas sagradas.

Cada um desses nomes revela uma característica específica de Deus. Portanto, os nomes divinos não são “fórmulas mágicas” que funcionam de maneira pragmática. Não podemos tratá-los como “varas de condão” que fazem as coisas acontecer. Esse tipo de raciocínio equivocado têm levado muitas pessoas a acreditar que o simples “pronunciar” de um nome divino “libera” alguma energia espiritual poderosa. Nada pode estar mais longe da verdade. O nome divino tem real valor por causa do próprio Deus. O uso mágico do nome de Deus ou de Jesus não funciona, como não funcionou no caso dos filhos de Ceva (At 19.14-16).

Nem todos sabem que diferentemente da visão bíblica, o pensamento mágico pagão acreditava no poder autônomo da palavra mágica. A idéia pagã é que o mundo é regido por forças e poderem ocultos que podem ser domesticados por quem descobre certas fórmulas ocultas. Esta é a idéia do “abracadabra” e do “abre-te-sésamo”. No pensamento bíblico é Deus quem age, e não o homem que o controla por meio de fórmulas.

Talvez a maior confusão na prática esteja no mal uso da frase “o que vocês pedirem em meu nome, eu farei” (Jo 14.14 – NVI). A palavra de Jesus não significa que basta mencionarmos o seu nome, e tudo acontecerá automaticamente. Pedir alguma coisa “em nome de Jesus” significa pedir alguma coisa segundo a vontade de Deus (1Jo 5.14). Pedir em nome de Jesus é pedir o que Jesus pediria. Pedir em seu nome é como “agir por procuração”: não é a minha vontade que será feita por meio de Jesus, mas sim a vontade dele que se realizará por meio da minha oração.

Deus é descrito de maneira específica por diversos nomes hebraicos no Antigo Testamento. Entre eles merecem especial destaque os termos Elohim, Javé e Adonai. Elohim (e El) é o nome hebraico genérico para Deus. Seu significado etimológico é “força, poder”, e refere-se a Deus como criador, como ser transcendente e como Deus acima de todos os outros. Uma curiosidade interessante sobre o nome Elohim é que se trata de um substantivo em forma plural no hebraico; todavia o verbo que o acompanha na frase aparece no singular. Já o nome El é usado para compor outros nomes divinos (como El Shadai) e também para formar nomes hebraicos comuns como Daniel e Samuel.

Já o nome Adonai refere-se ao senhorio de Deus. O significado literal é senhor, mas nunca é usado para se referir ao homem. Adonai destaca a soberania também a plena soberania de Deus. Não há dúvida de que o nome que mais define o próprio Deus é Javé. O termo hebraico seria YHWH. Os judeus deixaram de pronunciar o nome divino por respeito, e a pronúncia perfeita se perdeu. Por esta razão as consoantes do nome YHWH receberam as vogais de Adonai, o que veio a gerar o nome Yehowah, conhecido em português como Jeová. Todavia, os estudiosos hoje concordam, principalmente com base nas antigas transliterações gregas, que o nome divino seria Yaweh, ou seja, Javé em português. Infelizmente nossa tradição consagrou o SENHOR como tradução de um nome tão específico e particular de Deus.

O significado de Javé é “Eu Sou” ou “Sempre estarei sendo”, ou como gostam os judeus “o Eterno”. A forma é uma abreviação do “Eu sou o que sou” dito por Deus a Moisés em Êxodo 3.13,14. Javé é o nome pessoal do Deus vivo que age na história de seu povo. É o Deus da aliança com o povo que sai do Egito, destacando a imanência divina. Por isso destaca-se em Javé o seu amor e a sua fidelidade para com o seu povo. Até hoje os judeus evitam pronunciar o nome mais sagrado de Deus para não usá-lo em vão. Podemos imaginar a dificuldade dos mesmos diante da declação de Jesus em João 8.58 que afirmou “Eu sou”. A identificação de Jesus com Javé ficou mais do que clara.

