As palavras de Jesus registradas em Mateus 8.22 e Lucas 9.60, são consideradas ásperas e muitas vezes mal compreendidas: ” […] deixa aos mortos enterrar seus mortos”. Esses evangelhos colocam as palavras num contexto em que certos discípulos explicam o porquê de não poderem deixar de imediato suas respectivas situações e seguir a Jesus. Nesse exemplo específico, um discípulo pediu permissão para ir primeiro enterrar seu falecido pai. Conforme entendido pelos leitores modernos, a aparente negativa de Jesus mostra-se um tanto irracional quanto desnecessariamente severa. Alguns comentaristas tentam atenuar a declaração, interpretando-a como “deixe os espiritualmente mortos enterrarem os fisicamente mortos”, mas isso iria contradizer o quinto mandamento da lei mosaica, que diz: “Honra teu pai e a tua mãe …” e a responsabilidade judaica de providenciar um sepultamento apropriado conforme ordenado em Dt 21.22,23
Todavia, quando interpretados à luz da informação arqueológica concernente às práticas de sepultamento do 1º século judaico, o pedido do discípulo e a resposta de Jesus podem ser vistos sob uma ótica diferente. O enterro judaico no tempo de Jesus consistia de dois sepultamentos e [o segundo] acontecia pelo menos um ano depois. O primeiro conhecido como “ser reunido aos seus pais”) era dentro da cova da família, seguido por um período de pranto. O segundo era dentro de uma caixa de ossos (ossuário), geralmente com os resquícios de outros membros da família, quando a carne estava decomposta. O que parece estar em foco no registro do evangelho é o segundo sepultamento (conhecido como ossilegium). A réplica de Jesus ao discípulo que desejava uma licença de 11 meses antes de iniciar o serviço não se referia apenas à prolongada ausência, mas especialmente ao aspecto não bíblico do segundo sepultamento.
O sepultamento imediato (“reunir-se aos seus pais”) é retratado na Bíblia (cf. Gn 49.29; Jz 2.10; 16.31; 1 Rs 11.21,43), mas nos tempos do Novo Testamento esse conceito havia adquirido um outro significado teológico. De acordo com as fontes rabínicas, o ato de decomposição tinha um efeito purificador, fazendo a expiação pelos pecados do falecido. A consumação desse processo espiritual era o ritual do segundo sepultamento. Uma vez que Jesus seguia o ensino bíblico de que somente Deus faz expiação (sobre a base da fé na redenção sacrifical), sua declaração corrigia essa prática imprópria. Poderíamos então interpretar as palavras em Lucas 9.60 […] como:
“Olhe, você já honrou seu pai dando-lhe um sepultamento apropriado na tumba da família. Agora, ao invés de esperar que a carne se decomponha, o que não pode expiar o pecado, vá pregar o evangelho do reino de Deus […] o único meio de expiação. Deixe os ossos dos ancestrais do seu falecido pai reunirem-se aos dele no ossuário! Quanto a você, siga-me!”
Pr Marcelo de Oliveira
Será?
Também tenho minhas dúvidas quanto a isso, mas também não posso negar que faz sentido o que o texto diz…
Paz seja contigo
O sr. poderia me indicar as fontes bibliograficas para que eu possa aprender um pouco mais sobre esta tradição judaica que foi motivo do artigo assim como outras?
Desde ja obrigado
Paz do Senhor pastor,
Poderia me passar as fonte bibliográficas para eu possa aprender mais sobre essa tradição judaica, e que possa acrescentar mais em meus estudos.
Em Cristo,
Jucielde Pereira
OTIMO O ESCLARECIMENTO…
Pastor o sr. poderia me dar a bibliografia ou as fontes que o sr usou. Grato