Category Archives: Exposição Bíblica

O último sábado e o 1º domingo de Lucas

Neste semestre estou a ler a Bíblia, novamente, na Linguagem de Hoje. Nestes dias concluí Lucas. Notei como ele mostra Jesus em conflito com a liderança judaica e com os grandes temas do judaísmo. Ele se atrita com os fariseus e exibe absoluto desinteresse pela guarda do sábado. Mais de uma vez Lucas o mostra transgredindo o sábado, bezerro de ouro do judaísmo e de seitas cristãs.  O templo, o sábado e as festas judaicas não o atraíam.

A última menção de Lucas ao sábado é em 23.56: “E no sábado elas descansaram, conforme a Lei manda”. No versículo seguinte, surge outro dia: “No domingo bem cedo…” (24.1). É quando o mundo vai mudar. Jesus ressuscitou. E segue: “Naquele mesmo dia…” (24.13). E outra aparição dominical de Jesus (“Enquanto estavam contando isso, Jesus apareceu…”- 24.36). O último sábado de Lucas é um dia de tristeza. O domingo é o dia de alegria. Desde então, o domingo é o dia do Senhor, guardado pela igreja. Ela se reunia neste dia para celebrar a ceia (At 20.7) e separava as ofertas (1Co 16.2). “O Didaqué”, obra cristã datada do primeiro século, espécie de catecismo da igreja primitiva, exorta os cristãos a se reunirem no domingo (Didaqué 14.1). Não é verdade que Constantino mudou o dia de culto e forçou as igrejas a aceitá-lo. Tal afirmação é ignorância histórica e má fé. Ao adotar o cristianismo, Constantino oficializou na esfera civil o que os cristãos haviam feito na esfera religiosa. O domingo é marca cristã.

A guarda do domingo não sucedeu por causa de Constantino. Na epístola aos Magnesianos (datada do ano 107), Inácio de Antioquia declarou, em 9.1: “Assim os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor”. Os adventistas fazem grande alarido pelo sábado, devido ao ensino da Sra. White. Segundo um ex-adventista, a assembléia da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Dallas, Texas, EUA (em 1980), declarou-a como “inspirada no mesmo sentido em que o são os profetas da Bíblia” e que, “como mensageira do Senhor, seus escritos são uma continuação e fonte autorizada de verdade…”. Eles seguem sua papisa.

O domingo é o dia do Senhor. Não é dia de churrascos, de idas a pesqueiros, sítios e banhos. É  dia para ser dedicado à adoração comunitária, ao congraçamento com os irmãos. Não é para gastar em deleites, mas para uso na obra de Deus. Voltaire, pensador francês, combatedor do cristianismo, disse: ”Para destruir o cristianismo é preciso destruir primeiramente o domingo”. Algumas seitas combatem o domingo, mas alguns cristãos destroem-no com sua conduta no domingo.

O domingo não é seu, meu irmão. É o dia do Senhor. Use-o para o Senhor. Congregue-se, sirva, regozije-se com os irmãos. Não o profane.

Pr Isaltino Gomes

Como Paulo comprovaria sua cidadania romana?

O tribuno militar em Jerusalém a quem Paulo se apresentou como um judeu de Tarso, ficou surpreso, ao ser informado, mais tarde, que Paulo também era cidadão romano. “Dize-me”, ele perguntou a Paulo: “És tu cidadão romano?” Quando Paulo respondeu: “Sou”, o tribuno continuou: “A mim me custou grande soma de dinheiro este título de cidadão. Pois eu, respondeu Paulo, “o tenho por direito de nascimento” (At 22.27).

Se, porém, um homem apelava aos seus direitos como cidadão- se dissesse ciuis romanus sum (“sou cidadão romano”) ou seu equivalente em grego – como poderia comprovar sua alegação? Na falta de qualquer maneira de verificá-la no ato, deve ter sido tentador por alguém que estava contra a parede declará-lo mesmo que não fosse verdade, na esperança de escapar. Naturalmente era uma ofensa capital afirmar falsamente ser cidadão romano, mas como o oficial perante a qual a afirmação era feita poderia certificar-se se ela era verdadeira ou não?

