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Uma Cristologia no livro dos Salmos

O Salmo 22 é chamado de “o salmo da cruz”. Normalmente pensamos apenas nos Profetas como anunciadores da vinda e do ministério do Messias, mas também os salmos testemunham dele com abundância de dados. O próprio Senhor Jesus assim declarou, em Lucas 24.44: “São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. É muito provável que Jesus empregasse a palavra Salmos referindo-se à terceira parte da Bíblia Hebraica, Os Escritos. Mas a passagem em tela ilustra bem a verdade que Jesus se viu nos Salmos. Aliás, uma observação de Agostinho, em um de seus comentários sobre os Salmos mostra isso. Ele se referiu a Jesus como “este admirável cantor dos salmos” [1].

Poucos textos do Antigo Testamento são tão realistas e detalhistas sobre a morte do messias de Deus, Jesus de Nazaré, como o Salmo 22. O relato é de profundo impacto. Basta dizer que Aage Bentzen, que não é conhecido propriamente por escrever estudos devocionais, mas sim artigos bem críticos, comentou sobre seu conteúdo: “não é a descrição de uma doença, mas, sim, a de uma execução” [2]. A Bíblia de Jerusalém comentou, em nota de rodapé: “ (…) Próximo do poema do Servo sofredor (Is 52.13-53.12) este Salmo, cujo início Cristo pronunciou sobre a cruz e no qual os evangelistas viram descritos diversos episódios da Paixão, é, portanto, messiânico, ao menos em sentido típico” [3].

Foi nela que Jesus buscou sua quarta palavra pronunciada na cruz e que é apresentada em Mateus 27.46: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.  Das sete palavras pronunciadas pelo Salvador, na cruz, esta é, sem dúvida, a mais sofrida. O sofrimento da cruz não foi acidental. Jesus se apropria de um escrito de quase um milênio antes de seu nascimento e cujo cumprimento, mais do que em qualquer outro, cabe muito bem nele. Valham-nos as palavras do pregador puritano Arthur Pink, em um sermão em Mateus 27.46:  “A palavra ‘desamparado’ é uma das mais trágicas do discurso humano. O escritor (parece-me ser ele, nota minha) não esquecerá facilmente sua sensação de ter passado por uma cidade deserta de todos os seus habitantes – uma cidade abandonada. Quantas calamidades cabem nesta palavra – um homem abandonado por seus amigos, uma mulher abandonada por seu marido, uma criança abandonada por seus pais! Mas uma criatura abandonada pelo seu Criador, um homem desamparado por seu Deus – ó, isto é o mais trágico de tudo”. [4]

Jesus proferiu o Salmo 22.1 em sua língua natal, o aramaico. Foi aqui que ele manifestou o maior de todos os seus sofrimentos: o Pai o abandonara. Ele, que antes dissera “eu estou no Pai, o Pai está em mim” (Jo 14.10), agora se vê desamparado pelo Pai. Aqui se pode ver o cumprimento de Gálatas 3.13, segundo o qual ele nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição em nosso lugar. O fato é que o sofrimento de Jesus é muito bem descrito aqui. O sofrimento físico, infligido ao seu corpo, é muito bem demonstrado nos versículos 14-16. “Os meus ossos todos se desconjuntam” mostram o efeito da crucificação e seu poder de desconjuntar o corpo humano.  “Meu coração está como a cera” é uma perfeita descrição de como o coração se sobrecarregava com a crucificação. Todo o corpo pendia dos braços, a respiração se tornava difícil e o trabalho de bombear o sangue, com escassez de oxigênio, se tornava um esforço enorme. Um artigo escrito por um pastor, médico, analisando a crucificação, põe esta situação em termos mais científicos: “Sofreu durante horas a fio a dor sem limites, ciclos de retorcimento, cãibras que desconjuntavam seus ossos, asfixia parcial e intermitente e dor ardente quando os tecidos eram arrancados de suas costas dilaceradas ao mover-se de baixo para cima contra o madeiro áspero da cruz. Então veio outra agonia: a dor profunda e esmagadora no peito quando o pericárdio, a membrana que envolve o  coração, começou a encher-se de soro e pressionava o coração. A profecia no Salmo 22.14 estava sendo cumprida: ‘Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se-me dentro de mim’”. [5]

“Seco está o meu paladar, como um caco, e minha língua colada ao maxilar” (v. 15) é uma perfeita descrição da sede, produto da febre. É neste momento que ele expressa sua sede: “Tenho sede” (Jo 19.28). É neste momento que lhe dão vinagre (Jo 19.29), cumprindo-se, então, outro salmo messiânico e também de sofrimento, o 69, em seu versículo 21: “Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre”.