Além disso, Deus é descrito na Bíblia por alguns outros nomes, muitos nomes compostos e diversas metáforas e figuras. Todavia, segue uma boa lista dos principais nomes divinos que aparecem na Bíblia e com o seu significado:

El Kanah – Deus Zeloso

El Guemulot – Deus das recompensas

El Guibbor – Deus Valente, poderoso

El Elyon – Deus Altíssimo

Autor: Prof. Luis Sayão

Adaptado por: Marcello de Oliveira

Fonte: PrazerdaPalavra

A mulher samaritana e o “7º marido”

Com tantas mulheres em Samaria, todas precisando igualmente da água viva, por que Jesus se encontra justamente com uma mulher que já tinha 5 maridos e que, agora, vivia com o 6º que não era seu esposo?

A razão é emblemática: os 5 ex-maridos da samaritana representavam os 5 povos pagãos que povoaram Samaria, cada povo com seu “deus” diferente; apesar dos seus “5 deuses”, os samaritanos não eram felizes. Os samaritanos só passaram a viver em segurança quando se converteram ao Deus de Israel (II Rs 17.24-39).

Todavia, toda religiosidade posterior dos samaritanos acabou se apoiando em doutrinas de homens, como aconteceu em todo o Israel (Mt 15.9). Visto que o ser humano foi criado no 6º dia, o nº 6 passou a representar o número do homem na Bíblia.  A samaritana vivia com o 6º homem que não era o seu marido.  Jesus é o 7º homem que aparece na vida daquela mulher, e ele é Deus, o marido perfeito (Is 54.5).

Logicamente que não estou dizendo que Jesus se casaria com aquela mulher. Por analogia, todo o vazio que aquela mulher possuía em seu coração e, buscava em tantos homens, somente o Deus-homem, poderia satisfazer o seu coração.

Como aquela samaritana também a humanidade tem muitas relações religiosas, amorosas, fruto de um relacionamento puramente humano e carnal, mas somente em Jesus – o homem Perfeito que é Deus – o ser humano pode desfrutar da verdadeira felicidade e ter seus anseios satisfeitos.

Nele, a Água da Vida

Pr Marcelo Oliveira

Glória Revelada

Assim o nome de nosso Senhor Jesus será glorificado em vocês, e vocês nele. (1 Ts 1.12)

As duas cartas de Paulo aos tessalonicenses contêm muitas referências à Parousia, ou seja, à volta pessoal, visível e gloriosa de Cristo. De fato, em cada um de seus oito capítulos há uma menção a esse evento. É particularmente impressionante as repetidas referências à glória de Cristo no primeiro capítulo da 2º Carta aos Tessalonicenses.

Primeiro, o Senhor Jesus será revelado em sua glória (vv. 7). Na verdade, a palavra glória não aparece nesse versículo, mas está implícita. A Parousia não será um acontecimento insignificante, ao contrário, será um evento de esplendor cósmico, que inspirará temor.

Segundo, o Senhor Jesus será glorificado em seu povo (vv.10). Ou seja, a revelação de Sua glória não será somente visível (para que possamos vê-la), mas será também entre o seu povo (para que possamos compartilhá-la). As duas glorificações (de Cristo e a nossa) acontecerão simultaneamente, embora a ênfase do apóstolo não esteja tanto na glorificação dos salvos, mas na glorificação do Salvador nos salvos.

Terceiro, aqueles que deliberadamente rejeitarem a Cristo serão excluídos de sua glória (v. 8-9). Este destino terrível é descrito como destruição e exclusão. A tragédia implícita é que os seres humanos, criados por Deus, à imagem de Deus e para Deus, passarão a eternidade sem Deus, irrevogavelmente banidos de sua presença. Em vez de brilharem com a luz de Cristo, sua luz se extinguirá nas trevas exteriores. O apóstolo coloca uma solene alternativa diante de nós: a participação ou a exclusão da glória de Jesus Cristo.

