Rui Barbosa, um gênio desconhecido e esquecido

Sua vida foi marcada pelo espanto, pela admiração, pelos elogios de todas as pessoas que constatavam os indícios de genialidade daquele meninozinho de olhos brilhantes. Ele era dotado de uma tão grande capacidade de memorizar o que aprendia, e se expressava com tanta clareza e firmeza de argumentos, que encantava e conquistava a admiração de todos.

 Todos paravam para ver aquela poderosa inteligência em ação. Ele só tinha cinco anos de idade quando, em Salvador, o professor Antônio Gentil Ibirapitanga, que lhe ensinou a ler e a escrever, comentou: “Este menino de cinco anos é o maior talento que eu já vi. Em quinze dias ele aprendeu análise gramatical, é capaz de distinguir orações e conjugar todos os verbos regulares.”

OS PRÓPRIOS RIVAIS ELOGIAVAM SUA INTELIGÊNCIA 

 Dezenas de grandes homens o elogiaram ao longo de sua vida. Até seus rivais, seus inimigos, durante as mais acaloradas disputas políticas, jurídicas ou filológicas, muitas vezes não se continham e proferiam uma frase de admiração e espanto diante da genialidade de Rui Barbosa. 
 

Em 1902, durante a maior polêmica filológica da língua portuguesa, motivada por críticas que o então senador e jurista Rui Barbosa havia feito à redação do Código Civil, Rui foi refutado por ninguém menos que seu antigo mestre, o filólogo e famoso gramático Ernesto Carneiro Ribeiro, apoiado por um grupo de 21 competentes magistrados, liderados, por sua vez, pelo fenomenal jurisconsulto Clóvis Beviláqua.

 Rui duelou com todos eles, e os venceu esmagadoramente com sua assombrosa erudição, a ponto de no final Clóvis Beviláqua, o líder dos opositores naquela disputa, comentar, assombrado:

 “Ouvindo este homem, tenho a impressão de que não estou diante de um ser humano, e sim diante de um ciclope, um daqueles gigantes da mitologia grega que tinha um imenso olho no meio da testa. Com sua capacidade de ler, ler e ler, e armazenar como ninguém, tudo o que passa diante dos seus olhos, Rui é um desses ciclopes, um monstro dotado de poderes sobre-humanos de leitura, interpretação e memorização”.
    

Em 1885, em plena campanha abolicionista, José do Patrocínio, maravilhado diante da eloquência do baiano genial, comentou: “Deus acendeu um vulcão na cabeça de Ruy Barbosa.”
    

Em 1890 foi a vez do próprio imperador D. Pedro II reconhecer: “Nas trevas culturais que caíram sobre o Brasil, a única luz que alumia, no fundo da nave, é o talento extraordinário de Ruy Barbosa.”

Em suas memórias intituladas Minha Formação, o grande Joaquim Nabuco comentou: “Ruy Barbosa é hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país”.

TRADUTOR DA BÍBLIA
    

Entre inúmeras proesas intelectuais, Rui traduziu a polêmica e clássica obra O Papa e o Concílio, escrita por Janus. O curioso é que, ao prefaciá-la, superou o número de páginas da obra, e demonstrou ter mais conhecimento sobre o assunto que o próprio historiador Janus!

Compondo uma equipe de eruditos pastores e filólogos presbiterianos, Rui Barbosa traduziu a Bíblia dos idiomas originas para o português. Esse trabalho resultou na hoje conceituada e raríssima Tradução Brasileira da Bíblia.

UM GÊNIO ESQUECIDO E DESCONHECIDO

Porém, e infelizmente, o conhecimento da obra de Rui Barbosa é hoje privilégio tão-somente de juristas, de filólogos, de historiadores e de alguns literatos.

Consciente de tal fato, exporemos a seguir, criteriosa e seletivamente, um  trecho escolhido de sua obra, particularmente no que diz respeito ao grande exemplo e aos muitos incentivos que ele deixou aos jovens.

O CÉLEBRE DISCURSO PALAVRAS À JUVENTUDE
    

Começaremos apresentando os “melhores momentos” do seu célebre discurso “Palavras à juventude”, pronunciado diante de uma turma de alunos do colégio Anchieta, em São Paulo.

Após saudar as autoridades presentes, Rui se dirige aos alunos e, no seu insuperável estilo de orador sublime, descreve a suntuosa paisagem que se estende diante do colégio, as serranias, os longes azulados, as verdejantes florestas e os pássaros que, nas manhãs orvalhadas, acordam os alunos com os seus cânticos maviosos e livres. Após descrever a importância de se educar a mocidade, Rui ressalta o valor de quem se dedica a cumprir essa nobre missão.

 Em seguida, passa a tecer considerações sobre a responsabilidade da pátria na educação de seus filhos. Mas o que é a pátria?

 “A pátria não é ninguém: são todos, e cada qual tem no meio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não difamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo”.

