Category Archives: Exposição Bíblica

Provérbios 22.6 é garantia que os filhos de pais cristãos nunca se desviarão?

“Ensina a criança no caminho em que deve andar e, quando for velho, não se desviará dele” (Pv 22.6)

Antes de discutir a aplicação prática desse versículo, devemos examinar cuidadosamente o que ele diz na verdade. A tradução literal do texto hebraico: hannokh lanna’ar é: “ensina, treina o menino” (na’ar refere-se a um jovem, desde sua infância até a maioridade); o verbo hannakh não ocorre em outra passagem do A.T com o sentido de “treinar”. Normalmente significa “dedicar” (consagrar um templo ou uma casa; Dt 20.5; 1Rs 8.63; 2Cr 7.5), ou uma oferta (Nm 7.10). Parece que ele é cognato do egípcio h-n-k (“dar aos deuses, “marcar algo para culto divino”“.). Isso nos leva ao seguinte leque de significados: “dedicar a criança a Deus”, preparar a criança para suas futuras responsabilidades, exercitar ou treinar a criança para a idade adulta.

A seguir, chegamos ao que é traduzido “no caminho em que deve andar”. Literalmente está escrito “de acordo com seu caminho” (al-pî darkhô); al-pî (literalmente, “de acordo com a boca de”) em geral significa “segundo a medida de”, “de conformidade com” ou “de acordo com”. Quanto a darkhô, é a palavra que vem de derekh (“caminho”); isso pode se referir-se ao “costume generalizado de, segundo a natureza de, o modo de agir de, o padrão de comportamento de” uma pessoa.

Parece que o texto implica que o modo de instrução deve ser governado segundo o estágio da vida da própria criança, conforme suas inclinações pessoais, ou então, como as traduções padronizadas mostram, “de acordo com o modo que é próprio à criança” – à luz da vontade de Deus, segundo os padrões de sua comunidade, ou herança cultural.

Neste contexto altamente teológico, centralizado em Deus [(Iavé é o Autor tanto do rico como do pobre vs. 2); “O galardão da humildade e o temor do Senhor são riquezas, honra e vida [v.4]”.], não há duvida de que “no caminho em que deve andar” significa “seu caminho adequado, próprio”, à luz dos objetivos e padrões estabelecidos no verso 4, e tragicamente negligenciados pelo perverso no verso 5. No entanto, também existe uma conotação segundo a qual cada criança deve ser educada e treinada para o serviço de Deus, segundo as necessidades e características da própria infância.

A segunda linha diz: gam ki (“ e ainda quando”) yazqîn  (“for velho”) – “zaqen” significa “velho” ou um “ancião”), ló Yasur (“não se desviará”) mim-mennah (“dele”, do seu derek – caminho), que aparentemente fortalece a interpretação de “seu próprio caminho”, “padrão de comportamento”, ou “modo de viver” como homem de Deus bem treinado, ou bom cidadão em sua comunidade.

Tudo isso se resume, pois, num principio geral – e todas as máximas genéricas de Provérbios a respeito da conduta humana têm esse caráter. Provérbios não oferece regras e garantias absolutas para as quais jamais possa haver exceções. Antes, temos ali princípios mostrando que quando um pai piedoso dá a devida atenção à educação de seu filho, para que tenha responsabilidades necessárias, e viva de modo bem ordenado para Deus, tal genitor pode, com toda confiança, esperar que seu filho jamais se afaste do treinamento paterno que recebeu, e do exemplo de um lar em que o nome de Deus é reverenciado. Isso provavelmente ocorrerá a despeito de algum desvio temporário do fim da adolescência. Mesmo ao tornar-se um ancião, essa pessoa não se desviará do caminho em que foi educado. Outra interpretação sobre gam ki significa que a criança permanecerá fiel ao treinamento recebido por toda a sua vida, até à velhice.

 Conclusão.

Será que esse versículo nos fornece uma garantia real, de que todos os descendentes de pais tementes a Deus, conscienciosos, os quais vivem em nobreza de caráter, serão verdadeiros servos de Deus? Porventura, haverá filhos rebeldes, os quais voltarão as costas à educação cristã que receberam, e cairão na culpa e vergonha de uma vida dominada por Satanás? É possível que alguém interprete esse versículo dessa forma. Todavia, é muitíssimo duvidoso que o escritor sagrado inspirado por Deus quisesse estipular uma promessa de caráter absoluto, aplicável em todos os casos. As máximas de Provérbios têm o objetivo de constituir aconselhamento sadio, lógico e útil; não nos são apresentadas como promessas de sucesso infalível.

Nele, Pr Marcelo Oliveira

A graça que aterrorizou Pedro

Um leitor do meu site me enviou, de Vitória (ES), um livro de presente: Irmãos, nós não somos profissionais, de John Piper. Comecei a lê-lo e aprendi muito. No capítulo “Irmãos, conduzam as pessoas ao arrependimento”, Piper fala da reação dos homens à graça. Cita Lucas 5.1-10, onde Jesus ordena aos discípulos para se afastarem um pouco da praia e lançarem a rede. Pedro diz que eles trabalharam a noite toda e nada pegaram, mas à luz da ordem de Jesus, lançaria as redes.

