Nem Monge nem Executivo!

É moda entre os evangélicos citar monges como modelo de espiritualidade. Apesar de permanecerem idólatras, são mostrados como exemplos para nós. Por exemplo, Philip Yancey, que exibe grande ressentimento contra tradicionais, é mestre em exaltar monges. Nesta esteira veio o livro O monge e o executivo, de James Hunter, tido como uma “bíblia” de liderança.

 

Quando vi o livro de Paul Freston, Nem monge nem executivo, gostei e adquiri. Pelo título e por Freston, que combina espiritualidade e brilho intelectual. Li de uma assentada. É um livro de meditações nos evangelhos. Analisando personagens que se relacionaram com Jesus, começando por Maria, Freston mostra como suas vidas foram radicalmente modificadas. Ao invés de olhar para homens como modelos de espiritualidade, ele acena com o modelo de vida de Jesus. Não trata de liderança, mas como Jesus é um modelo de espiritualidade invertida, uma espiritualidade serviçal. Freston não combate o livro de Hunter. Nem eu. Li O monge e o executivo, aprendi com ele, e vejo valor nele. Mas Jesus é realmente fantástico. Um homem absolutamente despreocupado consigo mesmo, sem qualquer desejo de dominar. Na realidade, um antilíder, pois sua preocupação maior era de ser servo.

 

Jesus é o maior líder, o maior vulto da história. Escolheu doze homens sem relevância social, numa região atrasada, subdesenvolvida, e trabalhou com eles por curtos três anos. Foi traído por um deles e abandonado pelos demais. Foi morto com requintes de crueldade, sob intensa zombaria. Não deixou uma linha escrita. Mas mais livros se escreveram sobre ele que sobre qualquer outro personagem. Mais músicas se compuseram sobre ele que sobre qualquer tema. Sua maior viagem não ultrapassou 300 km. Mas marcou o mundo. Fundou um movimento que chamou de “minha igreja”, e que tem atravessado os milênios, duramente perseguida. Até mesmo por gente que diz segui-lo. Há gente na igreja que serve ao inimigo: odeia-a. Muitas vezes seus seguidores o desonraram e fizeram coisas erradas em seu nome. E ele continua como o maior homem que já existiu.

 

Ninguém recuperou mais vidas que ele. Ninguém reconstruiu mais lares que ele. Ninguém encheu os homens de esperança e vigor para uma vida correta mais que ele. Gosto de Beethoven, mas não morreria por ele. Gosto de Machado de Assis, mas não sofreria por ele. Não apenas eu como milhões de pessoas morreriam por Jesus, vendo isto como privilégio.

 

Jesus é o modelo. Um líder que não aprendeu com monges. Era menos executivo e mais office boy: sua preocupação era fazer a vontade do Pai. Nunca usou as pessoas como trampolim para seu ego, mas deu a vida por elas. Ninguém chega aos seus pés.

Sim, nem monge nem executivo. Jesus.

Pr Isaltino Gomes

7 Responses to Nem Monge nem Executivo!

  1. André Gonçalves disse:

    Graça e paz!

    Excelente texto. Faz-nos refletir sobre a vida e ensinamentos do Mestre. Somos mais Jesus ou estamos apenas pensando em nós?

    Queremos Ele como nosso salvador e senhor? Ou o excluimos de nossas decisões?!

    Em Cristo,
    André Gonçalves.

  2. Paz amado!

    Certamente, a rede está repleta de bajuladores de monges e utilizam por entusismo as suas referências, e os que se sufocam no ministério com o desejo de serem executivos.

    Triste realidade!

    O Senhor seja contigo, nobre pastor!

    O menor de todos os menores. Um Tradicional Pentecostal.

  3. josivaldo de frança pereira disse:

    Muito boa postagem. Texto simples e esclarecedor.

  4. uilton disse:

    Graça e Paz

    Que Tenhamos sempre o Senhor Jesus como nosso exemplo de servidão e humildade.

    Um Abraço

  5. Pr.Wanderson disse:

    Simplesmente assim, Jesus é o único que pode dizer EU SOU!