Quarto, enquanto isso, Jesus Cristo deve começar a ser glorificado em nós (vv. 12). A glorificação de Jesus no meio do seu povo e a consequente glorificação do povo de Deus não acontecerá repentinamente, no dia final. O processo começa agora. Na verdade, ele precisa começar agora para chegar de maneira apropriada ao fim quando Cristo voltar. Naquele dia, o processo que está em andamento agora não será repentinamente revertido; ao contrário, ele será confirmado e completado.

Nele, que em breve virá

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Stott, John. A Bíblia Toda, Ano Todo. Ed. Ultimato

                         Lopes, Hernandes Dias. 1 e 2 Tessalonicenses. Ed. Hagnos

Os 5 degraus da restauração de Pedro

No post anterior analisamos os degraus da queda de Pedro, agora estudaremos sobre os 5 degraus da sua restauração. Pedro caiu por agir por si mesmo; Pedro foi restaurado quando se voltou para o Senhor. Só de nós vem a nossa ruína; só do Senhor, a nossa restauração. Caminhe comigo e vejamos os passos que Pedro deu rumo à restauração.

1. O olhar penetrante de Jesus (Lc 22.61)

Jesus olhou para Pedro exatamente no momento em que ele estava negando, jurando e praguejando, insistindo em dizer que não conhecia Jesus. Os olhos de Jesus penetraram na alma de Pedro e radiografaram as mazelas do seu coração. Aquele foi um olhar de tristeza, mas também de compaixão. Quando Jesus olhou para Pedro, este se lembrou da palavra do Senhor e, ao lembrar-se dela, encontrou uma âncora de esperança e o caminho de volta para  a restauração.

O olhar de Jesus é cheio de ternura e misericórdia. Basta um olhar dele, e toda a dureza de nosso coração se derrete. Seu olhar penetra as câmaras mais interiores da nossa vida. Seu olhar produz em nós arrependimento para a vida. Seu amor nos traz de volta para o verdadeiro sentido da vida.

2.  O choro amargo pelo pecado (Mt 26.75; Lc 22.62)

Os evangelistas nos informam que Pedro, saindo dali, chorou amargamente (Mt 26.75; Lc 22.62) e, caindo em si, começou a chorar (Mc 14.72). Logo que as lágrimas do arrependimento rolaram pelo rosto de Pedro, seus pés se apressaram a sair daquele ambiente. Pedro deu quatro passos rumo à restauração: 1) caiu em si; 2) saiu dali; 3)começou a chorar; 4) chorou amargamente. O choro do arrependimento desemboca na alegria do perdão.

Pedro não chorou o choro do remorso, nem verteu as lágrimas da dissimulação. Ele jogou fora o veneno das suas mazelas. Assim, demonstrou verdadeiro arrependimento.

3.  O recado especial de Cristo (Mc 16.7)

Segundo o texto de Mc 16.7, o anjo de Deus que estava assentado sobre a pedra que fechava o túmulo de Cristo e testemunhou às mulheres que Ele havia ressuscitado, entregou também a elas um recado: “…ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia. Ali o vereis, como Ele vos disse”. Por que Jesus mandou este recado especial para Pedro? Porque Jesus sabia que a essa altura Pedro não se sentia mais digno de ser um discípulo. Pedro havia negado seu nome, sua fé, suas convicções, seu apostolado e seu Senhor.

É maravilhoso saber que Jesus não abre mão do direito que tem de ter-nos para Ele. Ele não abdica do seu direito de ter-nos totalmente. Podemos até cair e pensar em desistir de tudo, mas Jesus jamais desiste de nos amar. Mesmo quando somos infiéis, Ele permanece fiel.

4.  O impacto do túmulo vazio (Lc 24.11,12)

Quando Pedro foi informado de que o túmulo de Jesus estava vazio, ele correu e entrou no sepulcro e, ao ver os lençóis de linho, retirou-se para casa, maravilhado do que havia acontecido. O poder da ressurreição foi mais um instrumento que Deus usou para levantar Pedro da sua queda. O triunfo de Cristo sobre a morte, o diabo e o inferno deixou Pedro maravilhado. A mesma mão que abriu o túmulo de Cristo abriu também os olhos de Pedro.