Vieram tantos peixes que as redes começaram a romper-se e os dois barcos quase afundaram. Suas necessidades foram supridas além do que esperavam. Isto se chama graça. Até aí, sabemos bem. Mas Piper comenta a reação de Pedro: “A reação de Pedro foi notável, bem diferente da reação moderna e orgulhosa diante da graça” (p. 138). É mesmo. A graça aterrorizou Pedro: “Vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador. Pois, à vista da pesca que haviam feito, o espanto se apoderara dele e de todos os que com ele estavam” (vv. 9-10).

Quem prova a graça deveria se espantar e atemorizar. Há quem se orgulhe. Você já viu os títulos que as igrejas se dão? Viva, Renovada, da Verdade, Avivada, Do Poder, Da Prece Poderosa, Santa, sempre um título que as enaltece, mesmo quando menciona Deus. A idéia é que aquele grupo tem copyright dele. Ninguém funda uma igreja e a chama de Igreja dos Pecadores Miseráveis Salvos Pela Graça! Você já viu alguma Igreja dos Indignos? Já notou as orações de alguns: “Quero meus direitos”? Ora, o direito dos pecadores é o inferno. Temos nos esquecido da graça. Deus é movido pela sua graça. Não por nossos méritos.

Há muito orgulho, muito antigraça em nosso meio. Gente que se orgulha do templo da igreja, ou da sua receita financeira. Ou ainda do nível social da membresia. Isto é a negação do evangelho.

Alguns usam a graça como desculpa para pecar: “Deus é Pai, e não vai relevar o que eu fizer, porque pai acoberta os erros dos filhos”. Não é o que pensa a cultura contemporânea? A graça não induz ao pecado, mas constrange à santidade. Um Deus tão bondoso merece ser amado e honrado.  Outros usam a graça para se elevarem sobre os outros. São os “preferidos” de Deus, porque receberam mais favor. A graça não envaidece, mas quebranta, porque dá noção de nossa realidade. O orgulho espiritual nega ou torce a graça.

A graça aterrorizou Pedro! Exatamente por ser graça! Volto a Piper: “Pedro viu no milagre de Jesus um tesouro de esperança e alegria tão maravilhoso que ficou devastado diante da perspectiva de como sua vida estava fora de sincronia com tudo isso” (p. 140). A graça surpreende e choca. Não merecemos nada. Tudo é bondade, fruto da graça de Deus. Um dos termos para graça é o hebraico hen. É o ato de um superior que, frustrado com um inferior que o decepcionou e merece reprovação, trata-o com bondade.

Nós não somos bons e não temos motivo algum para nos gloriarmos. Nossas virtudes são trapo de imundícia: “Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Is 64.6). “Trapo de imundícia” alude aos absorventes menstruais que as senhoras da época usavam. Eles não eram guardados. Eram jogados fora, como sujos e inúteis. Nosso melhor é sujeira. Mas o melhor de Deus é graça. Graça não vê sujeira. Vê necessidade. Se você recebeu graça, não se envaideça. Glorifique a Deus. Sem por o foco em você, porque há muita glória a Deus que é glória ao homem.

Pr Isaltino Gomes Coelho

Adaptado por: Pr Marcelo Oliveira

A mensagem dos falsos profetas

Vivemos os últimos dias. Jesus no sermão da montanha advertiu que devemos ser cautelosos com os falsos profetas, porque, por trás da simpatia, da persuasão ou da inteligência deles, está o engano.

A advertência de Jesus (cf. Mt 7.15) aponta para o fato de não haver meio de nos acautelarmos, a menos que tenhamos um parâmetro para julgar o ensino dos falsos mestres. O único parâmetro é a verdade de Deus registrada nas Escrituras. Se você não conhece as Escrituras de maneira suficiente, os falsos profetas vão enganá-lo. Lembre-se que eles vêm disfarçados de ovelhas. Além disso, o perigo não é somente para você, mas, se você negligenciar o exame do ensino dos falsos profetas e mestres, permitirá que outras pessoas sejam enganadas por aqueles a quem Jesus chama de “lobos roubadores”. Ainda mais: se os “lobos roubadores” penetrarem em sua igreja, darão proteção a outros de sua espécie, e não às ovelhas de Cristo.

Observe o que diz 2Coríntios 11.4:

“Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais”

O conteúdo do ensino dos falsos profetas é perfeitamente claro no verso acima:

1)  Os falsos profetas apresentam um Jesus diferente

O “outro Jesus” pregado pelos profetas era muito diferente daquele pregado por Paulo. Certamente eles ensinavam uma heresia cristológica. Provavelmente, eles ultrapassaram a doutrina bíblica de Cristo; por isso, o Jesus era “um outro”. Eles estavam ensinando um conceito diferente sobre o Deus encarnado. Os crentes de Corinto estavam sendo enganados.

2) Os falsos profetas ensinavam um espírito diferente

Não vejo por que não entender esse “espírito” como não sendo a contraparte do “Espírito”, porque o texto diz: “aceitais o espírito diferente que não tendes recebido”. Esse “outro espírito”, em vez do Espírito Santo, estava controlando aqueles crentes. Eles estavam aceitando um espírito diferente do Espírito Santo, que devia ser recebido por eles. Novamente, os crentes de Corinto estavam sendo enganados.

3)  Os falsos profetas ministravam um evangelho diferente

Isso não era novidade. Paulo mencionou um evangelho diferente que os crentes da Galácia haviam abraçado (Gl 1.6). Os falsos profetas sempre quiseram perverter o ensino bíblico de Jesus aos crentes (Gl 1.7). Por isso, Paulo abomina esses falsos profetas, dizendo: “… se alguém vos prega evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1.9).

