Category Archives: Reflexões

Pregando o Cristo crucificado

O apóstolo Paulo descreve seu ministério de pregação nas cidades da Galácia como um cartaz público do Cristo crucificado. É claro que os gálatas não haviam presenciado a morte de Jesus. Nem Paulo. Mas através da pregação da cruz, Paulo trouxe o passado ao presente, tornando o evento histórico da cruz uma realidade contemporânea. Consequentemente, os gálatas podiam visualizar a cruz e entender que Cristo havia morrido por seus pecados, e então ajoelhar-se diante da cruz, humildemente, para receber de suas mãos o dom da vida eterna, totalmente gratuita e imerecida.

Porém, a mensagem da cruz, como Paulo explicou mais tarde em 1 Coríntios, é uma pedra de tropeço para o orgulho humano, pois afirma que não podemos alcançar a salvação pelas nossas obras. Não verdade, não podemos sequer contribuir para a nossa salvação. A salvação é um dom de Deus, sem absolutamente nenhuma contribuição de nossa parte.  William Temple disse:

“Minha única contribuição para a redenção é o meu pecado que precisa ser redimido”.

È nesse sentido que Paulo contrasta a si mesmo com os falsos mestres, os judaizantes. Eles pregavam a circuncisão (expressão usada pelos apóstolos para designar a salvação pela obediência à lei) e assim escapavam da perseguição por causa da cruz (Gl 6.12). Ele, por outro lado, pregava Cristo crucificado (a salvação através de Cristo somente) e assim estava sempre sujeito a perseguição (Gl 5.11).

Os evangelistas da atualidade têm diante de si esta mesma escolha. Ou agradamos as pessoas dizendo o que elas querem ouvir (sobre a capacidade de salvar a si mesmas) ou dizemos a verdade que elas não querem ouvir  (sobre pecado, culpa, juízo e cruz). Podemos escolher entre deixá-las satisfeitas ou despertar a sua hostilidade. Em outras palavras, ou somos infiéis e conquistamos popularidade, ou corremos o risco de nos tornarmos impopulares por causa da nossa fidelidade. Não creio que é possível ser fiel e popular ao mesmo tempo. Paulo sabia que precisava tomar uma decisão. Nós também precisamos.

Nele, que triunfou na cruz

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Stott, John. A Bíblia Toda, Ano Todo. Ed. Ultimato

                          Hendriksen, William. Gálatas. Ed. Cultura Cristã

                          Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora

Evangelização, uma tarefa de conseqüências eternas

“Não dizeis vós faltarem quatro meses para a colheita? Mas eu vos digo: Levantai os olhos e vede os campos já prontos para a colheita” (Jo 4.35)

O propósito de Deus é o evangelho todo, pregado por toda a igreja, em todo o mundo, a cada criatura. A visão de Deus é o mundo todo, o método de Deus é a igreja toda, e o tempo de Deus é agora. A evangelização é uma tarefa imperativa, intransferível e impostergável.   A evangelização é uma tarefa inacabada e de conseqüências eternas. Em Jo 4.31-35, Jesus nos dá três princípios sobre a evangelização como uma tarefa de conseqüências eternas.

1.  Precisamos ter visão (Jo 4.35)

“… Levantai os olhos e vede os campos já prontos para a colheita”.

Precisamos ter visão de que o homem sem Cristo está perdido. Desde o ateu ao religioso, do doutor ao analfabeto, dos homens das grandes metrópoles ao homem do campo. Precisamos ter visão de que as falsas religiões proliferam celeremente como um rastilho de pólvora. Nos últimos 50 anos, o islamismo cresceu 500%; o hinduísmo, 161%; o budismo, 147%; e o cristianismo, só 47%.

Precisamos ter a visão de que oportunidades não aproveitadas hoje podem se tornar portas fechadas amanhã. Precisamos ter visão de que na mesma medida de que a igreja evangélica patina no cumprimento da sua  missão, cresce de forma assustadora um evangelho híbrido, heterodoxo e sincrético, que distorce a verdade e sonega ao povo o Pão da Vida. Precisamos ter a visão de que a ignorância não é um caminho alternativo para o céu, uma vez que aqueles que sem lei pecam, sem lei perecerão (Rm 2.12). 

A mulher samaritana abandonou seu cântaro e correu à cidade para proclamar que havia encontrado o Messias. A cidade foi impactada com sua palavra. Quando a multidão veio ao encontro de Jesus, Ele disse para seus discípulos: “Levantai os olhos e vede os campos já prontos para a colheita” (Jo 4.35)

 2.  Precisamos ter urgência (Jo 4.34)

“Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra”. Jesus estava com fome, mas tinha algo mais urgente para fazer do que se alimentar. Seu propósito era dar a água da vida à mulher samaritana. Precisamos ter a mesma urgência de Jesus.

O que nos impede de evangelizar não é tanto falta de método, mas falta de paixão. Precisamos clamar como Raquel: “Dá-nos filhos, senão morrerei” (Gn 30.1). Precisamos chorar como John Knox: “Dá-me a Escócia para Jesus, senão eu morro”. Precisamos clamar como Paulo: “… E ai de mim, se não anunciar o evangelho!”  (1Co 9.16).