Jefferson Magno Costa

Adaptado por: Pr Marcelo Oliveira

9 Responses to Rui Barbosa, um gênio desconhecido e esquecido

  1. josivaldo de frança pereira disse:

    Belíssima poastagem caríssimo pastor Marcello. Continue assim, nos surpreendendo com postagens maravilhosas.

  2. Tharsis disse:

    Quem seria o Rui Barbosa da atualidade?

  3. Valeu, pastor Marcelo. Percebe-se que o irmão conhece mesmo tudo da vida de Rui Barbosa. Parabéns!

  4. Damasceno disse:

    A paz do Senhor, nobre companheiro…

    Parabéns pelo post. Em tempo oportuno, ele homenageia o nosso maior vulto da filologia no Brasil. Não é a toa que é patrono e fundador da cadeira nº 10 da ABL e foi quem mais contribuiu, no meu ponto de vista, com o desenvolvimento de nossa lingua e literatura enquanto viveu, a ponto das pérolas que ele disse se constituirem de relevante valor, tais como:

    “O homem vale pelo que pensa, pensa pelo sabe e sabe pelo que lê”. Logo, se nós fôssemos fazer uma leitura inversa, poderíamos dizer que quem NÃO lê, não sabe; quem NÃO sabe, não pensa; quem NÃO pensa, parafraseando e reinterpretando Descartes, NÃO EXISTE. Assim, a leitura não é só cultura; é percepção e compreensão do mundo (de tudo que nos cerca).

    Outra pérola dele é: “A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é o maior elemento da estabilidade”. O nobre literato nos brinda com o seguinte entendimento: a liberdade é condição sine qua non para a estabilidade de um país. “Em quais áreas?”, poderíamos inquirir e ele nos responderia: todas (política, social, religiosa, comercial, jurídia, financeira, cultural, etc).

    Concluindo, Ruy Barbosa de Oliveira[1] (Salvador, 5 de novembro de 1849 — Petrópolis, 1 de março de foi: jurista, político, diplomata, lobista, escritor, filólogo, tradutor e orador brasileiro. Formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

    Senador, ministro e candidato à Presidência da República em duas ocasiões, tendo realizado pioneiras campanhas. Participou da Campanha Abolicionista, a defesa da Federação, a própria fundação da República e da Campanha Civilista. Orador e estudioso da língua portuguesa, foi nomeado presidente da Academia Brasileira de Letras em substituição a Machado de Assis. Foi representante do Brasil na Segunda Conferência Internacional da Paz, em Haia e, já no final de sua vida, foi nomeado Juiz da Corte Internacional de Haia, um cargo de enorme prestígio.

    Eis uma personalidade de nossa cultura que, em tempos de vacas magras como os que vivemos hoje, é lícito imitar.

    Nos laços do Calvário,
    Prof Damasceno
    http://www.profdamasceno.blogspot.com

  5. Fillip disse:

    Eu sempre gosto de ouvir e ler histórias sobre Rui Barbosa!

  6. “Os que a servem são os que não invejam, os que não difamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo”.

    Ah se o povo brasileiro discutisse mais seus problemas, buscassea prática da justiça e cultivasse uma liderança entusiasmadora?

    Recentemente a cidade de Nova Friburgo na Região Serrana do Rio de Janeiro, onde moro, foi atingida por uma tromba d’áua no dia 12/01/2011. Morreram centenas de pessoas e outras milhares encontram-se desabrigadas ou desalojadas.

    A causa desta catástrofe não se explica somente pela fúria da natureza, mas tem seus motivos na má política habitacional em que muitas famílias vivem nas chamadas áreas de risco e têm seus imóveis aprovados pelo Poder Público.

    Pior é que não foi a primeira vez que ocorreu uma tragédia climática por aqui. Quase todos os anos há deslizamentos de terra e enchentes na Região Serrana do RJ e em diversas outras partes do país. Em 2007, tivemos muitas mortes e desabrigados. No ano de 2009 foi a vez de Santa Catarina. E quem não se lembra de Angra, Ilha Grande, Morro do Bumba e das cidades nordestinas atingidas no ano passado?

    Hoje em dia, com o aquecimento global e a falta de preparo das nossas cidades, o país enfrenta um de seus maiores problemas: as chuvas fortes. Neste momento, mais do que nunca, nossa população precisa se opor à corrupção dos políticos, lutar pelos seus direitos, exigir condições dignas de habitação, prevenir desastres, respeitar a natureza, cultivar valores de respeito à vida, amar o próximo e agir com ética.

  7. Daniel Silva disse:

    Queria que ele não tivesse mandado queimar todo registro histórico do período escravagista do Brasil. Como fizeram outras nações.

  8. fefr disse:

    adorei

  9. Rvdo.Kleber disse:

    Sem duvida nenhuma,uma mente extraordinaria,um divisor de aguas do mundo juridico.Rui foi um homem que viveu alem do seu tempo.da qual tenho profundo apreço.

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