O Eterno nos conceda discernimento para que não sejamos enganados,

Pr Marcelo Oliveira

O acrisolamento de Deus

Em Provérbios 17.3 está escrito: “O crisol prova a prata, e o forno, o ouro; mas aos corações prova o SENHOR”. O crisol é um vaso de fundir metais, como prata e ouro. Do modo como o fogo prova a prata e o ouro a fim de purificá-los, Deus prova os corações, isto é, o íntimo do nosso ser.
As provações de Deus são testes de “fogo” para o nosso aperfeiçoamento espiritual. Uma experiência necessária a todos os filhos e filhas de Deus que inclui: perseguição, aprisionamento, opróbrio, pobreza, enfermidade, aflição e tristeza de alma. É uma experiência necessária porque, por meio dela, Deus se agrada de nós e glorifica o seu santo nome. Provados conhecemos melhor a nós mesmos e a bondade do nosso Deus.
Ainda que a provação em si seja algo difícil e desagradável, o resultado dela é motivo de alegria e gratidão a Deus. Tiago disse: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tg 1.2-4).
O Salmo 66.8-12 também nos fala algo importante acerca do acrisolamento de Deus: “Bendizei, ó povos, o nosso Deus; fazei ouvir a voz do seu louvor; o que preserva com vida a nossa alma e não permite que nos resvalem os pés. Pois tu, ó Deus, nos provaste; acrisolaste-nos como se acrisola a prata. Tu nos deixaste cair na armadilha; oprimiste as nossas costas; fizeste que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; porém, afinal, nos trouxeste para um lugar espaçoso”.
É preciso se manter íntegro e fiel a Deus na provação, pois, assim que tudo passar, desfrutaremos de “um lugar espaçoso”. Infelizmente nem todos estão aptos para aprender com o acrisolamento de Deus. Foi com pesar no coração que o Senhor disse a Judá: “Eis que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição” (Is 48.10; cf. Jr 6.27-30; 9.7-22).
Diferente do salmista que disse: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71).
Que Deus nos conceda, em Cristo Jesus, a graça de sermos provados e aprovados por Ele.
Josivaldo de França Pereira

John Piper fala sobre a experiência do batismo com o Espírito e a evidência das línguas

Enfatizando a Experiência do Batismo com o Espírito

Agora o lado positivo que quero dizer acerca do ensino pentecostal moderado (representado pelos Bennets) é que é correto destacar a realidade experiencial de receber o Espírito. Quando lemos o Novo Testamento de maneira honesta, não podemos evitar ter a impressão de uma vasta diferença de muitas experiências cristãs contemporâneas. Para os cristãos do NT o Espírito Santo era uma realidade de experiência. Para muitos cristãos hoje é realidade de doutrina. Certamente a renovação carismática tem algo a nos ensinar aqui. Em igrejas sacramentais o dom do Espírito Santo é virtualmente equiparado ao batismo nas águas. No evangelicalismo protestante é equiparado ao trabalho subconsciente de Deus na regeneração que você apenas tem porque a Bíblia te diz que você tem se você crer. É fácil imaginar um conselheiro espiritual dizendo a um novo convertido hoje: “Não espere notar nenhuma diferença; simplesmente creia que você recebeu o Espírito”. Mas tal coisa está longe do que vemos no NT. Os pentecostais estão certos em enfatizar a experiência de ser batizado com o Espírito.   

Quatro Razões Pelas Quais É Correto Enfatizar a Experiência

Eis aqui quatro razões extraídas de Atos.

1. Terminologia

O próprio termo “batizado com o Espírito Santo” (1.5; 11.16) implica uma imersão na vida do Espírito. “João batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito” Se o Espírito te cobre como um batismo, não podemos imaginar o Espírito entrando de maneira sorrateira e quieta enquanto você dorme e fazendo morada de maneira imperceptível. Essa pode ser a forma que se inicia (Paulo pode ter tido isso em mente em 1 Coríntios 12.13), mas se termina aí, Jesus e Lucas não chamariam tal coisa de batismo com o Espírito.

2. Poder, Ousadia e Confiança

Jesus diz em Atos 1.5 e 8 que o batismo com o Espírito significa: “mas recebereis a (virtude) poder… e ser-me-eis testemunhas”. Isso é uma experiência de ousadia, confiança e vitória sobre o pecado. Um cristão sem poder é um cristão que necessita do batismo com o Espírito Santo. Estou ciente de que em 1 Coríntios 12.13 Paulo diz que batismo com o Espírito é um ato de Deus pelo qual nós nos tornamos parte do corpo de Cristo na conversão, de maneira que em sua terminologia todos os que se converterem genuinamente foram batizados com o Espírito. Mas temos cometido injustiça em limitar o entendimento de Paulo do batismo com o Espírito Santo como este ato divino, inicial e subconsciente na conversão e então forçando toda a teologia lucana em Atos dentre desse pequeno molde. Não há motivo para pensar que até mesmo para Paulo o batismo com o Espírito Santo estava limitado ao momento inicial da conversão. E certamente no livro de Atos o batismo com o Espírito Santo é mais que um ato divino subconsciente de regeneração- é uma experiência consciente de poder (Atos 1.8).