Um novo cidadão podia ter uma cópia do seu certificado de cidadania, atestado por testemunhas; soldados auxiliares recebiam este documento, quando davam baixa,  e civis podem ter tido algo semelhante. Paulo, no entanto, não era um cidadão recente. Ele podia, mesmo assim, mostrar um díptico, um par de tabletes fechado, que contivesse uma cópia certificada do seu registro de nascimento. Todo filho legítimo de um cidadão romano tinha de ser registrado no prazo de trinta dias depois do nascimento. Se vivesse numa das províncias, seu pai, ou algum agente nomeado oficialmente, fazia uma declaração (professio) perante o governador provincial (praeses prouinciae) no escritório público de registros (tabularium professionum). Nesta sua professio o pai ou o agente declarava que a criança era cidadã romana; a professio  era anotada no registro de declarações (álbum professionum), e o pai ou agente recebia uma cópia, corretamente certificada por testemunhas. Este certificado reproduzia a professio na terceira pessoa, em ordem indireta, e continha as palavras: ciuem romanum esse professus est (“Ele [o pai ou agente] declarou que ela [a criança] é cidadã romana”). Pode ter sido comum que um cidadão romano que estivesse sempre em viagem levasse este certificado consigo. Neste caso, podemos imaginar Paulo apresentando-o, quando tinha de exigir seus direitos de cidadão.

Contudo, será que era possível fazer rapidamente outra cópia, se a original se perdeu? Se Paulo levava a sua consigo, as chances de perdê-la eram consideráveis – por exemplo, na ocasião em que passou uma noite à deriva no mar (2Co 11.25). Por outro lado, pode ter sido mais usual guardar estes certificados nos arquivos da família; na verdade, não temos como saber. Há mais um ponto ainda a considerar – este registro de cidadãos romanos logo depois do nascimento, parece ter sido imposto por leis bastante recentes: a Lex Aelia Sentia de 4 d.C e a Lex Papia Poppaea de 9 d.C.  Se Paulo nasceu um ano ou dois antes da primeira destas leias, teria sido registrado desta maneira? O fato de que estas perguntas feitas, mas não respondidas, mostra quão limitado é nosso conhecimento.

O momento mais importante em que Paulo invocou seus privilégios como cidadão romano aconteceu bem mais tarde, em sua carreira, quando se viu diante do procurador da Judéia para ser julgado e “apelou a César” – isto é, exigiu que seu caso fosse transferido do tribunal provincial para o supremo tribunal em Roma (At 25.10).

 

Marcelo Oliveira

Bibliografia: WIERSBE, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora

BRUCE, F.F. Paulo, o aposto da graça. Shedd Publicações

Como o salmista, poderia se regozijar de esmagar as criancinhas contras as rochas?

O salmo 137 foi composto por um judeu exilado na Babilônia, que havia presenciado a brutalidade dos soldados caldeus, à época da captura de Jerusalém em 587 a.C. Ele contemplou aqueles monstros sem coração arrancar os bebês do colo de suas mães e bater a cabeça deles no muro mais próximo, rindo da perversidade que cometiam e pronunciando as blasfêmias mais grotescas contra o Deus de Israel enquanto praticavam aqueles atos bárbaros, sanguinolentos, de extrema impiedade. O desafio contra a soberania e honra do único e verdadeiro Deus, desafio que atiraram contra o Senhor ao mesmo tempo em que massacravam o povo eleito não poderia ficar sem resposta para sempre.

Sendo o guardião e implantador de sua lei moral, Deus poderia manifestar sua glória apenas trazendo uma vingança terrível sobre aqueles que haviam tratado com tanta crueldade seus cativos incapazes de opor resistência, e cujo Deus havia desprezado.

Portanto, o exilado que compôs esse salmo julgou-se totalmente justificado ao invocar o nome de Deus para que o Senhor infligisse sanções dentro de sua lei, e providenciasse punições apropriadas contra aqueles que perpetrassem tão horrendas atrocidades. Só assim o mundo pagão poderia aprender que existe Deus no céu e requer de todos os homens a obediência aos padrões básicos do que é certo e errado, os quais pesam sobre as consciências.

Precisavam aprender que a violência cometida contra o próximo com toda certeza se voltaria contra eles próprios. A única maneira de o mundo pagão aprender essa lição seria passando pela experiência das conseqüências aterradoras de tripudiar sobre as sanções da humanidade; que se fizesse a eles exatamente o que haviam realizado aos outros.