Pedro tornou-se um pregador ousado depois da sua restauração. Sua mensagem central era mostrar que o Cristo que foi crucificado triunfou sobre a morte. A ressurreição de Cristo tornou-se a grande bandeira da mensagem de Pedro.

5.  A pergunta especial de Cristo (Jo 21.15-17)

Pedro saiu de Jerusalém e foi para a Galiléia como Cristo ordenara. Naquela longa jornada, a consciência de Pedro o acusava. Ele pensou que Cristo iria lançar-lhe em rosto o seu fracasso. Mas a única pergunta de Cristo a Pedro foi: “Simão, filho de João, tu me amas?” Essa pergunta foi repetida três vezes, porque três vezes Pedro negou a Cristo. O Senhor não humilhou Pedro. Ele não esmaga a cana quebrada nem apaga o pavio que fumega. Jesus não lançou no rosto de Pedro seus fracassos. Antes, deu-lhe a oportunidade de reafirmar seu amor e reiniciar o seu ministério.

È interessante perceber a riqueza do original grego, pois Jesus usou a palavra ágape nas duas primeiras perguntas: Agapas me. Pedro respondeu a ambas: Philos se. Phileo descreve um amor de amigo, inferior ao amor ágape. Pedro tinha sido autoconfiante antes de sua queda. Agora, havia aprendido a lição. Não ousava fazer promessas para depois quebra-las. Na terceira pergunta, Jesus mudou a palavra. Perguntou-lhe: Phileis me?  Ou seja, Pedro você gosta de mim? Pedro entristeceu-se e deu a mesma resposta: Philo se.

Jesus é tão cuidadoso em seu amor que armou o mesmo cenário da queda de Pedro para restaurá-lo. O evangelho de João só descreve duas fogueiras. A primeira foi o palco da queda de Pedro; a segunda, o cenário da sua restauração. Cristo queria curar as memórias amargas de Pedro. Ali onde tudo havia começado, deveria ser o lugar mais apropriado do seu recomeço.

Nele, em que a restauração sempre será maior e melhor do que a queda,

Autor: Hernandes Dias Lopes

Adaptado por:  Marcelo Oliveira

 

 

Rui Barbosa, um gênio desconhecido e esquecido

Sua vida foi marcada pelo espanto, pela admiração, pelos elogios de todas as pessoas que constatavam os indícios de genialidade daquele meninozinho de olhos brilhantes. Ele era dotado de uma tão grande capacidade de memorizar o que aprendia, e se expressava com tanta clareza e firmeza de argumentos, que encantava e conquistava a admiração de todos.

 Todos paravam para ver aquela poderosa inteligência em ação. Ele só tinha cinco anos de idade quando, em Salvador, o professor Antônio Gentil Ibirapitanga, que lhe ensinou a ler e a escrever, comentou: “Este menino de cinco anos é o maior talento que eu já vi. Em quinze dias ele aprendeu análise gramatical, é capaz de distinguir orações e conjugar todos os verbos regulares.”

OS PRÓPRIOS RIVAIS ELOGIAVAM SUA INTELIGÊNCIA 

 Dezenas de grandes homens o elogiaram ao longo de sua vida. Até seus rivais, seus inimigos, durante as mais acaloradas disputas políticas, jurídicas ou filológicas, muitas vezes não se continham e proferiam uma frase de admiração e espanto diante da genialidade de Rui Barbosa. 
 

Em 1902, durante a maior polêmica filológica da língua portuguesa, motivada por críticas que o então senador e jurista Rui Barbosa havia feito à redação do Código Civil, Rui foi refutado por ninguém menos que seu antigo mestre, o filólogo e famoso gramático Ernesto Carneiro Ribeiro, apoiado por um grupo de 21 competentes magistrados, liderados, por sua vez, pelo fenomenal jurisconsulto Clóvis Beviláqua.

