Elifaz, Bildade e Zofar – Quem é você?

Os três amigos de Jó eram idosos (Jó 32.6) e mais velhos que Jó (15.10), mas parece que o mais velho de todos era Elifaz. Seu nome aparece primeiro e, ao que parece, o Senhor o considerava o membro mais velho do trio (42.7). É associado a Temã, um lugar conhecido por sua sabedoria (Jr 49.7). Elifaz baseou seus discursos em duas coisas: nas próprias observações acerca da vida(“segundo eu tenho visto”, “Bem vi eu” – Jó 4.8; 5.3, 27) e numa experiência assustadora que teve certa noite (Jó 4.12-21). Elifaz confiava muito na tradição (Jó 15.18,19), e o Deus que ele adorava era um Legislador rígido.

“Acaso, já pereceu algum inocente?” (Jó 4.7), perguntou ele, e incontáveis mártires poderiam dizer: “Nós”! (Que dizer do Senhor Jesus Cristo?). Elifaz possuía uma teologia inflexível que não deixava muito espaço para a graça de Deus.

É bem possível que Bildade fosse o segundo mais velho, uma vez que seu nome aparece em segundo lugar e ele fala depois de Elifaz. Pode-se descrever Bildade com uma só palavra: legalista. Seu lema era: “Eis que Deus não rejeita o íntegro, nem toma pela mão os malfeitores” (Jó 8.20). Era capaz de citar provérbios antigos e, assim como Elifaz, tinha profundo respeito pela tradição. Bildade estava certo de que os filhos de Jó eram pecadores (vv. 4). Não demonstra sensibilidade alguma pelo amigo sofredor.

Zofar, era o mais jovem dos três e, sem dúvida, o mais dogmático. Fala como um diretor de escola dirigindo-se a uma turma de calouros ignorantes. Sua abordagem insensível é: “Sabe, portanto”! (Jó 11.6; 20.4). Não se mostra de modo algum, um homem misericordioso e diz a Jó que, tendo em vista seus pecados, Deus o estava fazendo sofrer muito menos que merecia (Jó 11.6).

Seu lema era: “Porventura, não sabes tu que desde os tempos […] o júbilo dos perversos é breve e a alegria dos ímpios momentânea?” (Jó 20.4,5). É interessante observar que Zofar só se dirige a Jó em duas ocasiões. Ou ele decidiu que não era capaz de refutar a argumentação de Jó, ou considerou uma perda de tempo tentar ajudar o amigo.

Algumas das palavras desses três homens são boas e verdadeiras, enquanto outras são insensatas. De qualquer modo, por terem uma visão restrita, não puderam ajudar o amigo. Sua teologia não era vital nem vibrante, mas morta e rígida, e o Deus que tentaram defender era pequeno o suficiente para ser compreendido e explicado.

Por que alguém faria a um amigo do modo como esses três homens falaram a Jó? Por que estavam zangados? Encontramos uma pista nas palavras de Jó: “Assim também vós outros sois nada para mim; vedes o meu sofrimento e vos espantais” (Jó 6.21).  Esses três homens estavam com medo de que as mesmas calamidades acontecessem com eles! Portanto, precisavam defender seus pressupostos de que Deus recompensa os justos e castiga os perversos. Enquanto fossem justos, nada de mal lhes aconteceriam nesta vida.

O medo e raiva muitas vezes andam juntos. Ao afirmar sua integridade e se recusar a dizer que havia pecado, Jó abalou a teologia dos seus amigos e tirou deles sua paz e confiança, o que, por sua vez, os deixou zangados. Deus usou Jó para destruir a teologia superficial desses homens e desafia-los a aprofundar-se no coração e na mente do Senhor. Infelizmente, preferiram o superficial e seguro ao invés do profundo e misterioso.

Elifaz, Bildade e Zofar têm vários discípulos hoje. Sempre que encontram uma pessoa que se sente obrigada a explicar tudo, que tem uma resposta pronta para todas as perguntas e uma fórmula fixa para resolver todos os problemas, voltamos ao monturo como Jó e seus três amigos. Quando isso acontecer, devemos nos lembrar das palavras do psicólogo suíço, Paul Tournier:

Ansiamos quase sempre por uma religião fácil, simples de compreender e simples de seguir; uma religião sem mistérios, sem problemas insolúveis, sem dificuldades inesperadas; uma religião que nos permita escapar de nossa condição humana miserável; uma religião na qual o contato com Deus nos poupe de todo conflito, toda incerteza, todo sofrimento e toda dúvida; em resumo, uma religião sem a cruz”.

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora.

Terrier, Samuel. Jó. Editora Paulus.

 

 

13 Responses to Elifaz, Bildade e Zofar – Quem é você?

  1. Ana Paula disse:

    Pr. Marcelo,

    que tenhamos o zelo de sempre fazermos-nos tal questionamento e, desse modo, jamais ter tais atitudes e sim sermos defensores de nossa fé sem misticismos, dogmatismos ou farisaísmo, mas simplesmente evidenciando a Cruz.

    Deus continue lhe abençoando!

    Ana Paula

  2. josivaldo de frança pereira disse:

    Muito bom. Deus o abençoe.