Chegaria o tempo em que os medos e persas vitoriosos tratariam os bebês babilônicos da mesma forma que os seus soldados fizeram com os recém-nascidos judeus, quando Judá foi levado ao exílio. As criancinhas babilônicas enfrentariam a mesma brutalidade infligida pelos soldados babilônicos aos bebês de outros povos. Só assim eles poderiam convencer-se da soberania e do poder do Deus dos hebreus.

Portanto, o motivo principal desta oração não é o desejo de vingança; antes, é a vontade que o Eterno se manifeste perante o mundo pagão, imerso em zombaria, destronando catastroficamente o poder caldeu que trouxera tão grande dor e aflição desnecessária nos dias da provação de Jerusalém.

Marcelo Oliveira

Fonte: Enciclopédia de Dif. Bíblicas do Dr. Gleason Archer, Ed. Vida.

Dois tipos de discípulos

Respondeu-lhe Felipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco. Ao que lhe disse um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?” – João 6.7-9

Filipe e André são discípulos de Jesus com nomes gregos significativos: “amigo dos cavalos” e “homem”. Um voltado para animais e outro para pessoas. Ambos são mais de bastidores que da linha de frente. São mencionados sempre em papéis secundários, e nunca propriamente de comando.

André é uma figura fantástica. Viveu nos bastidores e à sombra do irmão, Pedro, que ele levou a Jesus. Sempre com uma palavra positiva e colaborando para decisões. No episódio em tela, Jesus levanta a questão: onde arranjar comida para tanta gente? Já decidiu o que fará, mas experimenta os discípulos. Se foi um teste, do ponto de vista de Recursos Humanos, Filipe foi reprovado e André foi aprovado.

Quando Jesus traz o problema a Filipe, este o agrava: sete meses de salário de um trabalhador não bastariam. Filipe dramatiza o problema. André aponta numa direção. Não chega a dar uma resposta, mas devolve o problema para o Senhor, após mostrar alguma coisa. E a pista de André é assumida imediatamente por Jesus, que age a partir de sua sugestão. Se fosse se lastrear na palavra de Filipe, Jesus apenas teria o problema com cores mais vívidas.

Há gente que nunca tem soluções, e sempre aumenta os problemas. Há gente que busca soluções. E há dois aspectos mais que são elucidativos no estilo de André. O primeiro é que a conversa é entre Jesus e Filipe. Mas André se envolve. Aquilo é com ele também. Ele faz parte do grupo. Problema do grupo é problema dele. Quantos se omitem e acham que o problema é dos outros! Sempre têm uma palavra crítica e desalentadora. Não somam. Aumentam a dificuldade. O segundo é que André vira um menino com um lanche. No meio de uma multidão ele viu um menino e seu lanchinho. Vê e valoriza as coisas pequenas. Deus diz para não desprezarmos as coisas pequenas (Zc 4.10). Coisas pequenas se tornam grandiosas nas mãos de Deus. Nem devemos desprezar as pessoas pequenas. Muitos pastores, missionários e obreiros de valor foram chamados por Deus quando eram crianças.

André é discípulo dos bastidores. Mas se envolve. A coisa é com ele, é dele e ele faz parte do todo. Não censura nem se queixa. Apresenta soluções. Vê a obra de Jesus como sendo algo que lhe diz respeito. E valoriza coisas pequenas.

A vida do homem dos bastidores foi fantástica. Missionário, chegou à Cítia, por isso é o padroeiro da Rússia. É o padroeiro da Escócia, porque teria chegado lá com o evangelho. Assim, a Igreja Anglicana comemora seu dia de missões em 30 de novembro, dia de Santo André. Morreu crucificado na Acaia, Grécia, para onde voltou. Sua agonia durou dias e ele foi posto em uma cruz em forma de x, a cruz de Santo André, o que explica o brasão da cidade deste nome no ABC Paulista. Durante a sua agonia, exortava as pessoas que vinham ver o espetáculo de sua morte a entregarem a vida a Jesus. Evangelizou até morrer.

Um homem dos bastidores, atento, dedicado e consagrado. Envolvia-se com a obra de Jesus e mostrou isso servindo até a morte. Filipe não foi um inútil. Deus o usou. Mas André é o tipo de crente que as igrejas necessitam. Há donos demais nas igrejas. E servos de menos. André é servo. Sem holofote, mas homem leal e útil. Imitemos André.

Por que José, o marido de Maria, é filho de Jacó em Mateus 1.16 e de Heli em Lucas 3.23?