 Rui duelou com todos eles, e os venceu esmagadoramente com sua assombrosa erudição, a ponto de no final Clóvis Beviláqua, o líder dos opositores naquela disputa, comentar, assombrado:

 “Ouvindo este homem, tenho a impressão de que não estou diante de um ser humano, e sim diante de um ciclope, um daqueles gigantes da mitologia grega que tinha um imenso olho no meio da testa. Com sua capacidade de ler, ler e ler, e armazenar como ninguém, tudo o que passa diante dos seus olhos, Rui é um desses ciclopes, um monstro dotado de poderes sobre-humanos de leitura, interpretação e memorização”.
    

Em 1885, em plena campanha abolicionista, José do Patrocínio, maravilhado diante da eloquência do baiano genial, comentou: “Deus acendeu um vulcão na cabeça de Ruy Barbosa.”
    

Em 1890 foi a vez do próprio imperador D. Pedro II reconhecer: “Nas trevas culturais que caíram sobre o Brasil, a única luz que alumia, no fundo da nave, é o talento extraordinário de Ruy Barbosa.”

Em suas memórias intituladas Minha Formação, o grande Joaquim Nabuco comentou: “Ruy Barbosa é hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país”.

TRADUTOR DA BÍBLIA
    

Entre inúmeras proesas intelectuais, Rui traduziu a polêmica e clássica obra O Papa e o Concílio, escrita por Janus. O curioso é que, ao prefaciá-la, superou o número de páginas da obra, e demonstrou ter mais conhecimento sobre o assunto que o próprio historiador Janus!

Compondo uma equipe de eruditos pastores e filólogos presbiterianos, Rui Barbosa traduziu a Bíblia dos idiomas originas para o português. Esse trabalho resultou na hoje conceituada e raríssima Tradução Brasileira da Bíblia.

UM GÊNIO ESQUECIDO E DESCONHECIDO

Porém, e infelizmente, o conhecimento da obra de Rui Barbosa é hoje privilégio tão-somente de juristas, de filólogos, de historiadores e de alguns literatos.

Consciente de tal fato, exporemos a seguir, criteriosa e seletivamente, um  trecho escolhido de sua obra, particularmente no que diz respeito ao grande exemplo e aos muitos incentivos que ele deixou aos jovens.

O CÉLEBRE DISCURSO PALAVRAS À JUVENTUDE
    

Começaremos apresentando os “melhores momentos” do seu célebre discurso “Palavras à juventude”, pronunciado diante de uma turma de alunos do colégio Anchieta, em São Paulo.

Após saudar as autoridades presentes, Rui se dirige aos alunos e, no seu insuperável estilo de orador sublime, descreve a suntuosa paisagem que se estende diante do colégio, as serranias, os longes azulados, as verdejantes florestas e os pássaros que, nas manhãs orvalhadas, acordam os alunos com os seus cânticos maviosos e livres. Após descrever a importância de se educar a mocidade, Rui ressalta o valor de quem se dedica a cumprir essa nobre missão.

 Em seguida, passa a tecer considerações sobre a responsabilidade da pátria na educação de seus filhos. Mas o que é a pátria?

 “A pátria não é ninguém: são todos, e cada qual tem no meio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não difamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo”.

Jefferson Magno Costa

Adaptado por: Pr Marcelo Oliveira

Os 4 degraus da queda de Pedro

Antes de Pedro tornar-se um apóstolo cheio do Espírito Santo, um pregador ungido e um líder eficaz, revelou sua fraqueza e chegou ao ponto de negar a Jesus. Pedro caiu, suas lágrimas foram amargas, mas sua restauração foi completa. A queda de Pedro passou por alguns estágios. A seguir, mostraremos os 4 degraus de sua queda.

1.  Autoconfiança (Lc 22.33)

Quando Jesus alertou Pedro acerca do plano de Satanás de peneirá-lo como trigo, Pedro respondeu que estava pronto a ir com Ele tanto para a prisão como para a morte. Pedro subestimou a ação do inimigo e superestimou a si mesmo. Ele pôs exagerada confiança no seu próprio “eu”, e aí começou sua derrocada espiritual. Este foi o primeiro degrau de sua queda.