Muitas vezes, ouvimos a Palavra de Deus, freqüentamos a EBD anos e mais anos, fazemos treinamento e até participamos de congressos, todavia, não atravessamos a rua para falar de Jesus ao nosso vizinho. É tempo de falarmos de Cristo, e isso com um profundo senso de urgência.

 3.  Precisamos ter compromisso (Jo 4.35)

“… os campos já estão prontos para a colheita”. Um campo maduro para a ceifa exige do agricultor o compromisso de uma ação imediata. A evangelização é uma ordem, e não uma opção. È um mandamento, e não uma recomendação.

A evangelização só pode ser feita pela igreja. Nenhuma outra instituição na terra pode cumprir essa tarefa. A igreja é o método de Deus. Se a igreja falhar, Deus não tem outro método. Se o ímpio morrer na sua impiedade, Deus cobrará de nós o seu sangue.

A evangelização não pode esperar. Ela é impostergável. Se não ganharmos para Cristo esta geração, nesta geração, teremos fracassado vertiginosamente.

Pense Nisso: “Uma igreja que não evangeliza, precisa ser evangelizada”  Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Lopes, Hernandes Dias. Mensagens Selecionadas. Ed. Hagnos

                          Carson, D.A. O comentário de João. Shedd publicações

                          Hendriksen, William. João. Ed. Cultura Cristã

Nes Gadol Haya Sham !

Nes Gadol Haya Sham

As 4 letras do Dreidel ou Sevivon (um peãozinho usado na festa de Hanuká para uma brincadeira que é feita pelas crianças).

A primeira coisa que uma pessoa pode notar é que as 4 faces do dreidrel tem 4 letras hebraicas uma em cada face do peão. As 4 letras hebraicas são a Nun, Gimel, Hey e Shin.

As iniciais da frase: ‘Um Grande Milagre Aconteceu lá’ ou em hebraico

‘Nes Gadol Hayá Sham’ ??? ?????? ????? ????

A primeira coisa a se notar é que o valor numérico destas 4 letras ???? juntas é 358,  igual ao equivalente numérico da palavra Mashiach (Messias).

Esta mensagem escondida nas letras do dreidel nos informa que o grande milagre que aconteceu lá (Jerusalém) foi a Luz do Messias (Yeshua) e sua redenção para assim mudar o mundo.

Para os judeus que moram em Israel, eles decidiram mudar a ultima palavra que é ‘lá’ em hebraico ‘Sham’, para a palavra ‘aqui’ que em hebraico é ‘Pó’, por uma razão muito obvia.

Então as letras iniciais do dreidel seria: ‘Um Grande Milagre Aconteceu Aqui’.   Nes Gadol Hayá Pó.

Então as letras iniciais seriam ????

E o valor numérico é 138 que seria o equivalente numérico das palavras Menachem (Consolador) e Tzemach (rebento) ambos os títulos ou atributos do Messias.

No Midrash Mishlê (comentário rabínico – provérbios); Rav Huna fala dos sete nomes para o Mashiach, também tirado de Isaias 9:5: Rav Huna disse: ‘o Messias será chamado por sete nomes dos quais são; Yinon, Tzidikeinu [‘nossa justiça’], Tzemach [‘rebento’], Menachem [‘Conforto’], David, Shiloh, and Eliahu.3 “O Messias é chamado por oito nomes: Yinon, Tzemach, Pele [‘Milagre’], Yo’etz [‘Consolador’], Mashiach [‘Messias’], El [‘D-us’], Gibor [‘Forte’],
and Avi ’Ad Shalom [‘Pai eterno da Paz’].”4

B. Zahav

Adaptado por Marcello Oliveira

1 Shalom, Piska 36, p. 41.
2 Braude, Piska 36, p.671.
3 Yehuda ibn-Shmuel, ed., Midr’she G’ula (“Midrashim of Redemption”)

O Estado é ministro de Deus?

A função de autoridade governamental constituída é trabalhar como ministro de Deus para o bem, isto é, para a segurança, ordem e a paz da sociedade (Rm 13:3,4). Esse serviço ou ministério estatal para o nosso bem deve, de acordo com o Apóstolo Paulo, ser implementado de duas maneiras importantes e fundamentais:

1) Castigar o mal (13:3,4). O Estado recebe de Deus uma responsabilidade e uma função explicitamente proibidas às igrejas cristãs (Rm 12:17-19). As igrejas cristãs não têm chamado e autoridade para multar, prender, castigar ou executar criminosos, assassinos e estupradores. Mas o que Deus proíbe às igrejas ele ordena ao Estado fazê-lo. Os governantes (presidente, comandantes militares, prefeitos, delegados de polícia, etc.) devem ser austeros no combate ao mal, pois liberdade sem restrição resulta em anarquia. O governo não pode ser complacente com os crimes, com o mal, com a anarquia, com as forças desintegradoras que tentam anarquizar a sociedade. O governo não pode agir com frouxidão no castigo dos crimes. Ele precisa punir exemplarmente os promotores do mal. Tem de reagir com rigor e firmeza contra toda forma de violência, crime e suborno (Gn 9:6; Pv 17:11,15; 20:8,26; 24:24; Rm 13:4).

2) Elogiar os cidadãos que fazem boas obras (Rm 13:3,4). O objetivo do governo não é substituir a família e a igreja nos seus papéis importantes de bem-estar social, nem substituir os cidadãos em sua liberdade e chamado divino de amar o próximo. O papel do governo é elogiar aqueles que fazem o bem.