Alguns estudiosos tentam resolver esta questão dizendo que Mateus segue a genealogia de José e Lucas a de Maria. Assim, segundo eles, Jacó seria pai de José (cf. Mt 1.16) e Heli, pai de Maria. O problema desse ponto de vista é: Como uma genealogia que começa com José, no caso de Lucas 3.23, de repente se transforma na genealogia de Maria?

A aceitação de uma genealogia mariana para Lucas é bastante questionável. O ponto de vista mariano é, na verdade, uma teoria que remonta a Ânio de Viterbo, um erudito católico romano do século XV. Não se tem registro de uma interpretação mariana da genealogia de Lucas antes dele. A teoria de Viterbo foi aceita por Lutero no século XVI e por muitos protestantes desde então. Contudo, ela não é de modo geral favorecida pela maioria dos eruditos católicos e protestantes da atualidade.

Que dizem os defensores da interpretação mariana? Alguns sustentam que o uso da palavra “pai”, no hebraico e no grego, permite que o termo “pai” seja usado no lugar de “sogro”, apesar de sogro não ser o parentesco verdadeiro e a palavra “pai” nem aparecer em Lucas 3.23. Outros, tentando tirar do texto de Lucas 3.23 um argumento em prol da teoria mariana, argumentam que a expressão “como se cuidava” (ou “como se supunha”, segundo outras versões) faria de toda a genealogia “de José” uma conjectura. Entretanto, o que Lucas diz aqui de José não é em relação à genealogia, mas em relação a Jesus: “Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o seu ministério. Era, como se cuidava, filho de José, filho de Heli” (Lc 3.23). Lucas sabia que José era o verdadeiro pai de Jesus apenas no sentido legal.

Considerando que ambas as genealogias são de José, como resolver a questão dele ser filho de Jacó em Mateus e de Heli em Lucas? Os comentaristas marianos não têm dificuldade em atribuir a genealogia de Mateus 1.1-17 a José. O debate gira em torno da genealogia de Lucas 3.23-38. Por sua vez, aqueles que não aceitam a genealogia mariana para Lucas não negam “a tradição primitiva da origem davídica de Maria” e, sim, a atribuição da genealogia lucana a ela.

Portanto, para a maior parte dos que pensam que ambas as genealogias dão a linhagem de José, Jacó e Heli seriam irmãos, ou seja, quando Heli morreu, Jacó teria tomado sua viúva como esposa. José seria filho de Jacó no sentido literal, e de Heli, no sentido legal. Segundo a lei judaica, o irmão deveria continuar a descendência do irmão morto, casando-se com a viúva deste. Uma outra possibilidade, de acordo com os defensores da genealogia de José em Lucas, é que José tenha sido filho de Jacó por nascimento, mas filho de Heli por adoção, ou vice-versa.

Os defensores da genealogia de José em Lucas podem ter acertado em uma ou outra dessas suposições, porém, no meu modo de ver elas parecem tão artificiais quanto as da genealogia mariana. Por exemplo: se a lei do levirato fosse aplicada no caso de Jacó e Heli serem irmãos, José devia ter recebido o nome do tio morto (cf. Dt 25.5,6). Também não temos nenhum exemplo na Bíblia de um tio sendo chamado de pai.

Permita-me, por gentileza, apresentar mais dois pareceres que, a meu ver, são mais bíblicos em favor da genealogia de José em Lucas. Oprimeiro deles é que Jacó e Heli podem ter sido, um ou outro, é claro, pai, avô, bisavô, ou mesmo um ascendente ainda mais distante de José. Não é errado pensar assim, uma vez que na Bíblia as palavras “pai” e “filho” são usadas em mais de um sentido (Ex.: Gn 32.9; Lc 3.38). Além disso, os estudiosos são unânimes em afirmar que tanto Mateus quanto Lucas trazem lacunas em suas respectivas genealogias. Ambos os autores não têm intenção de apresentar listas absolutamente completas da ascendência de Jesus. Assim, alguns pais são avós ou bisavós e alguns filhos, netos ou bisnetos. Não temos como fugir disso nas genealogias de Mateus e Lucas.[1]

Um outro parecer é que Jacó e Heli podem ser dois nomes distintos para uma mesma pessoa, visto que ambos procedem de Matã (Mt 1.15; Lc 3.24). Essa também não é uma forma absurda de pensar. Temos no Antigo Testamento vários exemplos dessa natureza, principalmente entre os reis de Judá. Na própria genealogia de Jesus, Néri, ao invés de Jeconias, aparece como pai de Salatiel (Mt 1.12; Lc 3.27).