Ainda no contexto da dor física, o versículo 17 (na Bíblia de Jerusalém, mas 16 na Versão Revisada) traz um problema de tradução. Diz ele: “um bando de malfeitores me envolve, como para retalhar minhas mãos e meus pés”. O problema é com o verbo traduzido por “retalhar” (Bíblia de Jerusalém) ou “traspassaram” (na Versão Revisada – “traspassaram-me as mãos e os pés”). Citamos a Bíblia de Jerusalém, em rodapé, porque o Texto Massorético está incompleto e traz uma nota de rodapé declarando como a New International Version lê: karû. Diz a BJ: “‘Como para retalhar’: ke’erô (do verbo ‘arah), conj.; ‘como um leão’: ka’ari; hebraico, ininteligível; grego: ‘eles cavaram’; siríaca: ‘eles feriram’; Vulgata: ‘eles furaram’. A passagem recorda Isaías 53.5, mas os evangelistas não a utilizaram no relato da Paixão”.[6]

Além do sofrimento físico, houve o sofrimento moral. Pode parecer estranho, mas creio que este dói muito mais que o físico. É sabido que feridas emocionais e morais custam a cicatrizar muito mais lentamente que as físicas. Os versículos 12-13 (“Muitos touros me cercam; fortes touros de Basã me rodeiam. Abrem contra mim a sua boca, como um leão que despedaça e que ruge “) mostram algo deste sofrimento. Havia ódio, um profundo ódio. Que se nota, novamente, no versículo 16: “pois cães me rodeiam; um ajuntamento de malfeitores me cerca”. Parece haver na multidão uma atitude de ironia, de deboche ou desejo sádico de ver a morte de alguém: “eles  me olham e ficam a mirar-me” (v. 18).

Os seus despojos são repartidos, numa atitude de desprezo. Ainda não está morto, mas é tratado como se fosse, com a túnica sendo sorteada: “repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica  lançam sortes” (v. 19). Este texto é cumprido em   Lucas 23.34. Os despojos de um criminoso eram o pagamento dos seus executores. Algo parecido com o que fazem os chineses, hoje: quando alguém é executado à bala, a conta da bala é encaminhada à família. A lei foi cumprida, mas a pessoa é tão inútil e danosa ao Estado que sua execução é cobrada.

Esta zombaria é muito bem mostrada nos versículos 6 a 8 : “Quanto a mim, sou verme, não homem, riso dos homens e desprezo do povo; todos os que me vêem caçoam de mim, abrem a boca e meneiam a cabeça: ‘Voltou-se a Iahweh, que ele o liberte, que o salve, se é que o ama!’” (Bíblia de Jerusalém). É o sarcasmo dos circunstantes ao pé da cruz, como se vê no relato dos evangelistas.

Há dois outros aspectos que são altamente relevantes, do ponto de vista profético e teológico, no corpo do Salmo 22. Do versículo 19 ao 22 vem o livramento e do 27 ao 31, a declaração de sua vitória. Mas sem deixar de ter estas idéias como fundamentais à nossa fé, importa que ressaltemos o testemunho profético do salmo messiânico, relatando o sofrimento necessário do messias. E algo importante: seu livramento e sua exaltação sucedem por causa do seu sofrimento. Ou seja, o sofrimento do messias está presente nos planos do Senhor.  Voltamos a este ponto: sofrer não significa  falta de fé e não indica ausência de confiança em Deus. O sofrimento faz parte do plano de Deus e está na raiz da redenção da Igreja.  E, mais uma vez, precisamos retornar a uma declaração do Senhor Jesus: “não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, guardarão também a vossa” (Jo 15.20). Não se pode pensar numa vida cristã sem sofrimentos, quando se reconhece que eles estão presentes na vida do próprio Salvador. E de tal maneira decididos que foram profetizados um milênio antes. O sofrimento de Jesus, o messias dos salmos, não foi acidental. Foi planejado e por isso profetizado. Pode o discípulo pretender não sofrer? Pode-se ver o sofrimento como estando fora do propósito divino? Temos direito de presumir uma vida de vitória.

UM RESUMO – Torna-se difícil fazer um resumo das observações do Salmo 22 pela vastidão da matéria. Mas pode-se sintetizar seu conteúdo nos seguintes termos: o caminho escolhido pelo messias é o do sofrimento. Não nos parece racional, a nós, no século XX, produtos da cultura ocidental e filhos intelectuais dos gregos que somos. Mas o caminho não é difícil de entender, à luz da cultura oriental: o pecado trouxe o sofrimento. Mas é o sofrimento que traz a redenção. Um homem carrega o mais intenso sofrimento para carregar o pecado da humanidade, para levantá-la e reconduzi-la a Deus, na trilha que seguia ela antes do pecado. Sofrimento não é, necessariamente, indício de abandono da parte de Deus nem falta de fé. Pode ser a pedagogia divina para que seus planos obtenham consecução. Pensar nisso se torna necessário, tamanha a ênfase no sofrimento do Messias como mostra o Salmo 22.

Pr Isaltino Gomes 

 


[1] GOURGUES, M. Os Salmos e Jesus – Jesus e os Salmos. S. Paulo: Edições Paulinas, 1984, p. 96.