Estamos vivendo o apogeu da psicologia de autoajuda. As livrarias estão abarrotadas de obras que nos ensinam a confiar em nós mesmos. O cristianismo diz exatamente o contrário. Somos fracos e limitados. Não podemos andar escorados no bordão da autoconfiança. Precisamos mais da ajuda do alto do que a autoajuda.

2.  Indolência (Lc 22.45)

O mesmo Pedro que prometeu fidelidade a Cristo e a disposição de ir com ele para a prisão e a morte, agora está cativo do sono no jardim do Getsemani no auge da batalha. Faltou-lhe a percepção da gravidade do momento. Faltou-lhe vigilância espiritual. Estava entregue ao sono em vez de guerrear com Cristo contra as hostes do mal. A fraqueza espiritual de Pedro fê-lo dormir e, ao dormir, fracassou no teste da vigilância espiritual.

As palavras de Pedro eram de confiança, mas suas atitudes, trôpegas. Promessas desprovidas de poder evaporam na hora da crise. O sono substituiu a autoconfiança. O fracasso se estabeleceu no palco da arrogância.

 3.  Precipitação (Lc 22.50)

Quando os soldados romanos, liderados por Judas Iscariotes e pelos principais sacerdotes, prenderam a Jesus, Pedro sacou sua espada e cortou a orelha do servo do sumo sacerdote. Sua valentia era carnal. Porque dormiu e não orou, entrou na batalha errada, com as armas erradas e a motivação errada. Pedro deu mais um passo na direção da queda. Ele deslizou mais um degrau rumo ao chão. Nossa luta não é contra carne e sangue. Precisamos lutar não com armas carnais, mas sim com armas espirituais.

Precisamos entrar nessa guerra com os olhos no céu e os joelhos no chão. Precisamos despojar-nos da autoconfiança para recebermos o socorro que vem do alto.

4.  Seguia a Jesus de longe (Lc 22.54)

Depois que Cristo foi levado para a casa do sumo sacerdote, Pedro mergulhou nas sombras da noite e seguia a Jesus de longe. Sua coragem desvaneceu. Sua valentia tornou-se covardia. Seu compromisso de ir com Jesus para a prisão e a morte foi quebrado. Sua fidelidade incondicional ao Filho de Deus começou a enfraquecer. Não queria perder Jesus de vista, mas também não estava disposto a assumir os riscos de sua ligação com Ele.

Ainda hoje há muitos crentes seguindo Jesus de longe. Ainda guardam certo temor de Deus, mas ao mesmo tempo anestesiam a consciência vivendo em práticas erradas. Dizem-se seguidores de Cristo, mas seus pés estão fincados nas sendas sinuosas que desviam do caminho da verdade. Dizem amar a Deus, mas suas atitudes e obras provam o contrário. Estão na igreja, mas ao mesmo tempo, estão no mundo. Freqüentam os cultos, mas o coração está longe do Senhor.

Ao  olharmos para a vida de Pedro, estamos diante do espelho. Muitas vezes somos como Pedro. Mostramos autoconfiança, não oramos, somos precipitados e, seguimos Jesus de longe. Todavia, não podemos perder o foco. O Eterno não desiste de nós, assim como não desistiu de Pedro. Como diz o lindo cântico: “Eu quero voltar ao primeiro amor”! Que seja assim, para a glória Dele.  Amém!

Rev. Hernandes D. Lopes

Adaptado por: Pr Marcello Oliveira

2011 – Ano da Cruz de Cristo !

“Jesus bradou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” Lc 23.46

Prezados leitores [as], a cada dia vemos o evangelho se transformando num produto, a igreja em um mercado, o púlpito em um balcão e os crentes em consumidores das bênçãos de Deus. Vemos com muita tristeza o empobrecimento dos púlpitos. Pregadores discursam seus sermões centrados no antropocentrismo e na autoajuda.