Como diz Mary Pride em seu livro De Volta Ao Lar: “O versículo não diz absolutamente nada sobre o governante fazendo o bem, nem nas próprias palavras nem no contexto. O versículo anterior nos diz que o governante nos elogiará se nós fizermos o que é bom. Por que? Porque ele é servo de Deus para nós em favor do bem. A responsabilidade do governante é estabelecer uma atmosfera na qual as boas obras de cada pessoa sejam incentivadas e as más ações sejam reprimidas. Obviamente, se o governante começar a sentir que é dever dele fazer todas as boas ações, ele não vai querer elogiar as boas ações dos cidadãos. Além disso, ele fará tudo o que puder para reprimi-las, já que as boas ações dos cidadãos estarão rivalizando com os planos do governo e usurpando sua autoridade. Essa sempre foi a situação dos países socialistas [como a ex-União Soviética], cujas leis proibiam as instituições de caridade particulares. A afirmação de que o governante é servo de Deus para nos fazer o bem, através das entidades de assistência social do governo, não tem base bíblica, pois esse tipo de raciocínio contradiz tanto o texto quanto o contexto de Romanos 13:4”.

 Quando o governo muda o foco e quer ser o Supremo Benfeitor, ele tira mais impostos dos cidadãos, que ficam com muito menos de seu próprio dinheiro para fazerem caridade e ajudarem os necessitados. A enorme e exagerada carga de impostos, cobrada sob a desculpa de ajudar os pobres, provoca um grande sangramento dos recursos das famílias, escoando em grande parte para os bolsos, cuecas e cofres de governantes corruptos. Enquanto isso, a função fundamental de o Estado dar segurança à sociedade fica à deriva.

No caso específico do governo brasileiro, como é que ele conseguirá enfrentar a macabra pena de morte aplicada anualmente pelos criminosos em mais de 50 mil vítimas brasileiras? Não pode, pois ele está ocupado demais competindo com as famílias e igrejas na oferta de caridade. Governo brasileiro como terror para os bandidos? Nem sonhando.

O desempenho do governo brasileiro está bem distante da responsabilidade que o Apóstolo Paulo aponta no Novo Testamento: “Visto que a autoridade é ministro de Deus (ênfase nossa) para seu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada (ênfase nossa); pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal (ênfase nossa). É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência”. (Rm 13:4,5).

A palavra grega para espada, ???????? (machaira), é usada por Paulo aqui como símbolo de punição capital, que é a pena mais elevada e compatível com o crime mais elevado, que é tirar injustificadamente uma vida humana inocente.

Tal postura nada tinha a ver com legalismo, pois Paulo não estava falando sobre espada nas mãos da igreja, mas nas mãos de quem competia: o Estado. Como o melhor intérprete da missão, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, Paulo sabia perfeitamente separar o papel da igreja (oferecer a compaixão e misericórdia de Deus, que é parte integral do caráter amoroso de Deus) e o papel do Estado (aplicar punições, que é parte integral do caráter justo de Deus).

Ele combatia o legalismo dentro da igreja como nenhum outro apóstolo, de modo que se algum novo ensino instruísse que era missão da igreja aplicar multas, prisão, castigos ou pena capital em criminosos, ele o refutaria como legalismo, pois a igreja jamais pode usurpar ou substituir o Estado em sua missão.

De forma semelhante, ele jamais aceitaria um ensino que defendesse o Estado usurpando ou substituindo a igreja em sua missão e ministério de misericórdia e transformação (também chamada de “reabilitação”) de pecadores.

Portanto, como profundo conhecedor dos Evangelhos, o que Paulo faz em Romanos 13 não é oferecer sua opinião pessoal, mas descrever o rigoroso chamado anticriminal do governo tal qual deve ser, de acordo com a vontade de Deus. Seja qual for o país — Império Romano, Israel, Brasil, EUA, etc. —, todo governo tem ordens divinas de impor punição e retribuição à altura dos crimes cometidos, usando inclusive a aplicação de força e meios letais.

Em sua função, o papel do Estado é ser, nas palavras do Apóstolo Paulo, terror para as más ações: assassinatos, estupros, sequestros, pedofilia, etc. Assim como Deus não tolera o mal, também as autoridades devem ter pulso forte para combatê-lo. Quando o Estado impõe aos malfeitores punições de acordo com o merecimento de seus crimes, está agindo como servo de Deus, executando sobre eles a ira divina (Rm 13:4).

A diferença é clara. A igreja é chamada para mostrar a misericórdia, o amor e a compaixão de Jesus Cristo a toda a sociedade, inclusive ministrando cura e libertação. O chamado da igreja também inclui a importante responsabilidade de dar educação às suas congregações.

Mas o Estado é chamado a mostrar a ira de Deus sobre os malfeitores e elogiar os que fazem o bem. Portanto, grande é a distância de atuação entre esses dois diferentes ministros de Deus, embora misericórdia e justiça sejam componentes completamente unidos no caráter de Deus.

O que o Estado não pode fazer, a igreja deve fazer. O que a igreja não pode fazer, o Estado deve fazer.