[2] BENTZEN, Aage. King and Messiah. Citado por KIDNER, Derek, em Salmos 1-72 – Introdução e Comentário.S. Paulo:  Vida Nova e Mundo Cristão, 1980, p.  123. Conforme Kidner, o itálico é de Bentzen.

[3] Trecho da nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, em comentário sobre o Salmo 22.

[4] PINK, Arthur. The Seven  Sayings of the Saviour on the Cross. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House. 1958, p. 65.

[5] Artigo  “A crucificação: uma descrição médica”, publicada no jornal Palavra da Fé, ano II, no. 4, março/abril de 1984, página 5. Não possuo mais dados do jornal, pois o que tenho é um recorte contendo o artigo usado.

[6] É o que traz o rodapé da Bíblia de Jerusalém, em comentário in loco, mostrando as variantes do texto. O hebraico não faz sentido e nem mesmo qualquer tradução pode ser entendida facilmente. A idéia é de mãos sendo rasgadas, possibilitando entender a crucificação. Isto torna o relato fantástico, posto que os hebreus desconheciam a morte por cruz. Os romanos a copiaram dos cartagineses e a disseminaram. Mas na época do Salmo 22, um milênio antes de Jesus, sua declaração foge ao limite da compreensão natural. Mais aspectos desta questão crítica aparecem em Kidner (op. cit.), p. 126 e em DELITZSCH, Franz, Biblical Commentary on the Psalms, vol. 1, ps. 317-320.

Hoje à noite, estarei na RIT TV !

SHALOM!

Amados, esta noite estarei na RIT TV – no programa VEJAM SÓ – debatendo sobre:  Os dons de 1Coríntios 12 cessaram, ou ainda estão disponíveis hoje?

O programa começa às 22h15

Você assiste pelos canais:

6 DA SKY

12 DA NET

Ou pelo site: www.vejamso.com.br – clique – assistir AO VIVO 

 

Nele, Pr Marcello 

Pregação na catedral da AD Madureira – RJ

SHALOM!

Amados, compartilho a mensagem que preguei na catedral da AD Madureira – RJ –     Rev. Abner Ferreira, a quem expresso minha gratidão e consideração. 

Tema da mensagem:  Enfrentando a tragédia, sem perder a doçura 

grato, Pr Marcelo de Oliveira 

 

Uma análise da palavra grega “analysys”

A morte para o cristão não é o final da linha. A morte na vida do cristão não tem a última palavra. Depois da morte vem o juízo, quando uns entrarão na bem aventurança eterna e outros serão atormentados eternamente. A morte nivela todos os homens: pobres e ricos, jovens e velhos, doutores e analfabetos. Todos nós viemos do pó e voltaremos a ele. Por outro lado, nem todos terão o mesmo destino após a morte.

 

O grande paladino do cristianismo, o idoso e surrado Paulo, fechando as cortinas da vida, na ante sala do martírio escreve: “Quanto a mim, estou sendo oferecido como libação, e o tempo da minha partida é chegado” (2 Tm 4.6). O apóstolo Paulo usa aqui um eufemismo para definir a morte para o cristão. Em vez de falar que o tempo de sua morte é chegado, fala do tempo de sua partida. Neste momento vemos a riqueza das línguas originas e sua importância para aclarar muitos textos das Escrituras. A palavra grega usada neste texto é analysys (partida) e esta possui três significados, que veremos agora: 

 

1)  Ela significa ficar livre de um jugo.

 Esse era o termo usado pelos agricultores em referência ao ato de remover o jugo dos bois. O apóstolo Paulo havia levado o jugo de Cristo, que era suave (Mt 11.28-30), mas também carregou inúmeros fardos em seu ministério (1 Co 11.22; 12.10). Portanto, partir e estar com Cristo significa colocar de lado todos os fardos, pois o seu trabalho na terra estaria consumado. A morte para o cristão é alívio de toda fadiga (Ap 14.13). A morte é descanso (Hb 4.9). A morte é entrar na posse do reino e no gozo do Senhor (Mt 25.34).

 

A morte para o cristão não é decadência, mas aperfeiçoamento para entrar na glória, na cidade santa, ma Jerusalém celeste. Enquanto estamos aqui, passaremos muitas lutas e sofrimentos. Aqui há choro e dor. Aqui há vales sombrios e trabalhos extenuantes.

 

2) Ela significa levantar acampamento.

 A ideia central aqui é a de desatar as cordas da tenda, remover as estacas e prosseguir a marcha. A morte é colocar-se em marcha. Cada dia dessa marcha é uma jornada que nos aproxima mais do nosso lar. Até que enfim se levantará pela última vez o acampamento neste mundo e se transferirá para a residência permanente na glória. A morte é uma mudança de endereço. A Bíblia diz: “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Co 5.1). O que o texto está dizendo é que esta casa terrestre é nosso corpo frágil e sujeito ao cansaço, à doença e à morte. Quando esta casa se desmoronar, então, teremos um edifico (no grego: mansão), feita não por mãos, mas eterna nos céus.

