Os antigos povos, desde e o longínquo Oriente, costumavam fazer que determinados gestos acompanhassem os seus mais íntimos sentimentos. Próprio dos gregos era o gesto de bater no peito em sinal de luto, de pesar ou de tristeza. Exprimiam isso na sua linguagem com o vocábulo Kommós, interpretando o mesmo que traduzimos por gemido, choro, queixa, lamento, em latim plangor.
Nas peças de teatro, o nome que traduzia a passagem do canto tristonho e queixoso era kommós também. Mais ainda: eles davam o apelido de kommotés aos vendedores de escravos, pelo hábito que tinham tais vendedores de paramentar com muitos enfeites os escravos à venda, visando emocionar o público, iludindo os compradores para assim receber bons preços mediante a emoção que provocam nos assistentes.
Outrossim, a palavra possui outras aplicações, desta vez imprevistas… Ela passou ao domínio dos cabeleireiros, essas pessoas que eram capazes de despertar nos gregos as emoções rotuladas dentre as maiores, mediante o arranjo artístico das cabeleiras. Uma reflexão se impõe: emoção é um francesismo que afinal vingou. Somos gratos pelo empréstimo.
Emoção surgiu entre os séculos XVI e XVII, por movimentos das massas, fazendo-se do seu modelo analógico a voz emotion dos franceses. Provocar emoção era o mesmo que movimentar as massas em tal ou qual sentido. E essa atitude traz abalo nas almas, entendendo-se assim como se tornou possível que se fizessem sinônimas emoção e comoção na linguagem prática dos dois povos irmãos. Ainda hoje os gregos chamam os cabeleireiros de kommotés e as cabeleireiras, de kommótria. Os penteados constituíram, por assim dizer, o meio favorito, entre os atenienses, de dar publicidade às suas emoções mais intimas e familiares. Ainda se consigna o verbo kommô, que tem a significação de aformosear, pintando o rosto e tornando-se elegante. Poder-se-ia aproximar deste sentido o de corar, ruborizar-se com as emoções felizes ou alegres, que são as dos que se fazem alvo das admirações e das lisonjas.
Ora, a commotio dos latinos evidentemente mergulha naquelas origens gregas. Traduzido para a nossa linguagem corrente, chamamos comoção ao abalo, à sacudidela, ao choque, à descarga de um feitio e um gênero especial, usando-se largamente desse vocábulo em sentido literal e figurado.
O Eterno tenha misericórdia das famílias enlutas da cidade de Santa Maria,
O que escarnece do pobre insulta ao seu Criador, o que se alegra da calamidade não ficará impune. Provérbios 17.5
Pr Marcelo Oliveira
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