3.  O Testemunho de Atos

Na verdade a terceira razão que me faz pensar isso é que quando pegamos uma concordância e procuramos em todas as passagens em Atos onde o Espírito Santo trabalha nos cristãos, nunca é de forma subconsciente. Em Atos o Espírito Santo não é uma influência silenciosa, mas experimentação de poder. Cristãos experimentavam o batismo com o Espírito Santo. Eles não apenas acreditavam que isso acontecia porque um apóstolo disse que tal coisa aconteceria.

4.  A Consequência da Fé

A quarta razão pela qual devemos enfatizar a experiência do batismo com o Espírito Santo é que em Atos os apóstolos ensinam que o batismo é uma conseqüência da fé, não uma causa subconsciente de fé. Como um calvinista convicto eu creio de todo coração que a graça de Deus precede e capacita a fé salvífica. Nós não iniciamos nossa salvação ao crermos em Deus. Deus inicia a salvação nos capacitando a crer (Efésios 2.8-9; 2 Timóteo 2.25; João 1.13). Mas este trabalho regenerador do Espírito de Deus não é o limite do que            Pedro quer dizer por batismo com o Espírito. Em Atos 11.15-17 Pedro relata como o Espírito Santo desceu sobre Cornélio assim como nos discípulos em Pentecostes: “E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio.E lembrei-me do dito do Senhor, quando disse: ‘João certamente batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito Santo’.Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse resistir a Deus?”Note que o dom do Espírito, ou batismo com o Espírito, é precedido pela fé. A versão NASB corretamente diz no versículo 17 que Deus deu o Espírito Santo após eles crerem. De maneira que o batismo do Espírito (v.16) ou o recebimento do dom do Espírito (v.17) não pode ser a mesma obra de Deus antes da fé que capacita a fé (que Luca fala em 2.39; 5.31; 16.14; 11.18; 15.10; 14.27). O batismo com o Espírito é uma experiência do Espírito dada após fé para fé.

Receber o Espírito é uma Experiência Marcante

É por isso que Paulo pode dizer em Atos 19.2 quando ele encontra os confusos discípulos de João Batista: “Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes?” O que um evangélico protestante contemporâneo diria em resposta a esta pergunta? Creio que diríamos algo como: “acho que nós automaticamente recebemos o Espírito Santo quando cremos. Não entendo como você pode me perguntar tal coisa?” Como Paulo pôde fazer esta pergunta? Ele a fez, penso, porque receber o Espírito Santo é uma experiência real. Há marcas na sua vida. E a melhor forma de testar a fé daqueles assim denominados discípulos é lhes perguntar acerca de sua experiência do Espírito. Isto não é diferente do que Paulo disse em Romanos 8.14: “Porque todos que são guiados pelo Espírito estes são filhos de Deus” (ver 2 Coríntios 13.5 e 1 João 3.24; 4.12-13). Eu, às vezes, temo que nós tenhamos redefinido tanto nossa conversão em termos de decisões humanas e que tenhamos retirado toda a necessidade da experiência do Espírito de Deus que muitas pessoas pensam que são salvas quando, na verdade, elas apenas possuem idéias cristãs em suas cabeças, não poder espiritual em seus corações.

Então, veja, a questão real que os carismáticos levantam para agente não é a questão das línguas. Em si mesma a língua é relativamente sem importância. A verdadeira contribuição valiosa  da renovação carismática é sua implacável ênfase na verdade que receber o dom do Espírito é uma experiência real marcante. O cristianismo não é meramente uma compilação de idéias gloriosas.  Não é meramente o desempenho de rituais e sacramentos. É uma experiência real marcante do Espírito Santo por meio da fé em Jesus Cristo, o Senhor do universo.

Duas Coisas que Caracterizam Esta Experiência

Poderíamos falar por horas acerca do que é a experiência. Na verdade, a maioria das mensagens são apenas isso, descrições da experiência do Espírito de Deus na vida do cristão. Mas eu mencionarei duas coisas do livro de Atos-coisas que marcam a experiência de ser batizado com o Espírito Santo ou de receber o dom do Espírito.

1. Um Coração de Adorador

Um é o coração de adorador. Em Atos 10.46 os discípulos sabiam que o Espírito Santo havia sido derramado, porque “os ouviam falar línguas e exaltar (ou magnificar) a Deus” Falar em línguas é uma forma particular de liberar o coração de exaltação. Ela pode ou não estar presente. Mas uma coisa é certa: o coração no qual o Espírito Santo foi derramado irá parar de se magnificar e começará a magnificar a Deus. Adoração sincera e louvor é a marca de uma experiência real do Espírito Santo.

2. Obediência

A outra marca que mencionarei é a obediência. Em Atos 5.29 Pedro e os apóstolos dizem aos saduceus que os haviam prendido: “Importa antes obedecer a Deus que aos homens.” Então no versículo 32 ele diz: “Somos testemunhas destas coisas, e bem assim o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem” (“Deu” é passado simples; “obedecer” é presente, presente contínuo) É inevitável que quando o objeto de adoração de nosso coração muda, nossa obediência muda. Quando Jesus te batizar com o Espírito Santo e te injetar um novo sentido da glória de Deus, você terá um novo desejo e um novo poder (1.8) para obeceder. Se você fala ou não em línguas, você experimentará estas duas coisas se for batizado com o Espírito Santo-um novo desejo para magnificar a Deus e uma disposição poderosa para obedecer a deus no cotidiano.

Tradução: Pr Wellington Mariano

http://www.desiringgod.org/resource-library/sermons/how-to-receive-the-gift-of-the-holy-spirit (acesso dia 31/05/2011)

Por que a maldição caiu sobre Canaã no lugar de Cam?