 

Conta-se que um pastor foi visitar um crente no leito de morte.  Ao chegar no leito perguntou-lhe: “Meu irmão, como você está”? O irmão enfermo respondeu: “Pastor, a casa onde eu moro está desmoronando, mas eu já estou de malas prontas para me mudar. Estou indo para a casa do Pai”.  Dwight Moody, o grande evangelista do século 19, disse na hora da sua partida: “Afasta-se a terra, aproxima-se o céu, estou entrando na glória”.

 

3)  Ela significa desatar as amarras do barco, levantar a âncora e lançar-se ao mar.

A palavra “partida” significa literalmente desatar as amarras de um bote e singrar as águas, atravessando para a outra margem. A morte para o cristão é singrar as águas profundas da vida e chegar do outro lado, na praia áurea da eternidade. A morte para o cristão é ir para o céu (Fp 1.21,23). A morte para o cristão não é fazer uma viagem rumo ao desconhecido. Não é mergulhar na escuridão do sofrimento nem viver perambulando pelo espaço.

A morte para o cristão é preciosa ao Senhor (Sl 116.15). Morrer para o cristão é lucro (Fp 1.21). Morrer é deixar o corpo e habitar com o Senhor (2 Co 5.8). Morrer é bem aventurança (Ap 14.13). Morrer é partir para estar com Cristo o que é incomparavelmente melhor (Fp 1.23). Isso não significa que devemos aborrecer da vida e amar a morte. Não significa que devemos desistir de lutar pela vida e buscarmos os recursos para vivermos bem. Não. O cristão não teme a morte. Ele sabe em quem tem crido. Sua esperança está naquele que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25)

Pr Marcelo de Oliveira

Bibliografia: Rienecker, Fritz e Rogers, Cleon. Chave linguistica do NT. Ed. Vida Nova

Stott, John. A mensagem de 2 Timóteo. Editora ABU

Sobre facebook e Igreja

O Pr. Samuel Amaro dos Santos (IB em Laje do Muriaé) publicou em “O Jornal Batista”, um bom artigo com o título “Facebook é melhor que igreja?”. Gostei e reparto com meu rebanho. Quatro itens do artigo me atraíram, e comento-os brevemente.

 

 (1) “Crentes que ficam no Facebook fazendo piada, defendendo com unhas e dentes seu time, conversando fiado, falando de novela, e não falam de sua igreja, não a defendem, não promovem suas programações”. Meu comentário: As pessoas defendem com vigor suas paixões. Mas nem sempre a igreja está entre elas. Há quem veja a igreja como a Geni, da música do Chico Buarque: joga pedra nela. Dêem à igreja o tempo que dão ao Face.

 

(2) “Crentes e até líderes de igreja que passam  uma, duas, cinco, dez, e, pasmem, até quinze horas no Facebook e não vão aos cultos da igreja que duram uma hora ou uma hora e meia”. Meu comentário: Desisti de conversar pelo Face. Nem visito página alguma. Para conversa, telefone-me ou envie um email. Um dia perdi (perdi, mesmo) mais de uma hora no Face. Lendo platitudes e vendo troca de ofensas.  Há muita futilidade e pouca coisa que edifica.

 

(3) “Crentes que trocam a comunhão da igreja, o aperto de mão, o sorriso, o abraço, o orar juntos, o ouvir o irmão, o falar com o irmão, o perdoar, a cura nos relacionamentos para ficar sozinho em um ambiente com um computador, um mouse, um teclado, um monitor, etc.”. Meu comentário: As pessoas estão se isolando cada vez mais de pessoas reais. Há crentes que fogem dos outros. A vida cristã tem este componente psicológico de nos interrelacionar com pessoas reais. Somos entes gregários, que precisam de companhia. Por que companhia virtual, se na igreja há companhia de carne e osso?

 

(4) Crentes que compartilham várias coisas menos a sua fé, crentes que curtem várias coisas só não curtem a igreja”. Meu comentário: Alguns até se escondem atrás de pseudônimos em chats na Internet. Conversam imoralidades ou assumem posições contrárias à sua fé.

 

(5) “Crentes que adicionam em sua lista de amigos pessoas que nunca viram, mas que não conhecem nem os membros de sua igreja, seus irmãos em Cristo”. Meu comentário: E se queixam que os irmãos não os amam. Não se envolvem com eles! Têm amigos virtuais, mas não amigos reais entre os irmãos.

Tempo é um bem valioso. E se encurta diariamente. Cada dia, uma folha de nosso calendário é tirada e não é reposta. Não desperdice seu tempo. Se o Facebook ou a Internet tomam mais tempo seu que a  vida espiritual, desculpe-me: sua vida está sendo perdida. A não ser que você seja tão pobre que nem note isto. Não  perca seu tempo. E use-o para sua vida espiritual.