    Pr Wanderson

  6. Acho que podemos aprender com todos! Inclusive com o Philipp Yancey que é um dos meus escritores preferidos, sendo que também leio autores ateus, agnósticos, teólogos super liberais e gente de outras religiões. Recentemente li o texto de uma terceira pessoa no blogue “Conexão Graça”, administrado pelo pastor Franklin Rosa, e gostei bastante do que o cara colocou. O título do artigo chama-se:

    “Jesus sentia TESÃO?!”
    http://conexaodagraca.blogspot.com/2012/02/jesus-sentia-tesao.html

    O título pode ser meio ousado (eu talvez tivesse substituído a palavra “tesão” por desejo sexual), mas confesso que a leitura de alguma maneira me enriqueceu bastante.

    Ora, verdade é que pouco sabemos acerca da verdadeira história do judeu Yeshua ben Yosef que viveu nas três primeiras décadas do século I. Porém, o que nos foi ensinado a seu respeito é mais sobre um arquétipo cristão inventado pelos padres gregos e aí críticas como o agnóstico autor do texto que mencinei foi certeira levando-me a pensar na inviabilidade histórica de um personagem real formado pelas narrativas dos evangelhos como é o Jesus adorado como divindade por católicos e evangélicos.

    Quem lê os evangelhos apócrifos, vislumbra a possibilidade de que Jesus. por exemplo, tivesse mulher e, logicamente, vida sexual. É o que serviu de inspiração para Dan Brown que escreveu o “Código Da Vince”, certamente de olho nos fragmentos dos evangelhos de Felipe e de Maria Madalena. E, tendo Jesus mulher e filhos, ele se torna bem mais humano e acessível, vocês não acham?

    Se pensarmos bem, é pouco provável que um judeu fosse optar por uma vida celibatária pois o sexo e a procriação é um dever na cultura judaica. Claro que, antes do judaísmo rabínico, existiam a seita dos essênios que nem defecavam aos sábados, mas Jesus não parece ter tido o perfil de um asceta já que ele era mais flexível na interpretação da Torá dos que muitos fariseus (estes melhores do que os essênios).

    Enfim, o celibato de Jesus, assim como a ideia sobre sua divindade parecem-me ter sido mesmo construções teológica dos gregos muitas décadas após a época em que teriam se passado os acontecimentos sobre sua vida e o ministério apostólico. Mas, infelizmente, a grande maioria dos cristãos praticam aquilo que eu chamaria de cristolatria, tentando atribuir uma perfeição inviável a um homem que foi igual a todos nós. Igual o James Hunter, o Philip Yancey, o Paul Freston, o Machado de Assis, etc.

    O Jesus dos evangelhos é um modelo e que chega a ser inviável de ser alcançado e até equivocado e fraudulento. É mais uma criação dos padres (homens tão idólatras quanto os evangélicos) do que um personagem real. Uma idealização da qual penso eu que até o homem Yeshua ben Yosef discordaria. A começar pelo relato do seu nascimento virginal que me parece mais simbólico (uma narrativa que nos desperta para a ideia do novo nascimento) do que uma história que de fato tenha acontecido.

  7. Em tempo!

    É explorando a pura humanidade de Jesus que tenho encontrado beleza na sua pessoa. Não nos milagres e acontecimentos sobrenaturais.

    Foi um ser profundamente humano que conquistou pessoas para segui-lo voluntariamente pelas poeirentas ruas da Galileia. Não o arquétipo cristão inventado pelos padres que a reforma protestante jamais ousou desconstruir.

    Uma das passagens dos evangelhos que muitos cristãos evitam refletir ou se aprofundar diz respeito à cura da filha de uma mulher estrangeira concedida por Jesus. Este episódio encontra-se tanto em Mateus (15.21-28) como em Marcos (7.24-30), sendo que, devido ao melhor detalhamento do 1º Evangelho, escolhi transcrever esta citação abaixo:

    “E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom. E eis que uma mulher cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada. Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me! Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: O mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.” (Mt 15.21-28; versão de Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

    Existem diversos posicionamentos acerca do que foi narrado pelo escritor do Evangelho. Uns entendem que Jesus estava testando a fé daquela mulher, fazendo do episódio uma explicação para o não recebimento de milagres. Outros compreendem que o motivo do relato seria para justificar o ingresso de não judeus no Reino de Deus, aludindo aos “tempos dos gentios”. Tem ainda aqueles que interpretam o envio de Jesus “às ovelhas perdidas da casa de Israel” como um forte argumento pró-judaizante. Porém, o certo é que a grande maioria dos leitores cristãos se sentem mesmo incomodados com o que leem e preferem não se pronunciar quanto à atitude chauvinista que, a partir deste momento, foi abandonada por Jesus.