Todos os amantes das Escrituras já se depararam com uma pergunta inquietadora: Por que Canaã foi amaldiçoado no lugar de Cam? Visto que as maldições e bênçãos sobre os três filhos têm em vista seus descendentes, não é de estranhar que a maldição recaia sobre o filho de Cam, e não sobre o próprio Cam (Gn 9.18-22), especialmente em razão de Deus já haver abençoado este justo sobrevivente do dilúvio (Gn 9.1). Prezados leitores [as], quem pode amaldiçoar aquele que o Eterno abençoou?  Leia atentamente Gênesis 9.1

Como o filho mais jovem injuriava a seu pai, assim  a maldição recairá sobre seu filho mais jovem, que presumivelmente herda sua decadência moral (cf. Lv 18.3; Dt 9.3). Em adição aos cananitas, os descendentes de Cam incluem alguns dos inimigos mais ferrenhos de Israel: Filístia, Assíria, Babilônia (cf. Gn 10.9-13). Por trás da profecia de Noé está o conceito de solidariedade corporativa. A justiça de Noé é reproduzida em Sem e Jafé; sua imoralidade, em Cam. A imoralidade de Cam contra seu pai estará estigmatizada em seus descendentes; e a modéstia de Sem e jafé, nos seus.

O erudito Cassuto explica a expressão “servo dos servos” (Gn 9.25): ‘Os cananitas se destinavam a sofrer a maldição e a servidão não em decorrência dos pecados de Cam, mas porque eles mesmos agiam como Cam, em decorrência das suas próprias transgressões. A servidão de Canaã é espiritual, não apenas política. A maldição posta sobre Canaã o liga à maldição sobre a serpente (Gn 3.14) e sobre Caim (Gn 4.1). Entretanto, a maldição geral não é exceção. Como a cena deixa bem claro, a diferença entre os prospectos futuros dos irmãos ancestrais pertence à sua moralidade, não à sua etnia como tal.

A família da prostituta cananita Raabe virá a ser parte do povo da aliança (Js 2.14; 6.17-22; Mt 1.5; Hb 11.31), e a família do judeu Aça será eliminada (Js 7). Quando Israel se comporta como os cananitas, a terra os vomita dela também (2Rs 17.20).

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora

                          Waltke, Bruce e Cathi, Fredericks. Gênesis. Ed. Cultura Cristã

Cessaram os dons espirituais?

Os dons espirituais têm sido temas de acalorados debates na academia, na internet e principalmente nos blogs. Os dons espirituais não foram dados à igreja para projeção humana nem como aferidor da verdadeira espiritualidade. Os dons espirituais foram dados para a edificação do corpo de Cristo. Pelo exercício correto dos dons a igreja cresce de forma saudável. Os dons são recursos que o próprio Espírito de Deus concedeu à igreja para que ela pudesse ter um crescimento saudável e também suprir as necessidades dos seus membros.

Há pelo menos três posições em relação aos dons espirituais dentro da igreja:

  1. Os cessacionistas.  São aqueles que crêem que os dons espirituais registrados em 1Coríntios 12 foram restritos aos tempos dos apóstolos. Para estes os dons não são contemporâneos e nem estão mais disponíveis na igreja contemporânea.
  2. Os ignorantes.  São aqueles que não conhecem nada sobre os dons. Paulo orienta os coríntios para não serem ignorantes com  respeito aos dons espirituais. Havia pessoas na igreja que ignorava esse assunto, e por isso, não podia utilizar a riqueza dessa provisão divina para a igreja.
  3. Os que crêem na atualidade dos dons espirituais. São aqueles que crêem que os mesmos dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo no passado estão disponíveis para a igreja atualmente.

Amados, quem tem a última palavra? Nossos pressupostos, ou a infalível e inerrante Palavra de Deus?  Partindo do princípio que a Palavra de Deus é a nossa regra de fé e prática, abordaremos a questão, afirmando que os dons espirituais não cessaram. Eles são contemporâneos e estão disponíveis para a edificação do corpo de Cristo.

Veja o que Paulo disse em 1 Coríntios 12.4-6:

Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.

E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.

 E  há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.

Note que aqui, a Trindade está presente.  No versículo 4, Paulo se refere ao Espírito Santo; no versículo 5, a palavra Kyrios refere-se ao Senhor Jesus Cristo e no versículo 6, Paulo refere-se ao Deus Pai. Pelo contexto, Paulo ensina a igreja que eles haviam abandonado aos ídolos mudos e agora estava seguindo uma nova direção: A direção do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Depois de ensinar a mudança de direção que a igreja deveria seguir, o apóstolo falará sobre a natureza dos dons espirituais. No mesmo texto de 1Co 12.4-6, Paulo fala de “dons”, de “serviços” e de “realizações”. Isso nos fala da natureza dos dons espirituais. Ou seja, os dons têm uma tríplice natureza.

1)    Quanto à origem dos dons eles são chamados charismata. Paulo diz: “Ora os dons são diversos” (12.4). A palavra charismata vem de charis, graça. Assim, Paulo está falando da origem dos dons. O dom espiritual procede da graça de Deus. Ora se procede da graça de Deus, eles acabaram? Não! Se cessaram os dons, cessou-se a graça de Deus. Isto é impossível!  Os dons são originados na graça de Deus e são ministrados, doados e distribuídos pelo Espírito Santo. A origem dos dons nunca está no homem, mas sempre na graça de Deus.