Era a hora mais quente do dia


O SENHOR Deus apareceu a Abraão no bosque sagrado de Manre. Era a hora mais quente do dia, e Abraão estava sentado na porta de sua barraca” 
(Gênesis 18.1, NTLH).

  “Era a hora mais quente do dia”. Que poesia! Que sensibilidade!  É um momento crucial na vida de Abraão. Se o cenário e o momento chamam a atenção, todo o enredo fascina. É um diálogo entre Abrão, três homens e Sara, que entra atrasada na conversa. Era um dia quente e era a hora mais quente do dia. Um momento desconfortável.

 

Abraão oferece um banquete aos homens (vv. 7-8), que ele chama de “um pouco de comida” (v. 4), e em baixo de uma árvore. Era mesmo um dia quente, e uma hora quente. Um dia para não fazer nada. Tanto que Abrão estava “tomando a fresca”. Manhã calorenta, hora de desânimo. Deus chega com uma grande promessa: “No ano que vem eu virei visitá-lo outra vez. E nessa época Sara, sua mulher, terá um filho” (v. 10). O redator da história, que não duvido ser Moisés, deixa claro que a promessa era pra lá de absurda: “Abrão e Sara eram muito velhos, e Sara já havia passado a idade de ter filhos” (v. 11). Carrega nas tintas.

Num dia muito quente, numa hora muito quente, num momento próprio para não fazer nada, Deus faz. Faz promessa. Sara está atrás da cortina, que servia como porta de entrada da tenda. Certa vez preguei um sermão nesta passagem, “Ouvindo atrás da porta”. Falei de Sara. Ela ouviu atrás da porta. Mas também falei de Deus, que respondeu do outro lado da porta.

O texto é, literariamente, muito agradável. Cheio de detalhes curiosos. O relato é minucioso, assim produzido para ter ar de veracidade. Ler o texto até o versículo 18 é se deliciar com o estilo do autor e com os detalhes que ele revela. Há algumas lições aqui, muito ricas, e que nada têm a ver com a mensagem que preguei, baseada neste texto.

A primeira lição é a graça de Deus que ignora barreiras geográficas e atropela o paganismo. Deus vem a Abraão na hora mais desconfortável do dia, hora de cansaço, hora da sesta amapaense, e aceita a hospitalidade de Abraão. Este mora no “bosque sagrado de Manre” (v. 1), terra de pagãos. Deus vem aos seus no meio dos pagãos. Foi a Daniel, a Sadraque, Mesaque e Abdênego. Ele se chega aos seus, no cansaço e no ambiente hostil. Não importa onde estejam, e que horas sejam. Ele chega.

A segunda é a receptividade que devemos ter para com as visitações de Deus. Abraão recebeu com a típica hospitalidade dos orientais do deserto. Deu um banquete e ainda chamou de “pouca comida”. Não se ensoberbeceu. Seu muito era pouco. Tanta gente se envaidece quando Deus a visita! Ou conta vantagens a Deus! Ele oferece muito e diz que é pouco! Há gente que oferece um misto quente e pensa que ofereceu um banquete.

A terceira é a desconfiança. Sara ficou escondida. No Oriente Antigo, mulher não aparecia assim em público. Hoje, a situação seria chauvinista: “Isso é conversa de homem!”. Mas ela não crê na promessa. Abraão nunca diz nada. Ele sempre aceita. Sara desconfia. Este é o problema de quem ouve atrás da porta: nunca pega a conversa por inteiro. Há gente atrás da porta, ouvindo a Palavra de Deus. Pega as coisas pela metade ou não vê, como no caso de Sara, a expressão da fisionomia do mensageiro de Deus. Fica mal informada. Pode até ouvir bem. Mas não com os ouvidos da fé.

A quarta é que Deus não aceita a dúvida. “Por que Sara riu?” (v. 13). Talvez ele diga a muitos de nós: “Por que você não acredita?”. Ele nos vê mesmo quando estamos escondidos atrás da porta. Não aceita que duvidemos, e reafirma sua promessa: “E nessa época Sara terá um filho” (v. 13).  Nossas dúvidas não o desviam de seu propósito. Seu poder é maior que nossa dúvida e sua determinação de agir na história não depende de ninguém. Ele não precisa de nossa aprovação.

A quinta é o medo: “Ao escutar isso, Sara ficou com medo e quis negar” (v. 15). Agora ela viu que não era gente comum que estava com Abraão. É gente que ouviu seu íntimo. A dúvida gera o medo. O medo gera a mentira. Deus não aceita medo nem mentira: “Não é verdade; você riu mesmo” (v. 15). Ele não “deixa barato”. Declara nosso pecado. Principalmente o pecado de não crer e suas conseqüências, como o medo.