Ao falar sobre o Estado e seu direito de executar malfeitores culpados de cometerem o mais elevado ato de violência contra a inviolabilidade, valor e sacralidade da vida humana, Paulo não estava se referindo a um Israel teocrático, que nem existia mais na época. Evidentemente, ele estava falando do Império Romano, um governo que aplicava amplamente a pena de morte. Suas palavras confirmavam e corrigiam o papel do Estado. Confirmavam o papel do Estado como executor de assassinos e outros indivíduos de igual periculosidade.  E corrigiam mostrando que a execução não é um direito ilimitável, isto é, o Estado não tem autorização de Deus para executar toda e qualquer pessoa. Apenas criminosos de alta periculosidade.

Tal compreensão hoje é importante, quando vemos governos comunistas e islâmicos executando homens e mulheres pelo “crime” de se converterem a Cristo. Já na Europa, que se orgulha de não mais aplicar a pena capital em assassinos e outros criminosos perigosos, há uma ampla aplicação dessa pena em inocentes, mediante práticas de aborto, infanticídio e eutanásia. São literalmente milhões de vidas inocentes perecendo sob o peso de uma pena capital 100% injusta imposta pelo Estado.

No Brasil, que se orgulha igualmente de não ter pena capital para criminosos assassinos, o governo não só tolera que mais de 50 mil brasileiros inocentes sofram a pena de morte, muitas vezes sob tortura e crueldade, nas mãos de criminosos, mas também está trabalhando para seguir o padrão europeu de aplicação dessa pena em bebês em gestação, doentes, deficientes e idosos, mediante a aprovação de leis de aborto e eutanásia.

O que fazer nesse cenário onde o Estado mostra misericórdia para quem deveria punir e mata quem precisa de proteção e misericórdia? Como servos de Deus, devemos orar pelos governantes (1Tm 2.1,2), para que cumpram sua missão. Devemos honrá-los, obedecer-lhes e pagar-lhes impostos para sustentá-los em seu papel de dar segurança contra os malfeitores. Mas devemos também confrontá-los se eles se desviarem de seu chamado fundamental, pois quer saibam ou não, eles governam debaixo do próprio governo de Deus e o representam.

Servos de Deus como o Apóstolo Paulo são a consciência do Estado e seus governantes, alertando-os sempre que perderem o rumo da sua caminhada.

Pr Marcello de Oliveira em parceria com Julio Severo

A pena capital é bíblica ?

A instrução sobre a pena capital (Gn 9.5,6) é inserida no arcabouço da promessa do Senhor (Gn 8.20-22) e da aliança (Gn 9.8-17), que é ministrada a toda a humanidade para preservar toda a vida humana. Nesse contexto, a legislação para se executar a pena capital pertence a todo o povo (Gn 9.5,6). A pena capital se fundamenta na verdade de que todos os seres humanos portam a imagem de Deus, separando-os do resto das criaturas vivas. “Ninguém pode ser injurioso para com seu irmão sem ferir a Deus mesmo.” A ofensa em si não é contra o homicida, nem sua família, nem a sociedade em geral (obviamente ela os impacta também), mas é contra Deus.

Tão valiosa é a vida humana como a portadora da imagem de Deus, que este estipula compensação para se derramar a vida de seu sangue, não só do homicida, mas inclusive dos animais. O principio de lex talionis (isto é, vida por vida) fica esclarecido nos mandamentos divinos dados ao povo pactual relativos ao homicídio (Nm 35.16-21) e no ensino de Paulo sobre o cristão e o Estado. No caso do homicídio involuntário, os culpados são consignados a cidades de refúgio, não penitenciarias, até a morte do sumo sacerdote (Nm 35.22-28). Não obstante, no caso de homicídio, impõe-se a pena capital. 

No Novo Testamento, os cristãos não devem vingar-se por qualquer malfeito recebido, mas devem dar lugar à ira de Deus para vingá-lo (Rm 12.19). Deus, por sua vez, designa o governo civil como seu ministro, um vingador para executar a ira sobre quem pratica o mal (Rm 13.4). O Senhor e Rei supremo arma a autoridade civil com a espada, instrumento de morte, para o castigo dos malfeitores. A legislação, “quem derrama o sangue do homem, pelo homem se derramará seu sangue”  fornece a evidência que a autoridade civil, como ministra de Deus, tem  a responsabilidade de executar a pena capital por uma ofensa capital.

Esta é uma obrigação, não uma opção. Três vezes Deus diz: “pedirei contas” (Gn 9.5). O sangue derramado pelo homicida deve ser tratado da mesma forma. Investe o culpado com sua poluição (Nm 35.33; Sl 106.38) e assegura sua expiação pela morte do homicida (cf. Gn 9.6; 1Rs 2.32) ou pela expiação (cf. Dt 21.7-9). O sumo sacerdote deve morrer antes que o culpado por homicídio involuntário se vá livre. Se o sangue não for compensado pela pena capital ou expiado por ela, ele traz o juízo do Senhor sobre a terra (Dt 19.13; 2Sm 21; 1Rs 2.9,31-33).

A lei protege cuidadosamente o inocente. Deve haver pelo menos duas ou três testemunhas para convencer uma pessoa de crime (Dt 19.15). Além disso, se uma testemunha cometer perjúrio, então os juízes que julgam o caso farão com o perjuro o que este pretendia fazer com o acusado, inclusive vida por vida (Dt 19.16-21). Além disso, as testemunhas devem ser envolvidas na execução (Dt 17.2,7).