2)   Quanto ao modo de atuar, o dom é diaconia. Paulo diz: “E também há diversidade nos serviços” (12.5). A palavra “serviços” no grego é diaconia. Isso se refere ao modo de atuação do dom que é prontidão para servir. Os dons são dados não para projeção pessoal, mas para o serviço.  Deus nos dá dons para servirmos uns aos outros e não para nos exaltarmos nossas virtudes ou habilidades. A finalidade do dom espiritual não é autopromoção, mas a edificação do próximo.

3)  Quanto à finalidade os dons são energémata. Paulo conclui: “E há diversidade nas realizações” (12.6). A palavra energémata vem de energia, de obras exteriores. É a energia (poder) de Deus operando nos cristãos e transbordando para a vida da comunidade. O dom espiritual é para ajudar alguém, fazer algo para alguém, trabalhar por alguém e realizar alguma coisa para alguém. Não é uma espiritualidade intimista e subjetiva. Ela é transbordante, edificante, relevante.

Eis uma preciosidade: Por que Jesus não transformou pedras em pães? Ele não poderia fazê-lo? Sim. Então, porque não o fez? Simples, milagres devem ser feitos e realizados em favor do próximo e nunca para benefício próprio!

Conclusão.

Os propósitos divinos para os dons são:

a)  Os dons são dados a cada membro do corpo. Todos os cristãos, salvos por Jesus, têm pelo menos um dom. Isto não é uma palavra minha, são as Escrituras que afirmam esta verdade (cf 1Co 12.7). Cada membro do corpo de Cristo tem pelo menos um dom.

b)  Os dons têm um propósito. Eles são dados visando a um fim proveitoso, ou seja, a edificação da igreja.

c)  É o Espírito Santo que distribui soberanamente os dons. “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas as coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (12.11). Paulo está falando que é o Espírito Santo quem distribui os dons e também quem age eficazmente na vida daquele que exerce o dom. O homem é apenas um instrumento, mas o poder é do Espírito.

O apóstolo Paulo usou quatro verbos que ilustram a soberania de Deus na distribuição dos dons espirituais. O Espírito Santo distribui (12.11), Deus dispõe (12.18), Deus coordena (12.24) e Deus estabelece (12.28). Do começo ao fim Deus está no controle. Não há espaço para vaidades e autopromoção. Portanto, busquemos com excelência os melhores dons. Eles estão disponíveis nos celeiros celestiais.

Nele, que concede os dons para a sua igreja nos dias atuais

Pr Marcello Oliveira

Bibliografia: Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo.

                         Lopes, Hernandes Dias. 1Coríntios. Ed. Hagnos

     Rienecker, Fritz e Rogers, Cleon. Chave linguistica do NT. Ed. Vida Nova  

 

Os erros do Espírito Santo

Pare evitar melindres, digo logo que o título é retórico, e não literal. Perco parte do impacto, mas evito logo os caçadores de heresia. Não tenho muita paciência com gente que procura chifre em cabeça de cavalo, e por isso esclareci logo.

Filipe estava pregando para uma multidão, e o Espírito o removeu para o deserto. Tirou-o do meio de um trabalho de massa e de grande impacto. É que lemos em Atos 8.12-13: “Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres. E creu até o próprio Simão e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e admirava-se, vendo os sinais e os grandes milagres que se faziam”. Filipe tivera discernimento e fora para a Samária: “E descendo Filipe à cidade de Samária, pregava-lhes a Cristo. As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados” (At 8.5-7). Lá surgiu um avivamento e muitas conversões aconteceram.

É neste momento que vem o Espírito e comete seu primeiro erro: encaminha o evangelista a um lugar deserto. Tudo bem planejado por Filipe, as coisas estão indo bem, e o Espírito, de supetão, o remove dali para um lugar inexpressivo. Deus deveria respeitar mais nosso planejamento. Temos bons estrategistas, gente que sabe criar projetos e delinear ações. Mas Deus tem o estranho hábito de fazer as coisas sem nos pedir informações e sem olhar nossa prancheta. Não se tira um obreiro de um lugar em que ele está indo muito bem, fazendo um bom um trabalho, privando o lugar de sua presença marcante. As coisas iam bem por causa do homem certo no lugar certo.

O segundo erro estratégico: tirou o evangelista do meio de muitas pessoas e o encaminhou para esperar que passasse alguém. Veja os contrastes: “multidões” (v. 6) e “muitos” (v. 7) para “deserto” (v. 26). Ora, por que investir em lugares pequenos? Por que enviar um missionário para um vilarejo, ao invés de centrar as forças nos grandes centros urbanos? Faltou-lhe noção de estratégia missionária. Não aprendeu dos missiólogos. Ignorou as modernas técnicas de evangelização mundial. Foi por isso que errou. São Paulo de Piratininga é mais importante que Coxipó de Poconé de Conceição de Mato Dentro. Ter uma igrejona em Sampa é mais importante, estrategicamente falando, que ganhar alguém na periferia de Coxipó.