A cada entrada de ano, algumas igrejas estabelecem qual ano será: o ano de José, o ano de Abraão, ano de Samuel, ano de Gideão etc. Eu me pergunto: Quando teremos o ano da cruz de Cristo? Quando teremos o ano da pregação pura, bíblica e cristocêntrica? Quando teremos o ano do verdadeiro evangelho? Quando teremos o ano da volta às Escrituras?  São perguntas que parecem simples, mas que deveria causar em nós verdadeiro arrependimento e quebrantamento.

Voltando ao texto de Lucas 23.46, percebemos algo profundo. Nenhum dos 4 evangelistas disse que Jesus “morreu”. Eles parecem ter deliberadamente evitada a palavra. Não querem dar a impressão de que no fim a morte o reclamou e Ele teve de se render à sua autoridade. A morte não o reclamou como sua vítima; Ele a capturou como vencedor sobre ela.

Os evangelistas usam entre si quatro expressões diferentes, cada uma delas colocando a iniciativa no processo da morte de Jesus em suas próprias mãos. Marcos diz que ele “com um alto brado, expirou” (Mc 15.37) e Mateus afirma que ele “entregou o espírito” (Mt 27.50), enquanto Lucas registra suas palavras: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Todavia, a expressão de João, no entanto, é o mais contundente, a saber, que Ele “curvou a cabeça e entregou o espírito” (Jo 19.30). O verbo usado aqui no original é  paradidomi, que foi usado por Barrabás, pelos sacerdotes, por Pilatos e pelos soldados que “entregaram” Jesus.

Agora João o coloca nos lábios do próprio Jesus, que entrega o espírito ao Pai e o corpo à morte. Notemos que antes de fazer isso ele “curvou a cabeça”. Não que Ele tenha primeiro morrido e então sua cabeça tenha caído sobre o seu peito. Foi o contrário. O curvar a cabeça foi seu último ato de entrega à vontade do Pai. Assim, em palavra e em obra (ao curvar a cabeça e ao declarar que estava entregando o espírito), Jesus afirmou que a sua morte foi um ato voluntário seu.

Jesus poderia ter escapado da morte no último minuto. Como disse no jardim, Ele poderia ter convocado mais de doze legiões de anjos para resgatá-lo. Poderia ter descido da cruz, como os que dele zombavam o desafiaram a fazer. Mas Ele não fez isso. Por sua livre e espontânea vontade Ele se entregou à morte. Foi Ele quem determinou a hora, o lugar e o modo de sua partida.

As duas últimas palavras da cruz (“está consumado” e “entrego o meu espírito”) proclamam Jesus como vencedor sobre o pecado e a morte. Devemos vir humildemente à cruz, merecendo nada a não ser o juízo, implorando por nada a não ser a misericórdia, e Cristo nos libertará do pecado e do pavor da morte.

Nele, o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo

Pr Marcelo Oliveira 

P.s>>> Lançei a campanha no twitter:  #AnodaCruzdeCristo. Divulgue em sua timeline. O meu endereço é @Davarelohim. Juntos pelo evangelho bíblico!

Bibliografia: Stott, John. A Bíblia Toda, Ano Todo. Ed. Ultimato 2007

                  Boyce, James e Philip, Ryken. O coração da cruz. Ed. Cultura Cristã

Igreja: Culto ou Missões ?

Uma igreja só pode ser verdadeiramente missionária se for verdadeiramente adoradora e vice-versa.[1] Orlando Costas acerta quando diz que “o culto está intrinsecamente relacionado com a ação de Deus na história e a conversão das nações ao Deus trino e uno”.[2]

E ainda:

O culto, em sua dimensão humana, surge da missão. É o resultado espontâneo da experiência da redenção. Do mesmo modo, a missão deve ser vista como um acontecimento cultual, porquanto celebra o que Deus tem feito por homens e mulheres em Jesus Cristo e os chama a receber e compartilhar o dom da graça de Deus.[3]

Um dos maiores males que têm assolado, dividido e enfraquecido a igreja evangélica brasileira em nossos dias são os constantes debates em torno da tarefa prioritária da igreja. E não estamos nos referindo à questão da evangelização e responsabilidade social, outro assunto desnecessariamente polarizado.[4] Ao contrário, estamos falando da dicotomia existente entre culto e missões. E a discussão não é se a igreja deve adorar ou evangelizar (embora às vezes é o que de fato acontece), mas sim, o que deve ser considerado em primeiro lugar.