  3. A Paz do Altíssimo..bela postagem meu amado irmão…a análise dos personagens foi muito bem feita e colocada, pena que as pessoas não ensinem isso dentro das igrejas, mas louvo a Deus por suas colocações..
    Se puder siga meu blog, pois já estou seguindo o seu http://prlehm.blogspot.com
    Em Cristo

  4. Belo texto, relevante, inteligente e que edifica. Parabéns!

    Às vezes, eu acho que cada um de nós tem um pouco de cada um deles dentro de si. Só o Espírito Santo para nos corrigir e Deus Pai para se compadecer das nossas fraquezas.

    Glórias ao Senhor!

    Deus te abençoe!

    Abraços,

    Leandro Teixeira
    Editor do blog Liberdade é Pensar

  5. ADILSON disse:

    GLORIA A DEUS IRMÃO , ESTA CHEIO DE PESSOAS DECEPCIONADAS  COM DEUS HOJE NO MUNDO POR QUE OUVIU DE NOSSOS ALTARES PESSOAS PREGANDO UMA TEOLOGIA DO TROCA TROCA E QUANDO NÃO ACONTECE FICAM DECEPICIONADO VÃO DIZER QUE VOCÊNÃO RECEBEU QUE ESTA EM PECADO . VÃO SE CONVERTE E PARA DE TIRA A LÃ DAS OVELHAS QUE SE DEDICARÃO TODA SUA VIDA NA OBRA DO SENHOR  E QUANDO POR A CASO FICA DESEMPREGADA  E NÃO TEM MAIS DE ONDE TIRAR PARA ABENÇOAR A OBRA COLOCAR O IRMÃO NO BANCO E DEIXA DE LADO . ONDE VAMOS PARA ,SE É COM MUITO CUSTO GANHAR ALMAS PARA CRISTO OU SEJA SER UMA FERRAMENTA NA MÃO DE DEUS ELES JOGAM FORA DAS IGREJAS AS ALMAS VIGIAI NOS NOSSOS ALTARES ESTA CHEIO DE BANQUEIRO. .

  6. Marcelo da silva machado disse:

    Esse estudo foi muito bom…amenizar que Deus te abençoe

  7. Haroldo Dias disse:

    Graça e paz a todos.

    Observe que Jó era íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal (Jo1v1), também que ele ministrava a palavra de Deus (Jo4v3-4) e que entendia seu lugar de humildade no ministério (Jo9v20). Até aqui tudo bem.

    Agora, observe que embora Jó negasse, ele foi acusado de ter filhos pecadores (Jo8v4); que embora fosse um homem de Deus, assim que os problemas vieram sua esposa se desviou “amaldiçoa a Deus e morre” (Jo2v9); e que foi acusado de que mesmo sendo muito próspero se negava a ajudar as viúvas, os pobres e necessitados, despedindo eles de mãos vazias (Jo22v7-10). Assim como todo homem, Jó tinha falhas e problemas, mas esse não era o motivo da desgraça dele.

    A conclusão do livro de Jó se resume em uma palavra “Misericórdia”. Misericórdia essa que não se encontrava nos 3 amigos (Elifaz, Bildade e Zofar), pelo contrário tanto eles como Jó viviam religiosamente cegos, acusando um ao outro utilizando a palavra. Enfim, apareceu o amigo Eliú que, mesmo sendo mais jovem, explicou sobre a misericórdia de Deus, “os de mais idade não é que são mais sábios, nem os velhos, os que entendem o que é reto” (Jó 32.9), Ele não olha para os que se julgam sábios” (Jó 37.24) e concluiu “tudo isto é obra de Deus” (Jó 33.29) com propósito para o bem e não para o mal (Jó 34.12-15).

    Neste entendimento Jó encontrou a misericórdia de Deus em sua vida (Jó 29.4) e compreendeu que vivia de modo religioso, relatando e sendo relatado, julgando e sendo julgado, finalizando: “Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia” (Jó 42:3) e se converteu á misericórdia de Deus “Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza”
    (Jó 42:6).

    Jó então para de relatar e julgar, de dar a sentença dos pecados e vive uma vida de misericórdia e arrependimento. O primeiro ato de Jó após entender a misericórdia foi orar por Elifaz, Bildade e Zoar, e Deus vendo isso, que ele já agia pelo que aprendera, imediatamente restituiu tudo em dobro a ele; “E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía” (Jó 42:10).

    Deus na sua misericórdia restaura a sua vida assim como fez com Jó baseado em misericórdia e não em religião.

    Fiquem com Deus

    Att.
    Haroldo Dias
    Servo do Senhor – Igreja Batista, Ministério Nova Dimensão, Barretos / SP

  8. Irene da silva lemos disse:

    Paz e Graça a todos!! Adorei todas as colocações…hj aprendi mais um pouco sobre a palavra. Glória a Deus por isso! Amém!

  9. Romildo disse:

    Excelente abordagem que lhe expire cada vez mais para edificá-lo e tb para edificar o seu próximo para Honra e Glória do Senhor.

  10. mary disse:

    pastor gostei muito do seu texto. estou estudando os cotumes dos povos e das cercanias onde habitavam os tres amigos de jo.
    o mais dificil é Zofar.
    voce tem algum estudo ou referencia dos pais e povos de onde eles vieram?
    obrigada

  11. Simone Ribeiro disse:

    Haroldo días gostei muito da sua colocação me esclareceu muitas dúvidas no meu estudo sobre Jó de forma clara que Deus continue te abençoando mas e mas fica na paz.

  12. Rita Merces disse:

    Boa com essa tese identifico sós falsos no meio do povo de Deus

  13. Wagner Rocha Pereira disse:

    Parabéns por este texto…enriquecedor

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