O terceiro: tirou o evangelista do meio de uma batalha, em que confrontara vitoriosamente o mal, para um lugar pacífico. Simão, o Mago, se decidira. Era só trabalhar mais com ele. Que troféu para exibir! Figurões convertidos ajudam muito na expansão do evangelho. Exibir um ex-alguma coisa dá um ibope terrível! A quem Filipe evangelizaria, no deserto? Lobos? Serpentes? Escorpiões? Para piorar, Pedro já “engrossara o caldo” com Simão: “Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata contigo à perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus. Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniqüidade” (At 8.20-23). Figurões que sejam convertidos potenciais devem ser tratados com luvas de pelica! O Espírito também poderia orientar melhor aos missionários. Noções de Relações Púbicas fazem bem.

Por tudo isso, o Espírito Santo seria reprovado na disciplina Estratégia Missionária, num curso de Missiologia. Nós sabemos que o segredo do sucesso está no bom planejamento. Sabemos pensar, fazer projetos, idealizar situações. Tanto que nem precisamos de muita oração. A prancheta substitui o joelho em terra e nos dá a sensação de utilidade. Estamos fazendo alguma coisa para Deus ao invés de esperarmos passivamente. Nós somos proativos, e não reativos, mesmo reativos a Deus. Somos uma denominação que sabe planejar! Vejo cada calhamaço de planejamento! Só não entendo porque, com tanto planejamento, as coisas não melhoram. Bem, quem sabe, precisamos de mais planos…

Sabemos o que aconteceu. Filipe foi para o deserto, ganhou um ministro de Candace, rainha da Etiópia, para Jesus. O homem regressou convertido para seu país, e assim se cumpriu uma profecia bíblica: “estenda a Etiópia ansiosamente as mãos para Deus” (Sl 68.3). E, figurão por figurão, o Espírito sabia qual lhe seria mais útil.

Não se trata de seletividade do Espírito, removendo Filipe do meio do povão e levando-o a uma pessoa importante. É que o plano de Deus estava formado há séculos. Deus já tinha a conversão deste homem em mente, antes do avivamento em Samária. Precisamos conhecer os desígnios divinos para nossas vidas e para seu reino. E ele nos faz conhecê-los na convivência com ele. Não desconsidero os planos, mas considero que buscar a Deus e submeter-se a ele é mais importante que qualquer outra coisa. Geralmente planejamos e pedimos que Deus abençoe os nossos planos. Buscamos conhecer os planos de Deus? Antes de dedicarmos os planos a Deus dedicamos-lhe nossa vida? Nem sempre o segredo do bom sucesso são os planos, mas o caráter espiritual das pessoas sempre pesará muito. A espiritualidade não pode vir a reboque de projetos. A oração não pode ser item em nossas agendas, mas o suporte do que fazemos.

Creio que mais importante que papel e arquivos em computador é a profundidade espiritual. É a oração, não como tópico de agenda administrativa, mas a passional. Receio que a burocracia se torne um shiboleth e sufoque o Espírito Santo. Não é pecado planejar, mas é pecado criar a cultura de que tratamos de um negócio comum, que se atém a regras humanas normais, e não que cuidamos de algo sobrenatural, que não pode nunca deixar de ter abordagem e enfoque sobrenaturais em primeiro lugar. Será que muitas de nossas instituições não estão em crise exatamente por isso? Por que deixaram de ser espirituais e suas engrenagens se tornaram meramente comerciais? Se tem dinheiro em caixa então cumpriu sua missão. Será isto mesmo? Não será por isso que muitas não têm dinheiro em caixa e vão mal em outros setores?

O caráter de Filipe fica bem claro em Atos 6.3: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço”. E isto me leva a considerar que a maior necessidade da igreja e das instituições que a servem (como batista entendo que as instituições são servas das igrejas) não é de mais burocracia eclesiástica, mas de pessoas de caráter espiritual elevado. De homens e mulheres espiritualmente rendidos a Deus e completamente entregues em suas mãos para a obra. Penso se não nos sobram planos e escasseiam quebrantamento e vida nas mãos de Deus. É ele quem faz a obra através de pessoas, e não as pessoas que fazem a obra através dos seus planos. “E Deus pelas mãos de Paulo fazia milagres extraordinários” (At 19.11).

Filipe pôde sair do meio do avivamento e ir para o deserto porque não mensurava seu serviço pela contagem de cabeças de decididos, mas sim em termos de espiritualidade obediente. Não são planos ou números. Estes são circunstanciais, secundários e produto da espiritualidade. O que mais importa são vidas nas mãos de Deus. Como a de Filipe. Com vidas assim nas mãos do Espírito de Deus as coisas dão certo. Ele nunca erra.

Pr Isaltino Gomes Coelho

Ágabo, uma profecia com dois pequenos erros

Depois de passarmos ali vários dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo. Vindo ao nosso encontro, tomou o cinto de Paulo e, amarrando as suas próprias mãos e pés, disse: “Assim diz o Espírito Santo: ‘Desta maneira os judeus amarrarão o dono deste cinto em Jerusalém e o entregarão aos gentios’” (Atos 21.10,11).

Parece que existem dois fatores conflitantes nessa passagem. Por um lado, a frase introdutória de Ágabo – “Assim diz o Espírito Santo” – sugere uma tentativa de falar como os profetas do AT que diziam: “Assim diz o Senhor…”.

Por outro lado, porém, os acontecimentos da própria narrativa não coincidem com o tipo de precisão que o AT exige daqueles que falam as palavras de Deus. Na verdade, pelo padrão do AT, Ágabo teria sido considerado como falso profeta, porque em Atos 21.27-35 nenhuma de suas previsões é cumprida.