Mateus e Lucas têm propósitos diferentes na genealogia de Jesus e ambos usaram, claramente, fontes distintas. A lista de Lucas tem mais nomes que a de Mateus. Mateus é mais restrito em sua lista indo até Abraão porque tinha em mente os judeus, ao passo que Lucas é mais global indo até Adão porque tinha em mente os gentios. Lucas menciona alguns ascendentes de José que não estão em Mateus, porém, quando lidos de trás para frente vão convergir, assim como em Mateus, na mais importante pessoa da lista – Jesus.

Concluindo: Considerando, pois, que ambas as genealogias são de José, então, ou (1) José era filho de Jacó e de Heli, no sentido de fato para um e de direitopara outro, ou (2) Jacó e Heli eram a mesma pessoa com nomes diferentes.

Rev. Josivaldo Pereira



[1] Mateus ajustou sua lista em três grupos de catorze gerações cada. A lista de Lucas, se interpretada no sentido de que em cada caso “filho” deve significar descendente masculino imediato, seria curta demais para abranger a trajetória de Jesus até Adão.

O sofrimento é uma benção?

Nem todo sofrimento é bênção; nem toda bênção do sofrimento é para todos. De acordo com a Bíblia, “Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Essa verdade pode ser exemplificada através da experiência de três personagens bíblicas.

 1.  O autor do Salmo 119.71

Não se sabe ao certo quem é o autor do Salmo 119. O que sabemos com certeza é que uma das mais belas declarações do Salmo 119 está no verso 71: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos”. Semelhante a este são os versículos 67 e 75 que dizem, respectivamente: “Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra”. “Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste”. Parece que Tiago tinha as palavras do salmista em mente quando disse: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg 1.2,3). O sofrimento sempre tem um fim proveitoso na vida daqueles que amam a Deus.
Spurgeon, comentando o Salmo 119.71, declara: “Infindos benefícios nos têm sobrevindo através de nossas dores e tristezas; e no mais, permanece isto: que assim temos sido instruídos na lei”.[1] E ainda: “Mui pouco se tem a aprender sem aflição. Para sermos bons alunos, temos de ser bons sofredores. Como dizem os latinos: Experientia docet – a experiência ensina. Não há estrada régia para se aprenderem estatutos régios; os mandamentos de Deus são melhor lidos por olhos úmidos de lágrimas”.[2]

2.  Paulo em 2Corintios 12.7

O texto de 2Corintios 12.7 é parte integrante do relato da visão celestial que o apóstolo Paulo teve nos versos de 1 a 4. Então, ele prossegue: “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte”. Note que a bênção do sofrimento de Paulo consistia no fato dele não pecar. O espinho na carne de Paulo foi para que ele não se vangloriasse com a grandeza das revelações.
Existem várias teorias a respeito da natureza do ”espinho na carne” de Paulo. Nenhuma delas é conclusiva.[3] A única certeza é que o espinho na carne de Paulo era algo que o incomodava terrivelmente, a ponto do apóstolo pedir três vezes ao Senhor que o afastasse dele. O bálsamo ou antídoto contra o “espinho” estava na maravilhosa graça de Deus que, apesar de não “arrancar” o espinho como Paulo queria, era suficiente para trazer alívio e refrigério ao apóstolo do Senhor.
Assim como Paulo, Deus muitas vezes nos humilhará através do sofrimento para não cometermos o pecado da soberba, ou qualquer outro tipo de pecado que possa nos levar ao prejuízo espiritual.

3.  Jesus segundo Hebreus 5.8,9

Talvez uma das declarações mais intrigantes acerca da pessoa de Cristo seja a de Hebreus 5.8,9: “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”. Como é que Jesus – que não tinha pecado e, portanto, nunca pecou – aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e foi aperfeiçoado?
A passagem bíblica de Hebreus 5.8,9 não quer dizer que Jesus progrediu da desobediência para a obediência, ou da imperfeição para a perfeição. O mesmo escritor diz que ele nunca pecou (Hb 4.15). O significado do texto é que o processo pelo qual Jesus demonstrou obediência cada vez mais profunda, e tendo sido aperfeiçoado, foi o sofrimento. Segundo Kistemaker, “em sua humanidade, Jesus teve de mostrar total obediência; ele teve de tornar-se ‘obediente até a morte – mesmo morte na cruz!’ (Fp 2.8). Como diz uma outra versão: ‘Apesar de ser filho, ele aprendeu a obediência na escola do sofrimento’”.[4] E mais: “No Jardim do Getsêmani e na cruz do Calvário, ele sofreu os testes máximos. Jesus foi aperfeiçoado pelo sofrimento. Sua perfeição ‘tornou-se a fonte de salvação eterna para todo o que obedece a ele’. O autor de Hebreus repete o pensamento que ele expressou em Hebreus 2.10 – Jesus, aperfeiçoado pelo sofrimento, conduz muitos filhos para a glória. A perfeição, portanto, deve ser vista como uma realização da tarefa que Jesus tinha de realizar”.[5]

