Category Archives: Estudos Bíblicos

A centralidade da Oração – Ex 30

“Porás o altar defronte do véu que está diante da arca do testemunho, diante do propiciatório que está sobre o tabernáculo, onde me avistarei contigo” (Ex 30.6).
Alguém já disse que um cristão de joelhos enxerga mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. Quando Deus mandou Moisés construir o santuário onde habitaria no meio do seu povo (Ex 25.8), determinou que no lugar santo haveria um altar de incenso, onde o fogo jamais deveria estar apagado. O incenso deveria queimar continuamente. O incenso é símbolo das nossas orações (Ap 5.8; 8.3). O apóstolo Paulo escrevendo à igreja de Tessalônica disse: “Orai sem cessar” (I Ts 5.17). Este texto nos ensina preciosas lições sobre a centralidade da oração na vida da igreja. Vejamos:
1. A centralidade da oração na vida da igreja (Ex 30.6) Perceba que o altar de incenso deveria ficar no centro do lugar santo, defronte do véu onde estava a arca da aliança. A posição geográfica do altar de incenso já definia a centralidade da oração na vida do povo. Devemos aspirar pela presença de Deus, mais do que pelas bênçãos de Deus (Is 26.9). O doador é mais importante que suas dádivas. Deus é mais importante do que aquilo que temos, que seremos, que realizamos. Os apóstolos entenderam que deveriam se consagrar à oração e ao ministério da Palavra (At 6.4).
 
2. A indispensabilidade da oração na vida da igreja (Ex 30.7,8) – O incenso deveria ser queimado pela manhã, à tarde e continuamente perante o Eterno. O fogo do altar não poderia ser apagado. O altar de incenso não poderia cobrir-se de cinzas. De igual forma, não podemos dispensar a oração incessante e diária na vida da igreja. Não teremos vitória sem uma vida disciplinada de oração. Deus sempre olha dos céus buscando alguém que se coloque na brecha em favor do seu povo (Ez 22.30).
3. A pureza da oração na vida da igreja (Ex 30.9) – Deus não se agrada de uma oração com motivações erradas. O texto bíblico diz que o incenso deveria ser puro, santo, e não estranho (Ex 30.9,34). Deus não aceita incenso estranho, orações contaminadas pela vaidade, oriundas de vidas impuras, de corações impenitentes. A oração do perverso é abominação para Deus (Pv 28.9). De nada adiantará multiplicarmos nossas orações se a nossa vida estiver fora da vontade de Deus (Is 1.15). Não adianta honrar a Deus com os nossos lábios se o nosso coração estiver longe de Deus (Mt 15.8).
4. Os componentes da oração da igreja (Ex 30.34,35) O incenso era feito de quatro componentes:
a) Estoraque – era extraído de um arbusto sem incisão, sem corte na árvore. A resina fluía espontaneamente. Nossas orações de igual modo devem ser livres e espontâneas. Devemos ter prazer em estar na presença de Deus (Sl 63.1,8). Chega de orações mecânicas, sem vida, que em vez de nos aproximar de Deus, acaba por nos afastar de sua presença.
b) Onicha extraído de um molusco marinho. Isso nos ensina que a oração deve partir das profundezas da nossa alma. Chega de tanta superficialidade, Deus nos chama a profundidade. (Sl 130).
c) Gálbano – um arbusto do deserto. Suas folhas deviam ser quebradas e moídas para a extração do perfume. Isto nos ensina que nossas orações devem brotar de um coração quebrantado e contrito (Sl 51.17; Is 66.2).
d) Sal – o sal é um símbolo da nossa vida (Mt 5.13), e nossa vida é a parte mais importante da nossa oração. O sal provoca sede, o sal dá sabor, o sal proíbe a decomposição. A presença da igreja na terra deve ser saneadora. As pessoas devem olhar para nós, e sentirem “sede de Deus”. Que o Eterno nos desperte para uma vida mais abundante de oração. Que o incenso de nossas orações suba sempre à presença de Deus como aroma suave e que o fogo jamais apague no altar de nossa vida.
Algumas pérolas sobre a oração:
 
“Deus está no trono, nós estamos a seus pés, e, entre nós e Ele, há apenas a distância de um joelho” Jim Elliot“A oração é um escudo para a alma, um sacrifício a Deus e um açoite para Satanás”
John Bunyan
Nele, que foi nosso maior exemplo de oração,

 

Pr Marcelo

Bibliografia: Miranda, Marcelo. Shemot. Ed. Ensinando de Sião

                              Lopes, Hernandes Dias. Mensagens Selecionadas. Ed Hagnos

Como conhecer um homem de Deus?