Talvez hoje seja um dia muito quente para você. Um momento desconfortável na sua vida. Do ponto de vista espiritual e emocional, talvez o dia lhe seja mais quente que a sensação térmica da minha abandonada, mas amada Macapá, com seus 43 graus. Não fique prostrado! Não se deixe abater! Lembre-se de como começou nossa história. No momento mais quente do dia, na hora de maior desconforto, “ele olhou para cima e viu três homens, de pé na sua frente” (v. 2). Quem sabe o que se passava pela cabeça de Abrão! O tempo passava, ele e a estéril Sara envelheciam, e nada do herdeiro prometido. Na hora do desconforto e do cansaço, Deus chegou.

É a hora mais quente do dia para você? Levante seus olhos! Olhe para cima! Deus está chegando!

Pr Isaltino Gomes

Os 4 maiores silêncios da Bíblia

Amados, segue um esboço de uma mensagem nunca pregada que o ETERNO me concedeu nesta última semana.  Desejo-lhes que seja uma benção para as vossas vidas. 

A) O silêncio da criação – Onde os rabinos perguntam: Que havia antes do ETERNO criar o mundo? Resposta: Silêncio.  Todo silêncio de Deus resultará em algo grande, magnífico, portentoso. 

B) O silêncio inter-testamentário (depois de 400 anos de silêncio, DEUS volta a falar no deserto. YOHANAN, a voz do deserto ecoa em toda Judeia. 

C) O silêncio da cruz: Deus meu, Deus meu, pq me desamparaste? Sim, o desamparo foi o silêncio, pois em seguida, o véu se rasgaria de alto a baixo

D) O silêncio do Apocalipse 8 –  Há uma grande expectação, pois o julgamento virá e não tardará. 
att, Pr Marcelo Oliveira 

 

 

Nem Monge nem Executivo!

É moda entre os evangélicos citar monges como modelo de espiritualidade. Apesar de permanecerem idólatras, são mostrados como exemplos para nós. Por exemplo, Philip Yancey, que exibe grande ressentimento contra tradicionais, é mestre em exaltar monges. Nesta esteira veio o livro O monge e o executivo, de James Hunter, tido como uma “bíblia” de liderança.

 

Quando vi o livro de Paul Freston, Nem monge nem executivo, gostei e adquiri. Pelo título e por Freston, que combina espiritualidade e brilho intelectual. Li de uma assentada. É um livro de meditações nos evangelhos. Analisando personagens que se relacionaram com Jesus, começando por Maria, Freston mostra como suas vidas foram radicalmente modificadas. Ao invés de olhar para homens como modelos de espiritualidade, ele acena com o modelo de vida de Jesus. Não trata de liderança, mas como Jesus é um modelo de espiritualidade invertida, uma espiritualidade serviçal. Freston não combate o livro de Hunter. Nem eu. Li O monge e o executivo, aprendi com ele, e vejo valor nele. Mas Jesus é realmente fantástico. Um homem absolutamente despreocupado consigo mesmo, sem qualquer desejo de dominar. Na realidade, um antilíder, pois sua preocupação maior era de ser servo.

 

Jesus é o maior líder, o maior vulto da história. Escolheu doze homens sem relevância social, numa região atrasada, subdesenvolvida, e trabalhou com eles por curtos três anos. Foi traído por um deles e abandonado pelos demais. Foi morto com requintes de crueldade, sob intensa zombaria. Não deixou uma linha escrita. Mas mais livros se escreveram sobre ele que sobre qualquer outro personagem. Mais músicas se compuseram sobre ele que sobre qualquer tema. Sua maior viagem não ultrapassou 300 km. Mas marcou o mundo. Fundou um movimento que chamou de “minha igreja”, e que tem atravessado os milênios, duramente perseguida. Até mesmo por gente que diz segui-lo. Há gente na igreja que serve ao inimigo: odeia-a. Muitas vezes seus seguidores o desonraram e fizeram coisas erradas em seu nome. E ele continua como o maior homem que já existiu.

 

Ninguém recuperou mais vidas que ele. Ninguém reconstruiu mais lares que ele. Ninguém encheu os homens de esperança e vigor para uma vida correta mais que ele. Gosto de Beethoven, mas não morreria por ele. Gosto de Machado de Assis, mas não sofreria por ele. Não apenas eu como milhões de pessoas morreriam por Jesus, vendo isto como privilégio.

 

Jesus é o modelo. Um líder que não aprendeu com monges. Era menos executivo e mais office boy: sua preocupação era fazer a vontade do Pai. Nunca usou as pessoas como trampolim para seu ego, mas deu a vida por elas. Ninguém chega aos seus pés.

Sim, nem monge nem executivo. Jesus.