Todavia, o homicida que realmente se arrepende do crime deve achar misericórdia (Pv 28.13). Embora Davi cometesse um adultério e mandado matar a Urias, ele achou perdão com base nos sublimes atributos da graça de Deus, em seu amor infalível e em sua terna misericórdia (2Sm 12.13,14; Sl 51).

Nele, Pr Marcello Oliveira

As consequências da conversão de Saulo

É maravilhoso ver a transformação que ocorreu na vida de Saulo, especialmente em seus relacionamentos. Ele se tornou mais reverente a Deus, conforme podemos observar em sua oração. Como fariseu, ele já devia ter orado muitas outras vezes, ou pelo menos lido algumas orações, publicamente ou quando estava sozinho. Mas agora ele podia desfrutar de um novo acesso a Deus através de Cristo e de uma nova percepção da paternidade de Deus quando o Espírito Santo testemunhou em seu espírito que ele era filho de Deus. O ilustre comentarista G.H. Lenski disse: “O leão feroz se transformou em um manso cordeiro”.

O relacionamento de Paulo com a igreja mudou completamente. Quando Ananias visitou Saulo e lhe impôs as mãos, dirigiu-se a ele como “irmão Saulo” ou “Saulo, meu irmão”. Essas palavras tocam nossos corações. Elas devem ter soado como música aos ouvidos de Saulo. O quê? O arquiinimigo da igreja recebido como irmão? Sim! Paulo levantou-se e foi batizado na comunidade cristã. Três anos depois, em Jerusalém, os discípulos ainda estavam céticos quanto à conversão de Paulo, mas Barnabé o levou até eles. Devemos dar graças a Deus por Ananias, em Damasco, e por Barnabé, em Jerusalém. Se eles não tivessem dado boas vindas a Paulo, a história da igreja seria outra.

Por fim, Paulo tinha agora uma nova responsabilidade para com as pessoas. Já na estrada de Damasco, Jesus lhe havia dito que ele precisava dar testemunho de tudo o havia visto e ouvido. Ananias confirmou seu chamado como apóstolo aos gentios. Ele também foi advertido que sofreria. De fato, ele precisou ser retirado às escondidas de Damasco e fugir para Jerusalém. Assim, a história da conversão de Saulo começa com sua chegada a Damasco levando uma autorização oficial do sumo sacerdote para prender os cristãos e termina com sua chegada a Jerusalém, como fugitivo.

O mundo está cheio de pessoas como Saulo. Pessoas inteligentes e íntegras, mas flexíveis e intolerantes em relação a Cristo. Não podemos perder a perspectiva de que essas pessoas precisam primeiro se converter para que seus relacionamentos sejam transformados. Por isso devemos exalar a maravilhosa graça de Deus. Amém!

Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Stott, John. A Bíblia Toda, Ano Todo. Ed. Ultimato

                           Stott, John. A mensagem de Atos. Ed. ABU

Mal(ben)dita seja a cidade

Na Bíblia, o tema da cidade é um dos mais relevantes. O nascimento da cidade tem origem na arrogância humana e na independência do homem em relação a Deus. É a linhagem de Caim que dá início à cidade: “Depois Caim fundou uma cidade, à qual deu o nome do seu filho Eno­que” (Gn 4.17b). Caim representa a auto-suficiência humana. Tendo perdido o Éden, o homem está diante da ruptura ecológica da terra que agora produzirá “espinhos e ervas daninhas” (Gn 3.18). A solução humana é apostar em Caim, que não só se revela ingrato para com Deus, mas comete o primeiro assassinato da história bíblica. Caim amplia a ruptura com Deus, com o próximo e com a terra. A solução para os seus problemas é uma só: “fundar uma cidade”. Portanto, a cidade surge como a marca maior da arrogância humana contra Deus. Acompanham a cidade, o surgimento da ciência, da economia e da arte (Gn 4.20-22). O ápice desse progresso perverso aparece quando o texto de Gênesis afirma que o sétimo depois de Adão, pela linhagem de Caim, é Lameque, o primeiro bígamo da história, grande “precursor dos filmes de ‘ação’ de Hollywood”. Os “efeitos especiais” até fazem parte do discurso dele:  “Ada e Zilá, ouçam-me; mulheres de Lameque, escutem minhas palavras: Eu matei um homem porque me feriu, e um menino, porque me machucou.” O quadro é simplesmente assustados e apavorante!

Não muito tempo depois, a situação da cidade piora ainda mais. Em Gênesis 11, os homens querem construir uma cidade que pudesse invadir o céu. No mesmo espírito de Caim, eles agora aprofundam a arrogância humana, dizendo: “Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso ­e não seremos espalhados pela face da terra” (Gn 11.4). A gramática hebraica permite que a expressão “cidade, com uma torre” seja traduzida por “cidade que cresce para o alto”. Como os antigos achavam que o céu estava a cerca de dois quilômetros da terra, a idéia era “invadir o céu”. Era uma espécie de movimento dos “sem céu”, ou dos “invasores do condomínio celestial”. Os homens já “sem terra” e “sem céu”, tornam-se agora “sem comunicação”! De fato, o movimento inicial das cidades cresceu desordenadamente e foi um grande desastre.

