Através das gerações, os judeus tiveram uma longa lista de inimigos. Os antigos egipcíos os escravizaram, os babilônios destruíram o templo, os grego-sírios empenharam-se em substituir o judaísmo pelo helenismo e os romanos destruíram o segundo templo, exilando-os da terra que o Eterno havia prometido a seus pais, Jerusalém. Mas, dentre todos os seus inimigos, um deles é incomparável e sobressai em sua malignidade – aquele cujo ódio pelo povo judeu não encontrou paralelos. Seu nome é Amalek.
A Torá, cuja autoria é divina e que nos ensina a reverenciar a vida, a amar nossos semelhantes e não odiar nossos inimigos – nem mesmo os egipcíos que cruelmente os escravizaram – é categórica e implacável em se tratando de Amalek. “Lembra-te do que fez Amalek em teu caminho de saída do Egito. Quanto te encontrou no caminho e extirpou todos os que retardavam atrás de ti e tu estavas cansado e exausto e (Amalek) não temeu ao Eterno. Portanto, quando, o Eterno, teu D’us, te der descanso de todos os teus inimigos em volta de ti, na terra que o Eterno, teu D’us, te está dando por herança para possuí-la, apagarás a memória de Amalek de debaixo dos céus, não te esqueças” (Dt 25.17-19).
Amalek é identificado com a destruição em virtude do grau de ódio que nutre pelo povo judeu. Diferentemente de outros que perseguiram por razões políticas, econômicas, ideológicas ou religiosas, Amalek odeia os judeus sem motivo. Seu ódio é irracional e sem fundamento e extremamente poderoso. Amalek odeia os judeus simples e exclusivamente pelo fato de serem judeus. A ele não importa se os judeus vivem na terra de Israel, ou não; se são religiosos ou não; se são capitalistas ou não; liberais ou conservadores. Para ele, todos os judeus são iguais: um fenômeno indesejável que precisa ser extirpado da face da Terra.
Amalek, ainda, personifica a antítese do povo judeu. É uma criatura totalmente destituída de fé: nem em idolatria acredita. Seu objetivo básico é a negação do direito de Israel à existência. Amalek é a base das forças do mal neste mundo. Amalek não tem país, bandeira ou idioma. Assume identidades múltiplas. Enquanto o povo judeu é transparente e se faz ver enquanto povo, Amalek oculta sua identidade. Surge em épocas diferentes em diferentes lugares e é mestre na arte do disfarce. Apesar de suas heresia, às vezes, até se transveste com trajes religiosos. Como, então, identificá-lo?
Na história de Purim, no livro de Ester, lemos acerca do ódio que Haman nutria pelo povo judeu. Um episódio que se inicia com um conflito pessoal – a recusa de Mordechai de se curvar perante Haman – resulta em um decreto de genocídio contra todos os judeus – homens, mulheres e crianças. Ainda que Haman se sentisse insultado, não fazia sentido incluir todo o “povo de Mordechai” em sua vingança. Obviamente, usou Mordechai como pretexto para executar seus planos genocidas contra os judeus. Isso não surpreende já que ele era descendente direto de Amalek.
Na verdade, Mordechai servia na Corte – e até salvou a vida do rei de uma conspiração para assassiná-lo – e os judeus contribuíam para o desenvolvimento do reino, como fazem em todos os países onde residem. A acusação levada por Haman ao rei contra os judeus foi um estratagema para que pudesse executar seus planos malignos. Sua luta contra o povo judeu nada tinha a ver com o fato de seus membros se destacarem na sociedade maior: originava-se em um ódio fundamental contra uma nação que pertencia a um outro polo de existência. Haman e seus adeptos – os filhos de Amalek – postavam-se de um lado, o lado da escuridão e da maldade, enquanto Mordechai e seu povo se colocavam do outro – o lado da luz e da bondade.
Amalek e a origem do mal
Há um livro intitulado Conversas com Hitler, escrito por um antigo membro do Partido Nazista e amigo de Hitler. Em um dos diálogos registrados no livro, os dois conversam sobre os judeus e o autor diz a Hitler: “Cá entre nós… Nós dois sabemos que todas as imputações contra os judeus são falsas. Por que, então, você os odeia?” Ao que Hitler respondeu: “Não posso perdoar os judeus por terem inventado a moralidade” (grifo nosso).
A afirmação de Hitler é imprecisa. É o Eterno e não os judeus a origem da moralidade. É Ele quem determina o que é moral ou imoral, bom ou mau, certo ou errado. Mas os judeus foram, de fato, escolhidos por Ele (Há Kadosh Barukh Hú) O Santo, Bendito seja o Nome Dele – para serem seus porta-vozes. A afirmação de Hitler é imprecisa, mas especialmente reveladora por deixar clara a natureza de Amalek, e – ainda mais importante – por revelar a maneira como este vê o povo judeu.
Hitler, que personifica Amalek ainda mais integralmente do que Haman, nutria um ódio pelos judeus que continua a intrigar muitos. Por que ele, que estava tão determinado a conquistar o mundo, iria desviar-se de seu empenho bélico para assassinar o máximo possível de judeus? Historiadores, filósofos, teólogos, sociólogos tentam descobrir a razão para tão profundo ódio. Mas, para os judeus, não precisam pesquisar o passado de Hitler tão fundo em busca de uma explicação. Eles sabem exatamente por que Hitler os odiava.
Ele odiava o povo judeu acima de tudo porque nossa existência e essência representam tudo o que ele desprezava. O judeu, enquanto porta-voz de D’us, deve ser o representante do Divino no mundo. É isso o que mais enfurece Amalek. Esta força do mal pretende extirpar D’us do mundo. É reveladora a frase de Hitler que lutaria contra os judeus por ser sua forma de lutar contra D’us. Como Amalek não consegue lutar contra o Eterno, ele vai atrás de seus filhos.
Nele, o Shomer Doltot Ysrael – O Guardião dos Portões de Israel
Pr Marcello Oliveira
Quero parabenizá-los pelo texto, sou um cristão (sem religião) que tem profunda curiosidade e apreço sobre a História e os ensinamentos Judaicos. No momento estou em busca do entendimento dos 613 mandamentos do livro TORÁ.
Muito Obrigado pela informação…
Shalom
Gostei muito do texto, muito bem detalhado…
Assista Marcos Andrade Abraão no youtube , acredito que vocês vão gostar !!!!