Em primeiro lugar, Ágabo predisse que os judeus de Jerusalém “amarrariam” Paulo (At 21.11; a palavra grega traduzida por “amarrar” é deo). Contudo, quando Paulo foi efetivamente capturado em Jerusalém, mais tarde no mesmo capítulo, Lucas nos diz duas vezes que não foram os judeus, mas os romanos que amarraram Paulo: “O comandante chegou, prendeu-o e ordenou que ele fosse amarrado com duas correntes” (At 21.33).

Em segundo lugar, o “erro” da profecia de Ágabo refere-se ao segundo detalhe predito: o fato de que os judeus “entregariam” Paulo nas mãos dos gentios. Aqui, a palavra grega para entregar é paradidomi, que significa “dar voluntariamente, passar às mãos”. O ponto essencial do sentido dessa palavra é a idéia de “entregar”, “doar” ou “passar às mãos” de maneira ativa, consciente e proposital alguma coisa a alguém – esse é o sentido que aparece nas outras 119 ocorrências dessa expressão no NT.

A palavra paradidomi é usada, por exemplo, quando Judas “entregou” Jesus nas mãos dos líderes judeus (Mt 26.16); quando os judeus “entregaram” Jesus nas mãos dos romanos (Mt 20.19); quando João Batista foi “entregue” à prisão (Mc 1.14); quando Moisés “entregou” as leis ao povo (At 6.14); quando Paulo “entregou” ensinamentos à igreja (1Co 15.3). Nenhum dos outros 119 exemplos do uso dessa palavra no NT deixa de usar a idéia de uma ação consciente e intencional feita por quem faz a entrega.

Lucas na narrativa que se segue à profecia de Ágabo, ele mostra que os judeus não “entregaram” Paulo nas mãos dos gentios. Em vez de deliberadamente “passar Paulo às mãos” dos gentios – como os judeus haviam feito com Jesus, por exemplo, os próprios judeus tentaram matá-lo (At 21.31). Paulo precisou ser forçosamente resgatado dos judeus pelo tribuno romano e seus soldados (At 21.32,33). Mesmo assim, a violência do povo era tão grande que ele precisou ser carregado pelos soldados (At 21.35).

É importante notar que Lucas não tem intenção de mostrar que Ágabo proclamou uma profecia imprecisa. Essas palavras são apenas detalhes, alguém poderia dizer. Contudo, tal explicação não leva em conta de maneira plena o fato de que esses são os únicos dois detalhes que Ágabo menciona – em termos de conteúdo, eles são o cerne de sua profecia. De fato, esses detalhes são o que fazem dessa predição algo incomum. Provavelmente qualquer pessoa que soubesse de que maneira os judeus, por todo o Império Romano, haviam tratado a Paulo em várias cidades poderia ter “predito”, sem qualquer revelação do Espírito Santo, que Paulo enfrentaria violenta oposição dos judeus em Jerusalém. 

O aspecto singular da profecia de Ágabo foi sua predição de que Paulo seria “amarrado” e “entregue nas mãos dos gentios”. Nesses dois elementos básicos, ele estava um tanto equivocado.

Pr. Marcello Oliveira

P.s>>  O texto em tela não tem como finalidade debater a contemporaniedade dos dons espirituais. Eu, Pr Marcello Oliveira, creio firmemente na atualidade dos dons e seu uso na igreja atual.

O amor inabalável de Deus

Estou convencido de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem demônios […] nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor – Romanos 8.38-39

Romanos 8 é, sem dúvida, um dos capítulos mais conhecidos da Bíblia, especialmente os doze versículos finais, em que Paulo alcança as mais sublimes alturas. Depois de escrever os principais privilégios dos cristãos justificados- paz com Deus, união com  Cristo, liberdade da lei e vida no Espírito- a mente de Paulo, guiada pelo Espírito, passa a desvendar todo o plano e propósito de Deus, da eternidade passada à eternidade ainda por vir.

Ele começa citando cinco convicções inabaláveis (v. 28): Deus age em todas as coisas; Ele age para o bem do seu povo; Ele age assim para aqueles que o amam, e que foram chamados, de acordo com o seu propósito. Sabemos de tudo isso, Paulo escreve, mas nem sempre entendemos. A seguir vêm cinco afirmações inegáveis (v. 29-30), que descrevem em detalhes aquilo que Paulo quis dizer com “propósito de Deus”. Elas se referem ao povo de Deus, a quem Deus conheceu de antemão (isto é, que ele decidiu amar) e predestinou para serem conformes a imagem do seu Filho; a quem também chamou para si através do evangelho, justificou, e por fim, glorificou. Nossa glorificação é expressa como algo que aconteceu no passado, pois ela já está garantida, apesar de só acontecer no futuro. Assim, Paulo se desloca do passado para o futuro, até chegar a cinco perguntas irrespondíveis:

  1. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”
  2. “Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com Ele, e de graça, todas as coisas?”
  3. “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica”
  4. “Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós”
  5. “Quem nos separará do amor de Cristo?”

 Assim, Paulo nos apresentou cinco convicções acerca da providência de Deus, cinco afirmações sobre seu propósito e cinco perguntas sobre seu amor. Todas juntas nos dão cinco certezas a seu respeito. Necessitamos urgentemente dessas certezas, pois no mundo de hoje não encontramos firmeza em lugar nenhum.

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Stott, John. A Bíblia Toda, Ano Todo. Ed. Ultimato

                          Lopes, Hernandes Dias. Romanos. Ed. Hagnos