As três bençãos que encerram a tefillah são chamadas “bençãos de agradecimento” porque nela prevalece o tema do reconhecimento e da gratidão a Deus. Na realidade, das três bençãos, só a do meio desenvolve explicitamente o tema do agradecimento, enquanto as outras duas retomam o tema da invocação, pedindo a Deus respectivamente a restauração do culto do Templo e a realização do shalom, da paz.
Historicamente, estas três bençãos tiveram sua origem na liturgia do Templo, fato este que explica sua unidade e dinamismo. A primeira benção era um pedido de aceitação dos sacrifícios. Quando o Templo foi destruido no ano 70 d.C., ela foi modificada substancialmente, transformando-se em uma invocação, pedindo a Deus que aceitasse a oração da sinagoga e restaurasse o serviço sacerdotal. A segunda permaneceu uma prece de agradecimento, enquanto a terceira retoma e conclui a benção dos kohanim (“sacerdotes”) sobre o povo, no final dos sacrifícios das oferendas.
A primeira destas bençãos é chamada avodah (“serviço”), porque nela se pede a Deus o restabelecimento do culto divino em Jerusalém; a segunda é chamada hodayah (“agradecimento”) porque desenvolve o tema da gratidão pelos benefícios recebidos de Deus; finalmente a terceira é denominada birkat ha-shalom (“benção da paz”) porque suplica a Deus prosperidade e bem-estar. Já que em algumas ocasiões, esta última benção é precedida da benção sacerdotal , ela é também denominada birkat kohanim (“benção dos sacerdotes”).
Apesar de serem diferentes os temas desenvolvidos nas bençãos, a tradição hebraica gosta de definir todas as três como “bençãos de agradecimento”. O motivo é que todo sentimento de gratidão é necessariamente ligado ao atendimento da oração e ao dom da paz. Realmente só pode agradecer aquele a quem Deus escutou e inundou de paz. Assim sendo, a benção central é tida como o eixo de gravidade das três bençãos finais, cujo sentido é resumido e condensado no termo modim (da raiz yhd).
Os comentadores gostam de observar que este termo tem três significados principais. Modim, antes de mais nada, significa “prostrar-se”, “inclinar-se” (de onde a prescrição de fazer uma inclinação no início e no fim desta benção); em segundo lugar significa “reconhecer”, “confessar”; finalmente “ser grato”, “agradecer”. Uma vez que chegam ao final de sua tefillah, a comunidade repete o seu gesto de adoração, confissão e de agradecimento, a única triplice atitude de toda oração verdadeira.
Pr Marcelo Oliveira
Texto interessante e muito esclarecedor caríssimo pastor.