Rev. Josivaldo Pereira

[1] Charles Haddon Spurgeon, Salmo 119: O Alfabeto de Ouro. São Paulo: Edições Parakletos, 2001, p. 115.
[2] Ibidem.
[3] Consulte Colin Kruse, II Coríntios: Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. São Paulo: Mundo Cristão/Vida Nova, 1994, p. 219.
[4] Simon Kistemaker, Comentário do Novo Testamento: Hebreus. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 200.
[5] Idem, p. 201.

Assista a mensagem: A Igreja de Antioquia – pregada na séde da AD Madureira -RJ

Shalom!

Amados irmãos, assistam esta mensagem e sejam abençoados pela bendita Palavra do Eterno.  Se você for abençoado [a] deixe seus comentários. Terei a honra de recebê-los.

grato, Pr Marcello

Roboão – “Estragando tudo”

INTRODUÇÃO

Roboão significa “libertador do povo”. Não honrou o nome. Foi o desastrado que dividiu Israel em Israel (Norte) e Judá (Sul). O reino unido teve três reis: Saul, Davi e Salomão. Este foi desastrado também, e o reino só não se dividiu com ele por causa de Davi (1Rs 11.9-13). O maior vulto do reinado de Salomão foi seu falecido pai. Salomão herdou os benefícios de Davi. A bomba estourou nas mãos de Roboão, que ajudou com sua insensatez. Um exemplo negativo. Vejamos seus erros para não cometê-los. Ele é o homem que estragou tudo.

 

1. PRIMEIRO ERRO: DESRESPEITAR AS PESSOAS

Roboão não respeitou as pessoas. Viu-as como apêndice de seu projeto de poder. Os líderes do Norte, comandados por Jeroboão, fizeram um pedido: 1Reis 12.3-4. Três dias depois ele respondeu: 1Reis 12.12-24. As pessoas não importavam. Só ele importava. Era da linhagem estabelecida por Deus. Muita gente “vê a obra de Deus”, “o reino”, “a igreja”, e não respeita as pessoas. Pessoas são importantes para Deus. Há quem as use para receber benefício. Lembre de 1Coríntios 10.24.

2. SEGUNDO ERRO: SEGUIR CONSELHOS ERRADOS

Recebeu o conselho dos anciãos: 1Reis 12.6-7. Desprezou. Velho é quadrado, não sabe nada. Cheira a formol. Os jovens “tão com tudo”.   Seguiu o conselho de sua “tribo”, como se diz hoje: 1Reis 12.9-10 e 13-14. A falta de respeito no trato trouxe o endurecimento: vv. 16-17. Assim, o reino unido de Israel foi dividido em dois reinos que se enfraqueceram até a destruição. Cuidado com conselhos errados. Lembre de 1Coríntios 15.33. Não despreze anciãos nem os mais sábios.

3. TERCEIRO ERRO: NÃO COLOCAR DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

O primeiro dever do rei era honrar a Deus. Roboão buscou seu interesse pessoal. É triste dar a Deus outro lugar que não o primeiro. Salomão fez isto, ao se tornar idólatra: 1Rs 11.5-8. Roboão imitou o pai: o poder lhe subiu à cabeça. Viu-se como o homem a ser honrado.  Dar a Deus o segundo lugar é dar-lhe o último. O poder pode trazer auto-suficiência. Há crentes que são fiéis quando pobres. Crescem e tiram Deus do foco. Lembre de Salmo 62.10 e de Provérbios 11.28.

CONCLUSÃO

Com tudo isto, Roboão, o grande desastre político de Israel ainda figura na lista dos ancestrais de Jesus: Mateus 1.7. Teve uma grande glória. A grande esperança nossa é que o propósito de Deus se cumpre apesar de nossas falhas. Ele nos usa mesmo assim. Mas não errar é melhor, ainda. Evitemos os erros de Roboão.