Mais uma vez, só Deus para salvar o enredo humano. De forma inesperada, Deus surge da maneira como ninguém poderia esperar. Deus resolve dar início à redenção da cidade por meio de sua própria iniciativa. Por incrível que pareça, Deus constrói e age a partir da mais soberba rebeldia humana. A ação redentora e salvífica de Deus na história tem seu grande centro na monarquia davídica. A própria figura do rei surgira também como sinal da rebeldia e arrogância humana contra Deus (1Sm 8.5-7). Ao querer um rei, imitando os demais povos pagãos, o povo de Israel estava rejeitando a Deus. No entanto, Deus, surpreendentemente não só escolhe um rei, Davi, como também elege uma cidade, Jerusalém. Os símbolos maiores da auto-suficiência e independência humanas tornam-se símbolos da intervenção redentora divina. A suprema derrota transforma-se em vitória absoluta! Os textos bíblicos são inequívocos: “Darei uma tribo ao seu filho a fim de que o meu servo Davi sempre tenha diante de mim um descendente no trono em Jerusalém, a cidade onde eu quis pôr o meu nome (1Re 11.36)” e: “Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei (Mt 5.34,35). Como podemos ver, a monarquia davídica e a cidade de Jerusalém tornam-se o principal palco da intervenção divina na história em favor do homem pecador.

Todavia, a história ainda não termina aqui. O mais surpreendente de tudo aparece no Apocalipse, quando o desfecho da história humana traz de novo a figura da cidade. O texto sagrado é de “parar a respiração”: “Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia. Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21.1-5). Que coisa! A Nova Jerusalém parece o Éden “urbanizado”. Parece que o antigo jardim passou por um projeto de “arquitetura celestial”. O Éden da redenção é melhor do que o da criação!  A cidade que marcou o início do pecado humano é agora marca máxima da redenção. A cidade humana sobe do chão, a cidade de Deus desce dos céus. A cidade humana é efêmera, a de cidade de Deus é eterna. A cidade humana trouxe fragmentação e dor, a cidade de Deus traz união e cura. Deus faz questão de mostrar sua vitória a partir do símbolo máximo do poderio e independência humanos. É surpreendente e verdadeiro: Deus traz a redenção a partir da pior desgraça humana. Diante dessa palavra de esperança e de vitória, olhe lá fora e veja como o sol está mais brilhante, o céu está mais azul, e o ar está menos poluído. Amém!!!

Luiz Sayão – Teólogo. Hebraísta. Coordenador Geral de Tadução da Bíblia NVI. Recentemente, prefaciou meu livro: Reflexões sobre a vida de Paulo – que pode ser adquirido neste site na Seção – Meus Livros

Fonte: www.prazerdapalavra.com.br

Onde estão os pregadores?

Onde estão os pregadores plenamente comprometidos com a essência do Evangelho de Cristo, capazes de ministrar o trigo da Palavra sem o joio das imaginações humanas, tão a gosto da modernidade homilética?

Onde estão os pregadores vestidos de simplicidade e revestidos de transparência, capazes de oferecer o testemunho de sua própria vida como pano de fundo para suas mensagens?

Onde estão os pregadores dispostos a abrir mão de aplausos e de gestos bajuladores, de conchavos e de barganhas que comprometem a seriedade da mensagem da Cruz e ofuscam o brilho da glória da Ressurreição do Santo Jesus?

Onde estão os pregadores que não se vendem por honrarias, não se trocam por homenagens extemporâneas e não se maculam com subvenções de origem obscura?

Onde estão os pregadores que rejeitam ser conduzidos por empresários de profetas, agenciadores de compromissos e mercadejadores de astros e estrelas?

Onde estão os pregadores que ainda se atrevem a pregar sobre os longos cravos, as grossas gotas de sangue e os momentos de agonia do Nazareno?

Onde estão os pregadores que ainda se arriscam a pregar o arrependimento e a confissão de pecados, a humildade e a renuncia, a santidade e o jejum?

Onde estão os pregadores que ministram sobre a Vinda de Cristo, não para serem admirados por sua memória, senão para serem tocados pela sua compaixão?

Onde estão os pregadores que tomam tempo aos pés do Amado, até que se sintam encorajados a dizer: “eu vos entreguei o que recebi do Senhor Jesus…”?

Onde estão os pregadores que não substituem Paulo por Flávio Josefo, Isaias por Sêneca e Jeremias por Victor Hugo?

Onde estão os pregadores que não estão obcecados por encantar o auditório com truques de oratória, visto que estão inundados pela unção plena do Avivamento real, que é capaz de levar quase três mil almas de uma só vez a um estado de quebrantamento real?

Onde estão os pregadores que ainda valorizam os apelos para salvação de vidas, ao invés de simplesmente fazerem delirar as multidões com promessas de carro zero e vida sem lutas e aflições?

Onde estão os pregadores que seguem o exemplo de Ezequiel, que somente foi e falou à casa de Israel depois que comeu o rolo por inteiro?

Onde estão os pregadores que não pretendem usar o púlpito para desabafos, preferindo sofrer a fazer sofrer, perder a fazer perder e morrer a fazer morrer?

Onde estão os pregadores que não foram atacados de amnésia, esquecendo por completo de pronunciar em suas mensagens as palavras pecado e arrependimento?

Onde estão os pregadores que não admitem ser o porta-voz do Mundo, visto já serem a boca de Deus, a voz do que clama no deserto?