    Quando nos fechamos dentro de uma concepção pronta e acabada em relação a qualquer assunto, corremos o sério risco de empobrecer a nossa visão de mundo e também deixarmos de exercitar a capacidade de reflexão dada pelo Criador. Assim, a fuga de termos paradoxais torna-se uma atitude imatura e estúpida da mente religiosa, além de ser uma conduta que jamais poderá responder às inquietações íntimas que trazemos. Logo, fugir de uma reflexão sobre o texto porque ele perturba as concepções sobre um messias divinizado e/ou perfeito não vale a pena.

    Não tenho a mínima pretensão de querer explicar de maneira completa o significado da passagem bíblica em análise e nem de invalidar outras interpretações existentes quanto ao assunto, gerando polêmicas sem sentido na internet. Porém, a graça de Deus me dá plena liberdade de escrever algo que entendo ser útil para a edificação, ainda que aos olhos de muitos possa parecer herético e desafiador à castradora ortodoxia cristã. E vai ser com este desprendimento que pretendo expor o meu pensamento nas próximas linhas.

    Por algum motivo, Jesus e seus discípulos precisaram sair do território da Palestina. Estavam eles em numa região vizinha e que também era dominada pelo gigantesco Império Romano com o predomínio da cultura helenista.

    Séculos antes, a Palestina esteve sob o domínio dos gregos. Um rei perverso chamado Antíoco Epífanes tentou de diversas maneiras impor aos judeus o universalismo da cultura helenista. Guerras e revoltas aconteceram e, numa determinada ocasião, afim de ferir frontalmente a nação judaica, Antíoco invadiu o Templo de Jerusalém e profanou o santuário. Costumes da Torá de muitos séculos foram mudados e a prática da religião do povo encontrava-se seriamente ameaçada.

    Jerusalém não aceitou ser transformada em mais uma Antioquia (a exemplo das Alexandrias de Alexandre Magno). Reagindo à dominação cultural, os judeus enfrentaram militarmente a invasão grega dentro do território israelita, lutando bravamente durante os dois séculos que antecederam a vinda de Jesus. O ódio entre gregos e judeus aumentou cada vez mais. E Israel era a única nação dominada pelo então Império Selêucida que ainda não havia sido assimilado pelo helenismo.

    Sob a dominação romana, os judeus alcançaram uma convivência menos pior do que quando foram anexados pelos gregos. Porém, os conflitos entre gregos e judeus não terminaram. Havia cidades gregas na Palestina e muitos soldados de Roma que oprimiam com arrogância a nação judaica eram de origem grega. Pertinho de Nazaré, aldeia onde Jesus foi criado, ficava a cidade Séforis com sua arquitetura helênica que chegou a ser o centro administrativo da Galileia na época.

    Presenciando de perto a opressão estrangeira desde criança, Jesus fez a sua opção ministerial pelas pessoas pobres de seu povo. E, dentro deste contexto, não seria surpreendente que Jesus tivesse sido influenciado pelo pensamento etnocentrista dos judeus de seu tempo. Por ter nascido homem como todos nós, Jesus precisou que o ensinassem a falar, andar, vestir-se com o talit, alimentar-se, ter os hábitos de higiene dos anciãos (as ablusões), fazer orações, ler as porções da Torá nos dias de sábado nas sinagogas e até mesmo a interpretar as Escrituras. Logo, é evidente que a visão de Jesus foi influenciada pelas duas escolas formadoras do pensamento rabínico, as quais refletiam as ideias de dois mestres mencionados pela Mishná – Shamai e o ancião Hillel.