Pr Isaltino Gomes

O SALMO MAIS TRISTE DA BÍBLIA

Hemã, filho de Joel, foi um dos músicos do templo durante o reinado de Davi (1 Cr 6.33; 2 Cr 35.15) e é o candidato mais provável à autoria deste salmo. A segunda opção é Hemã, filho de Maol, um dos sábios durante o reinado de Salomão (1 Rs 4.31). Os termos hebraicos mahalat e leannoth significam “enfermidade” e “para cantar” ou “para humilhar”, respectivamente. É provável que a primeira palavra se refira a uma melodia triste para acompanhar esse cântico melancólico, enquanto a segunda palavra pode identificar o propósito do salmo: nos humilhar diante do Senhor.

 

Este é o último salmo dos “filhos de Corá” e, talvez, o cântico mais lastimoso de todo o livro. No texto hebraico, o salmo termina com a palavra hoshek, “trevas”, e não encerra com um tom de triunfo, como acontece com outros salmos que começam com sofrimento e perplexidade. Este salmo fala de trevas (vv. 1,6,12,18), da vida à beira da morte (vv. 5,10,11), da sensação de estar afogando (vv. 7,16,17), da solidão (vv. 5,8,14,18) e da prisão (v. 8).

 

Hemã era um servo de Deus que experimentava sofrimento intenso, sem compreender o motivo de sua aflição. Ainda assim, perseverou em suas orações a Deus e não abandonou a sua fé.

 

Buscando o ETERNO pela fé (Sl 88.1,2) – A vida de Hemã não havia sido fácil (v. 15), agora, torna-se ainda mais difícil, a ponto de ele sentir que está à beira da morte (vv. 3,10,11). Mas ele não desiste! Continua confiando em Deus, ao qual se dirige como “Senhor”, quatro vezes nesta oração (vv. 1,9,13,14). Iavé é o nome do Senhor que enfatiza sua relação de aliança com seu povo, e Hemã era um filho dessa aliança. Ele também se dirige ao Senhor como “Deus Elohim” – designação que expressa seu poder.

A expressão “Deus da minha salvação” indica que Hemã havia confiado que o Senhor o salvaria, e o fato de orar dessa maneira mostra que sua fé ainda está viva. Em três ocasiões, o texto diz que ele clamou ao Senhor e, para isso, são usadas três palavras diferentes: verso 1 – “um clamor por socorro em meio a grande aflição”; verso 2 – “um grito alto”; verso 13 – “um clamor de angústia”. A oração de Hemã é fervorosa. Ele crê que Deus pode ouvir suas súplicas e fazer maravilhas (vv. 10,12), um Deus que o ama e que é fiel a seu povo (v.11).

 

Dizer ao ETERNO como nos sentimos (vv. 3-9) – Não há lugar para a hipocrisia na oração pessoal. Um dos primeiros passos para o reavivamento é a mais completa transparência ao orar e a determinação de não dizer ao Senhor coisa alguma que não seja verdadeira e sincera. Hemã confessa que sua alma “está farta de males” e que se sente como um “morto-vivo”. Não tem forças e se sente abandonado pelo Senhor.

Hemã, também diz ao Senhor que Ele é responsável pelos males que aflige seu servo! A mão de Deus o colocou na cova (sheol), e a ira de Deus flui sobre ele como as ondas do mar. Ele não tem riquezas, não tem luz, não tem amigos – e sente como se não tivesse Deus! É um prisioneiro sem qualquer esperança de escapar. Como Jó, Hemã deseja saber o motivo desse sofrimento que lhe sobreveio.

 

Defender nossa causa diante do ETERNO (vv. 10-14) – O argumento de Hemã é simplesmente de que sua morte privará Deus da grande oportunidade de demonstrar seu poder e glória. Que serventia Hemã teria para o Senhor no sheol? Os espíritos dos falecidos não se levantam no mundo dos mortos para obedecer às ordens do Senhor (cf. Is 14.9-11), mas Hemã pode servir ao Senhor na terra dos vivos (cf. Sl 30.8-10). Antes de ir ao santuário para auxiliar no culto, Hemã ora pedindo que o Senhor conceda restabelecimento e forças, e, no final de um dia atarefado, volta a orar.

Durante seu ministério diário, ouve a benção sacerdotal: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha  misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26), mas não recebe! Sente-se rejeitado e sabe que o rosto de Deus não está voltado para ele. Ainda assim, ele continua orando!

 

Esperar pela resposta do ETERNO (vv. 15-18) – Não sabemos o que foi essa aflição que lhe sobreveio ainda em sua juventude, mas é triste pensar que sofria todos os dias e o dia todo (vv. 15-17). Nem sequer conseguia se lembrar de uma época em que desfrutasse de boa saúde. Os vagalhões que quase o afogam (v. 7) transformaram-se em ondas abrasadoras de tormento (v. 16).

A escuridão é sua amiga, pois o esconde dos olhos daqueles que observam seus sofrimentos e talvez digam (como fizeram os amigos de Jó): “Deve ter pecado grandemente para que o Senhor o aflija de tal modo!”. Mas ele continua orando e buscando o socorro de Deus!