Onde estão os pregadores revoltados com a idéia de que a igreja seja um circo, o culto seja um show e o pregador um artista (ou palhaço)?

Onde estão os pregadores que fogem do perigo de manter as massas analfabetas da Palavra, estimulando-as à leitura habitual e meditação constante do Livro de Deus?

Onde estão os pregadores que levam em consideração o conselho de Spurgeon: “ se Deus te chamou para pregar, não aspires ser o rei da Inglaterra”?

Onde estão os pregadores que se pautam pela palavra de I Co 2.7, segundo a qual “ falamos a sabedoria de Deus em mistério, a sabedoria oculta , a qual Deus ordenou antes dos séculos?

Onde estão os pregadores que se fazem fracos para ganhar os fracos, e não poderosos para ganhar os poderosos?

Onde estão os pregadores que dão ao povo comida sólida, ao invés de um divertido fast food?

Onde estão os pregadores que se negam a fazer do ministério uma rendosa profissão, a fim de não perderem a benção de serem sacerdotes e profetas do Senhor?

Onde estão os pregadores que pregam APENAS a Palavra, como foi recomendado por Paulo e não um evangelho social, soft, light, raso e sem compromisso?

Alegra a todos os fiéis filhos de Deus saber que esses pregadores existem, não são uma classe em extinção, não perderam sua identidade nem sua autenticidade. O único problema é descobrir onde eles estão: se na cova de Adulão, se embaixo de um zimbro, se à sombra de uma aboboreira, se junto ao rio Quebar. Não é tão fácil encontrá-los.

Mas que existem, existem.

Uns pensam que somente existe Elias. Mas Deus diz que são sete mil.

Pr Geziel Nunes Gomes

Os 3 jardins mais importantes da história

O belo sempre nos encanta. Nossos olhos são atraídos pelo paisagismo dos belos jardins que estão engrinaldados de flores. Tenho a convicção que você já sentiu este encantamento ao visitar um “stand” de um belo apartamento, que em sua estrutura contava com belos jardins e um lindo paisagismo. A Bíblia também fala de alguns jardins. Nesta reflexão destacaremos os três mais importantes:

1. O jardim do Éden (Gn 1-3).

A história da humanidade começa num jardim, o jardim do Éden. Lá nossos primeiros pais viveram na inocência, desfrutando de todas as belezas daquele jardim. Naquele jardim desfrutavam de plena e intima comunhão com Deus. Naquele jardim, não havia dor nem tristeza. Tudo era belo e encantador. O pecado, porém, entrou no mundo por meio de Adão. Ele desobedeceu a Deus, e toda a raça humana caiu nas teias do pecado. Adão foi expulso do jardim e viu a terra produzir espinhos, viu sua mulher dar à luz com dores e viu o trabalho, até então deleitoso, tornar-se penoso.

O jardim do Éden foi perdido, e a raça humana mergulhou numa história de rebelião, tristeza e morte. O pecado de Adão o separou da natureza, de si mesmo, do próximo e de Deus. O pecado trouxe transtornos na natureza, nos relacionamentos humanos, bem como na relação com Deus. A partir da entrada do pecado no mundo, a história está marcada por lágrimas, doença, sofrimento e morte.

2. O jardim da Cidade Celeste (Ap 21 – 22).

A história da humanidade terminará num outro jardim, o jardim da Cidade Celeste. O jardim perdido será restaurado. Lá não entrará nenhuma maldição. Lá o pecado não penetrará suas portas. Lá as lágrimas serão enxugadas. Lá o sofrimento, a doença e a morte não entrarão. Nesse jardim, não haverá noite, pois o Cordeiro de Deus é a sua lâmpada. Nesse jardim, o rio da água da vida vai fluir do trono de Deus. Nesse jardim, os que foram expulsos por causa do pecado, e agora estão lavados pelo sangue do Cordeiro e vestidos de vestiduras brancas, entoarão um novo cântico àquele que está assentado no trono.

Nesse jardim reconquistado, teremos um novo corpo, cheio de glória, semelhante ao corpo de Cristo. Neste jardim, viveremos e reinaremos com Cristo pelos séculos dos séculos. Ninguém poderá nos separar uns dos outros nem nos afastar da presença daquele que nos deu vida abundante e eterna. Nesse jardim, as belezas mais esplêndidas da terra serão figuras opacas diante do seu exuberante esplendor.

3. O jardim do Getsêmani (Mt 26.36-46).

A história da humanidade revela que entre esses dois jardins, o jardim do Éden e o jardim restaurado, há o jardim da agonia, o jardim do Getsêmani. É pela desolação, pelo sofrimento e sacrifício vicário de Cristo, pela indescritível angústia no Getsêmani, que o “rio da vida límpido como cristal”, corre nesse jardim restaurado. Sem o Getsêmani, não haveria a Nova Jerusalém.

O apóstolo Paulo diz: “[…] quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho […]” (Rm 5.10). No jardim do Getsêmani, Jesus enfrentou solidão. Ali ele ficou sozinho quando travou a mais terrível batalha do universo. Ali Ele suou sangue quando resoluta e voluntariamente se entregou por nós. No Getsêmani, a antiga serpente, que enganou Eva no jardim do Éden, teve sua cabeça esmagada. Ali Jesus aceitou de bom grado o cálice amargo, de se fazer pecado e maldição por nós, ao sofrer a dolorosa e maldita morte de cruz em nosso lugar.