Pr. Isaltino Gomes

Desculpas vazias quanto ao dízimo

O dízimo é o recurso que Deus estabeleceu para o sustento de missionários, obreiros, aquisição de terrenos, compra de literatura, assistência social, bem como toda a manuntenção e extensão da obra de Deus sobre a terra. Se no judaísmo os adoradores traziam 10% de tudo o que recebiam para a manuntenção da Casa de Deus e dos obreiros pobres, bem como para atender às necessidades dos pobres, muito agora, que a Igreja tem o compromisso de fazer discípulos de todas as nações.

Nesta reflexão, veremos algumas desculpas vazias quanto ao dízimo:

 

1) A primeira desculpa é a justificativa teológica – O dízimo é da lei. Sim, o dízimo é da lei, é antes da lei e também depois da lei. Ele existiu no sacerdócio de Melquisedeque, no sacerdócio levítico e no sacerdócio de Cristo. A graça vai sempre além da lei (Mt 23.23). Se a lei nos isenta do dízimo, então também nos isentará da justiça, da misericórdia e da fé, pois estas também são da lei. Ainda que o dízimo fosse uma prática exclusiva da lei, mesmo assim, deveríamos observá-lo, pois também o decálogo é da lei e nem por isso sentimo-nos desobrigados de obedecê-lo.

2) A segunda desculpa é a justificativa financeira – O que eu ganho não sobra. Dízimo não é sobra, é primícia. Deus não é Des de sobra, de resto. A sobra nós damos para os animais domésticos. A ordem de Deus é: “Honra ao Senhor com as primícias da tua renda” (Pv 3.9). Os homens fiéis sempre separaram o melhor para Deus, ou seja as primícias (Ex 23.19; 1Cr 29.16; Ne 10.37). Se não formos fiéis, Deus não deixa sobrar. O profeta ageu diz que o infiel recebe salário e o coloca num saco furado, vaza tudo. Hoje os cristãos gastam mais com cosmético do que com o Reino de Deus. Investem mais em coisas supérfluas do que com a salvação dos perdidos. Gastamos mais com aquilo que perece do que com a evangelização do mundo.

3) A terceira desculpa é a justicativa matemática: “Eu não entrego o dízimo, porque tem crente dizimista pobre”.  Não basta apenas ser dizimista, é preciso ter motivação correta. É um ledo engano pensar que as bençãos de Deus limitam-se apenas às coisas materiais. As pessoas mais ricas e mais felizes do mundo foram aquelas que abriram mão do que não podiam reter, para ganhar o que não podiam perder. Dízimo não é barganha nem negócio com Deus. Precisamos servir a Deus por quem Ele É e não pelo que vamos receber em troca. Se o seu coração está no dinheiro, você ainda precisa ser convertido. Jesus disse que a vida de um homem não consiste nas riquezas que ele possui. Nada trouxemos para este mundo, nada levaremos dele. O máximo que o dinheiro pode oferecer ao homem é um rico enterro. Riqueza sem salvação é a mais consumada miséria.

4)  A quarta desculpa é a justificativa sentimental: “Eu não sinto que devo entregar o dízimo”.  Pagar o dízimo não é questão de sentimento, mas de obediência. O cristão vive pela fé e fé na Palavra. Não posso chegar diante diante do gerente e dizer que não sinto vontade de pagar a dívida no banco.  Não posso encher o meu carrinho de compra no supermercado e depois dizer para o caixa: “eu não sinto vontade de pagar essa dívida”. Apropriar-se do dízimo é desonestidade, é roubo, é subtrair o que não nos pertence.

5) A quinta desculpa é a justificativa da consciência: “Eu não sou dizimista, mas dou oferta”.  Dízimo é dívida, oferta é presente. Primeiro, você paga a dívida, depois dá o presente. Não posso ser honesto com uma pessoa, se devo a ela dois mil reais, e chego com um presente de seiscentos reais, visando, com isso, liquidar a dívida. Não podemos subornar a Deus. Ele não pode ser comprado nem enganado. Deus requer fidelidade.

 

Nele, Pr Marcelo Oliveira

Bibliografia: Baldwin, Joyce. Ageu, Zacarias e Malaquias. Ed. Vida Nova

Filho, Isaltino Gomes. Malaquias, nosso contemporâneo. Ed. Juerp

Lopes, Hernandes Dias. Malaquias. Ed. Hagnos

Peso da Palavra do Senhor!