“Embora ele me mate, ainda assim esperarei nele” (Jó 13.15). “Eu creio que verei a bondade do Senhor na terra dos viventes. Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique o seu coração; espera, pois, pelo Senhor” (Sl 27.13,14). O ETERNO sempre tem a última palavra, e ela não será “trevas”. Quando estamos em trevas, não devemos jamais duvidar daquilo que o Senhor nos ensinou na luz.

Pr Marcello Oliveira

Bibliografia: Kidner, Derek. Salmos 73-150, Introd. e Comentário. Ed. Vida Nova

Agostinho, Santo. Comentário aos Salmos. Ed. Paulus

Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora

 

 

NADEZ EM ALTO ESTILO

Não é nudez. É nadez mesmo. É um conceito da filósofa Gertrude Stein. Ela criou o neologismo referindo-se ao vazio interior das pessoas, que lhes dá uma vida incolor. Elas necessitam de motivações, mas não querem causas que exijam engajamento. Também não querem estudar, e receiam coisas profundas. São superficiais e vegetativas. Alimentam-se do vazio e do nada. Isto é a nadez.

Quer ver exemplos de nadez? Selecionei, em três sites, notícias publicadas no dia 7 de janeiro. FOLHA.COM: (1) Fernanda Paes Leme curtiu o mar neste sábado; (2) DiCaprio apresentou nova namorada à mãe; (3) Marco Rizza se aborrece e levanta dedo para paparazzo. IG: (1) Famosos levam seus bebês ao teatro no Rio; (2) Cláudia Jimenez e Miguel Falabella jantam juntos no Rio de Janeiro; (3) Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert curtem peça. UOL: (1) Paula Abdul termina relacionamento com Braston; (2) Top Ana Beatriz Barros vai à praia com namorado; (3) Filme fez Scarlett Johansson parar de comer carne. Tirando-se DiCaprio, que conheço pelo filme “Titanic”, se trombasse com os demais na rua não saberia quem são. Vez por outra encontro alguns desses famosos em vôos ou aeroportos. São-me tão conhecidos como eu para eles. Um cantor chamou-me de alienado porque eu não sabia quem ele era.

 

São notícias típicas da cultura nadez. Dão às pessoas a sensação de estarem informadas, de estarem por dentro dos bastidores. Sabem coisas. Banais e inúteis, mas sabem. Ajunte-se a isto o prazer que bisbilhotar a vida alheia dá e eis a realização da pessoa da cultura nadez. Ela se sente ocupada e tem uma sensação de cultura. Seu vazio intelectual, emocional e espiritual é preenchido com o nada.

 

Parece-me, sem querer ser maldoso, que estão surgindo uma cultura e uma geração medíocres. Fui pré-adolescente e adolescente nos anos sessentas. Aquela geração foi às ruas protestar. A geração de hoje vai aos shoppings consumir. Aquela queria transformar o mundo. A atual quer o melhor do mundo. O ideal cedeu espaço para o desfrute. Falta de grandeza. Mas meu grande receio é que a nadez esteja migrando para as igrejas. As pessoas querem agito, mas não reflexão. Querem sensações, mas não estudo. Nada de “pesado” deve ser pregado. Sermão expositivo? Nada disso! Que tal algumas historinhas? A mensagem e o culto devem ser  “light”, como as notícias dos sites. O estudo bíblico cede lugar ao “compartilhamento”, um momento em que cada um conta uma história em que, geralmente, é o herói. Fui a uma reunião de estudo bíblico na qual as pessoas estavam sem Bíblia. Disseram-me, candidamente, que seu costume era o de compartilhar sua semana uns com os outros. É uma boa prática, mas não deveria receber o nome de “estudo bíblico”. O livro texto não era a Bíblia, mas as pessoas. Não se estudava a Bíblia. Papeava-se. Em muitos cultos nadez, as pessoas ouvem alguma coisa sobre Deus e cantam alguma coisa sobre ele. Mas nada “denso” (como alguém me  recomendou para pregar), nada comprometedor. Tudo suave. Tudo nadez. Alguns de nossos cânticos são nadez pura. O próprio enfoque da vida cristã não é mais o de ideal, mas o de desfrute: como ser abençoado, como conseguir o melhor na vida material, seguindo alguns bons conselhos espirituais. A vida cristã passou a significar uma vida tranqüila, cheia de coisas, e não o investimento da vida e dos bens no reino, num compromisso com o evangelho e com a igreja de Jesus. Nadez espiritual.

 

Nadez cultural já é lastimável. Mas nadez espiritual é pior. Ilude a pessoa. Leva-a a sentir-se realizada com migalhas que caem da mesa, e não com o pão farto. Leitor, você está na fase da nadez ou do tudez? Não tenho a envergadura de uma Gertrude Stein, mas deixe-me criar um neologismo. O tudez vem do esquecido hino “Tudo, ó Cristo, a ti entrego, tudo, sim, por ti darei”. Tudez dá realização. Nadez é engodo. Opte pelo tudez.

Pr Isaltino Gomes