    Antes de Jesus ter iniciado o seu ministério, Hillel e Shamai já divergiam entre si quanto à aceitação de prosélitos gentios dentro do judaísmo, Enquanto o ancião Hillel era mais flexível, Shamai mostrava-se mais fechado.

    Nos ditos atribuídos a Jesus nos Evangelhos sinóticos, nota-se a presença tanto do pensamento de Shamai quanto de Hillel, embora com uma possível predominância deste. Só que, em ideias relacionadas ao divórcio e à evangelização dos não judeus, há mais semelhanças com o pensamento de Shamai como se observa na orientação dada nos versos de 5 a 6 do capítulo 10 do 1º Evangelho aos discípulos, quando estes foram comissionados pelo Mestre:

    “Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Dirigi-vos, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel.” (Mt 10.5-6; versão da Bíblia de Jerusalém – BJ)

    A grande beleza que encontro no áspero diálogo de Jesus com a mulher siro-fenícia é a capacidade de transcendência do Mestre, o qual se abriu para aprender com aquela sábia estrangeira do sexo feminino.

    Ora, certamente que, quando consideramos o Messias como alguém profundamente humano, fica muito mais fácil admirar-se diante da passagem bíblica em comento. Pois, se Jesus era de carne e osso, já não podemos exigir dele onipresença, onisciência, onipotência e muito menos perfeição moral (como se fosse possível enquadrar seres humanos dentro de um padrão nosso de comportamento).

    No livro de Isaías, depois do profeta mencionar o nascimento do Emanuel através de uma “jovem” que iria conceber, ele também falou que a futura criança iria aprender a rejeitar o mal: “Ele se alimentará de coalhada e de mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem.” (Is 7.15; BJ)

    Com o encargo de aprender a não se deixar dominar pelo mal e escolher o bem, dentro dos limites da humanidade igual a todos, Jesus precisou desenvolver a reflexão, a alteridade e o amor pelo diferente. Ao conceder cura à filha daquela mulher, Jesus fez uma escolha que, como já foi demonstrado acima, seria bastante difícil para um judeu que vivia naquela época debaixo da opressão estrangeira e de um sistema político-econômico vil.

    Fico imaginando a situação de um líder sindical de trabalhadores rurais explorados por poderosos fazendeiros. Supondo que, às custas de muito esforço e perseguições, esta presidente do sindicato consiga construir e equipar um pequeno posto de saúde para atender às empobrecidas famílias dos empregados das glebas numa determinada região. Aí, um belo dia, aparece desesperada a esposa de um rico pecuarista precisando de socorro urgente para um filho doente e o líder sindical precisa rever todas as suas concepções de vida para permitir atendimento para quem não tinha direito.

    Igualmente é com embaraço ainda maior que Jesus parece ter passado quando procurado por aquela mulher estrangeira, a qual nem ao menos foi recomendado por cidadãos judeus como havia acontecido no caso da cura do servo do centurião romano (Lc 7.3). Tanto é que ela se humilhou implorando graça para sua filha.

    Com isto, pode-se dizer que o homem Jesus transcendeu naquele dia. O esperado Messias de Israel foi influenciado pela fé de uma estrangeira e mudou de posição. Sua maneira de pensar teve que ser revista e o Mestre deixou de lado o xenofobismo para liberar a bênção sobre alguém pertencente a um povo opressor aos judeus (daí o termo depreciativo “cachorrinhos” descrito pelo evangelista).

    É pelo mesmo caminho de Jesus que nós devemos andar. Não temos que alimentar ambições loucas de santidade perfeccionista, mas sim andarmos com graça rumo ao nosso melhoramento ético e existencial, o qual deve ser feito com abertura. Precisamos estar disponíveis para mudanças de posições afim de acolhermos quem quer que se encontre no nosso caminho, independentemente da pessoa crer em Deus ou não da mesma maneira que nós. Pois só assim é que vamos de fato conseguir amparar o outro, sem impormos requisitos quanto à origem, classe social, ideologia política, posição moral, grau de instrução, poder aquisitivo, idade, profissão, sexo e até mesmo a orientação sexual.

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