Ali, o Cordeiro de Deus, não levou em conta a ignomínia da cruz por saber que a alegria que lhe estava proposta, a alegria de nos salvar e nos reconduzir de volta ao jardim de Deus, o jardim restaurado da Jerusalém celestial. A Bíblia diz que onde abundou o pecado, superabundou a graça. Pela sua morte, Cristo trouxe vida; pelo seu sacrifício, redenção. Agora, por meio do seu sangue, temos livre acesso à presença do Pai e, quando da sua vida, entraremos no jardim restaurado de Deus, onde estaremos para sempre com Ele. Aleluia!

Rev. Hernandes Dias Lopes

Adaptado por: Marcelo Oliveira

Um espírito mau da parte do Senhor?

Talvez uma das perguntas mais discutidas nas igrejas cristãs seja essa. Como entender um texto bíblico que afirma que um “espírito mau” da parte do Senhor atormentava Saul (1Sm 16.14)?

Na verdade o problema parece ser mais complicado quando vemos que esse texto não é único. Há diversos outros textos bíblicos semelhantes: Em Juízes 9.23 lemos que Deus envia um “espírito mau” para atuar entre Abimeleque e os “cidadãos de Siquém”; 1 Samuel 18.10 e 19.9 trazem mais informação sobre o espírito mau da parte do Senhor e Saul; 2 Crônicas 18.19-22 fala até de um “espírito mentiroso” colocado pelo Senhor na boca de profetas. Há ainda textos que incomodam por dizer que “Deus se arrependeu do mal” (Êx 32.14) e que “Deus cria o mal” (Is 45.7).

Para começar a discutir uma questão tão complexa é importante destacar que o substantivo “mau” e seu adjetivo “mau” tem significado muito genérico. Na verdade, o termo precisa ser dividido em categorias menores. John Hick, um grande estudioso do assunto tem dividido o mal em quatro categorias: a) existe o mal originado por seres pessoais. Esse é o mal moral, isto é, o pecado; b) há também o mal como sensação física da dor e a angústia do sofrimento psicológico, isto é, o sofrimento subjetivo; c) há ainda o mal natural: é o caso do terremoto, da epidemia etc.; e d) existe finalmente o que é chamado de mal metafísico ou inerente à criatura. Refere-se à finitude e contingência dos seres criados que lhe dão um condição de perene de imperfeição.

A tradição teológica cristão sempre viu o mal como tendo origem no uso incorreto do arbítrio humano. Agostinho, o famoso bispo de Hipona, afirmava que tudo o que Deus criou é bom, e que o fenômeno do mal ocorre apenas quando seres intrinsecamente bons se corrompem. Não pode existir nada inteiramente mau, nenhum ser. Mesmo não admitindo a existência ontológica do mal, Agostinho procurou defender a Deus de qualquer culpa pela existência do mal, negação do bem. Por isso, afirmou também que se a existência do mal não fosse uma coisa boa, certamente Deus onipotente não o teria permitido.

Para entender os textos bíblicos, é preciso reafirmar que a fé bíblica do Antigo Testamento, monoteísta e ética em sua essência, nunca admitiu a idéia de que há seres maus comparáveis a Deus. Não existe um dualismo. Toda experiência humana deve ser explicada em Deus e a partir dele. A visão monista do mundo e da divindade de Israel fazia com que até mesmo toda experiência negativa também fosse atribuída a Deus. Por isso até os chamados espíritos maus são enviados por Deus e estão sob o seu domínio, como é o caso de Satanás no livro de Jó (Jó 1.6). Isso chegou a permitir um certo henoteísmo, pois Deus é considerado em alguns textos como o deus dos deuses (Sl 95.4), isto é, acima dos deuses que só existem sociologicamente. Os deuses das nações nada são, e o Deus verdadeiro está acima de todos eles. Por isso há também uma idéia da vitória divina sobre as figuras mitológicas e suas nações. Este é o caso de Raabe, do Leviatã e da Serpente. Na verdade não há um espaço para qualquer divindade ou ser mitológico que se apresente como o opositor de Deus. Isso significa que todos os “seres maus” estão subordinados a Deus, e de certa forma, acabando sendo também “seus servos”, pois não passam de criaturas que só agem até o limite que Deus lhes permite atuar.

Retomando a amplitude semântica do termo “mal”, precisamos entender que é bem possível que a palavra não tenha significado ético em muitos desses textos bíblicos citados. Na verdade, “mal” tem em diversas passagens o significado de “desgraça”, “infortúnio”, “calamidade”. Se entendermos o termo dessa forma, é possível que o “espírito mau” não seja um demônio que se opõe a Deus, mas sim um “espírito arruinador” (que traz sofrimento) de juízo. Isso significa também que o Senhor “se arrependeu da punição que traria ao povo”, pois Deus não se arrepende do mal enquanto pecado! Finalmente Deus não cria o mal, no sentido ético, mas sim “a desgraça” (Veja Is 45.7 na NVI). Deus permite o mal, mas nunca é o criador direto do mal ético; ele não é o autor do pecado.

(Luiz Sayão) – Teólogo. Hebraísta (USP). Coordenador Geral de Tradução da Bíblia NVI. Prefaciou o meu novo livro: Reflexões sobre a vida de Paulo

Fonte: www.prazerdapalavra.com.br