Peso da palavra do SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias.(Ml 1.1)

Prezados leitores, porque a Palavra que veio ao profeta Malaquias era um peso?  Apenas neste versículo vemos quatro verdades que merecem ser destacadas: a natureza, a autoridade, o destino e o instrumento da mensagem.

Em primeiro lugar, a natureza da mensagem (1.1). A mensagem de Malaquias é uma sentença, um fardo, um peso. Não é uma mensagem consoladora, mas de profundo confronto e censura. Essa mensagem tinha um triplo peso: era um peso para o profeta, para o povo e para Deus. A palavra hebraica masâ, significa peso. É algo pesado, duro, que o Eterno vai dizer. É um peso como foi para o coração do profeta Jeremias (Jr 4.19), para o coração do povo (que receberia a dura mensagem) e para o coração de Deus (pois os sacerdotes quebraram a aliança).  Não é uma mensagem azeitada, palatável, fácil de ouvir. A profecia se dirigia contra a nação de Israel. A carga que o profeta carregava devia pesar também sobre a consciência das pessoas, até que se preparassem para “aquele dia”.

Nos dias atuais precisamos ouvir a masâ de Deus. A sociedade pós-moderna ama ouvir mensagens de auto-ajuda, que fazem cócegas na vaidade humana. As pessoas querem entretenimento. Vemos muita adesão pouca conversão. Muito ritual pouco pão espiritual. Muito antropocentrismo, pouco teocentrismo. Os púlpitos contemporâneos estão deixando de tratar o pecado e falhando em chamar o povo ao arrependimento. Estes pregam o que funciona e não o que é verdadeiro. Nas palavras de Spurgeon – “os pregadores estão mais interessados em agradar os bodes do que alimentar as ovelhas”.

Em segundo lugar, a autoridade da mensagem (Ml 1.1). A mensagem é uma “sentença pronunciada pelo Senhor”. A mensagem não é criada pelo profeta, mas apenas transmitida por ele. A mensagem vem de Deus, é do céu. O pregador não gera a mensagem. O sermão não é palavra do homem, mas palavra de Deus.

Deus não tem nenhum compromisso com a palavra do pregador, Ele tem compromisso com a Sua Palavra. É a Palavra de Deus que é viva e poderosa. Esta jamais volta vazia.

Em terceiro lugar, o destino da mensagem (Ml 1.1). Malaquias entrega uma sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel. Sendo Israel o povo da aliança, ele a desprezou, insultando, assim, o amor de Deus. Tanto os líderes quanto o povo quebraram a aliança (Ml 2.8,10). Longe de corresponderem ao amor de Deus, desprezaram a Deus, sua Palavra, o culto e as ofertas. Por isso, o juízo começou pela Casa de Deus. Antes de julgar o mundo, Deus julga o Seu povo. Israel alegrava-se quando Deus julgava as nações ao seu redor, mas não aceitava quando Deus trazia julgamento sobre ele.

Quando o povo da aliança desobedece, Deus envia a vara da disciplina. Não temos autoridade para chamar o mundo ao arrependimento antes de acertar a nossa vida com Deus. Se o nosso sal for insipido, seremos pisados pelos homens, nos tornaremos inúteis. Se a Igreja não andar com Deus, será pedra de tropeço em vez de exercer o ministério da reconciliação.

Em quarto lugar, o instrumento da mensagem (Ml 1.1).  Há uma sentença pronunciada pelo Senhorm contra Israel, por intermédio de Malaquias. Deus levanta homens para pregar não o que eles querem pregar, não o que o povo quer ouvir, mas o que Deus ordena. A mensagem de Deus não tem o propósito de agradar os ouvintes, mas de salvá-los; não tem o propósito de entretê-los, mas levá-los à conversão; não tem o propósito de anestesiá-los no pecado, mas livrá-los da ira vindoura.

Prezado leitor, já ouviste a masâ de Deus em sua vida e coração?  Prezados pregadores, temos nós pregado todo o conselho de Deus?  Temos nós falado com integridade a mensagem do evangelho? Servimos a Deus com uma consciência pura?

Somos convidados a ouvir a masâ de Deus, pregar com sinceridade, pois em breve, dar-se-á o arrebatamento e o juízo de Deus começará!

 

Pr. Marcello Oliveira