As opiniões são as mais variadas e extremistas até. De um lado temos os que insistem que “missões são a segunda mais importante atividade no mundo”, ou que “missões existem porque o culto não existe”. Do outro lado, tem quem afirme ser “um absurdo dizer que muitas são as responsabilidades da igreja. Igreja é missões”. Para os defensores da primeira posição, só o fato do culto ser dirigido a Deus e as missões aos homens já definiria, por si só, a questão da prioridade da igreja. Os defensores da segunda posição argumentam, por sua vez, que é preciso mais que adoração. “É preciso ter paixão pelos perdidos e obedecer ao Ide de Jesus”. Será que precisamos mesmo priorizar uma tarefa em detrimento da outra, como temos visto na prática? Será que podemos afirmar que culto é mais importante que missões ou vice-versa? Mais uma vez contamos com o argumento equilibrado de Orlando Costas:

Não existe dicotomia alguma entre culto e missão. O culto é a reunião do povo enviado ao mundo para celebrar o que Deus fez em Cristo e está fazendo mediante a participação deles na ação testemunhal do Espírito. A missão é a culminação e antecipação do culto. No culto e na missão a comunidade redimida dá evidência concreta do fato de que é, ao mesmo tempo, um povo de oração e testemunho”.[5]

Vemos, então, que o culto deve levar a igreja a fazer missões (cf. At 2.42-47), e missões, por sua vez, devem levar os perdidos a prestarem culto a Deus (cf. At 13.44-49); pois uma adoração que não leva a igreja a evangelizar não passa de mera contemplação, e uma evangelização que não leva os pecadores a adorarem a Deus está fora dos propósitos do próprio Deus. “A liturgia sem missão é como um rio sem manancial, a missão sem culto é como um rio sem mar. Ambos são necessários. Sem um o outro perde sua vitalidade e significado”.[6] Culto e missões são tarefas primordiais da igreja. Devem caminhar lado a lado se queremos fazer justiça ao nome de Deus. São tarefas distintas que se completam. Os dois lados, por assim dizer, de uma mesma moeda. Não são fins em si mesmos; são, porém, meios para se chegar ao fim que é o de “glorificarmos a Deus e nos alegrarmos nele para sempre”.

É claro que, quanto à duração, missões são temporárias e a adoração é eterna, continuará no céu; mas enquanto estamos neste mundo não temos o direito de priorizar uma tarefa em detrimento da outra. O Deus que exige ser adorado é o mesmo que ordena seu povo a pregar o evangelho a todas as etnias do mundo. E mesmo que a evangelização seja dirigida ao homem, não significa que seja uma invenção humana. Deus é o autor do culto e de missões e requer uma e outra coisa de nós. Por isso, como igreja de Jesus Cristo, não podemos deixar de trabalhar e adorar.

“Alguns trabalham sem se preocupar em adorar a Deus, outros o adoram sem trabalhar, porém, o cristão autêntico tanto adora como trabalha” (Allan H. Ferry).

Pr Josivaldo de França Pereira


[1] Segundo Orlando Costas, “a prova de uma vigorosa experiência cultual será a participação dinâmica na missão: a prova de um fiel compromisso missionário será uma profunda experiência de culto” (Orlando E. COSTAS, Compromiso y misión. San José-Costa Rica: Editorial Caribe, 1979, p. 151).

[2] Idem, p. 150.

[3] Ibidem.

[4] Cf. Evangelização e responsabilidade social. 2a ed. São Paulo-Belo Horizonte: ABU Editora/Mundo Cristão, 1985, p. 17-25.

[5] COSTAS, op. cit., p. 150.

[6] Idem, p. 150,151.