O que é um homem de Deus? Como podemos conhecê-lo? Quais são as suas marcas?
Em primeiro lugar, o homem de Deus não é conhecido por realizar milagres extraordinários. Jesus advertiu claramente que muitos naquele dirão: “Senhor, não temos profetizado em teu nome, no teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres”? Então, Jesus dirá: Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade (Mt 7.22,23). O que dizer de João, o Batista que não fez nenhum milagre, mas tudo o que ele disse era verdade (Jo 10.41). Será que tudo que falamos é a verdade?
Em segundo lugar, o homem de Deus não é conhecido pela sua erudição. Muitos pensam que, por terem uma excelente oratória capaz de arrebatar as multidões, faz dele um homem de Deus. Lembre-se que o Anticristo será um orador inigualável.
Em terceiro lugar, o homem de Deus não é conhecido pela sua riqueza, fama e prestígio. Não, não. Paremos com esta falácia! O homem de Deus não é conhecido pelo seu carro importado, por seu anel de ouro, por sua magnífica casa. É tempo de discernimento. Pergunto aos nobres leitores: O que Jesus deixou ao partir deste mundo? O que Paulo deixou quando decapitado por Nero? Deixaram casas, riquezas, bens? Oh não senhores. Pelo contrário morreram pobres! Todavia até hoje falamos em seus nomes. Jesus, o Rei dos Reis, nosso Senhor e Salvador. Paulo nos legou 13 cartas que hoje são lidas, estudadas em todos os cantos do mundo.

O apóstolo Paulo, em sua primeira carta a Timóteo 6.11-16 nos mostra quatro marcas de um homem de Deus. O homem de Deus é conhecido por aquilo de que ele foge, segue, combate e guarda. Vamos dissecar estes quatro verbos.

1) O homem de Deus é conhecido por aquilo de que ele foge (I Tm 6.11)

Paulo diz: “Mas tu, ó homem de Deus, foge dessas coisas….”. De que coisas um homem de Deus deve fugir? Deve fugir da fama, das calúnias, das contendas e brigas que não levam a nada, da aparência do mal, das suspeitas maliciosas e, sobretudo, da ganância, ou seja, do amor ao dinheiro, que é a raiz de todos os males (I Tm 6.3-10). Quantos homens de Deus que profissionalizaram seu ministério? Começaram bem e, infelizmente estão terminado mal. Um homem de Deus não é apegado às coisas materiais. Ele não ama o dinheiro, mas o Senhor. Ele busca uma vida santa e sabe que a piedade, com contentamento, é grande fonte de lucro. Muitos homens e mulheres são escravos de Mamon. Prostram-se diante desse ídolo e naufragam no ministério. Alguém já disse: “Aquele que serve a Deus por dinheiro, servirá ao Diabo por salário melhor”.
2) O homem de Deus é conhecido por aquilo que ele segue (I Tm 6.11)
O apóstolo continua: “…. segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância e a mansidão”. Um homem de Deus foge do pecado e segue a virtude. Sabe qual foi a pressa de José? Não foi ver seus sonhos realizados. Não. Foi fugir da mulher de Potifar! Ele foge da injustiça, mas busca o que é justo mais que o ouro e a prata. Ele foge da vida promíscua e impura e segue a piedade. Seu prazer não está no dinheiro, mas em Deus. Ele foge da incredulidade e segue a fé. Deleita-se na Palavra. Ele foge do estilo de vida inconstante daqueles que correm atrás do vento e segue a constância. Foge do destempero emocional e segue a mansidão.
3) O homem de Deus é conhecido por aquilo que ele combate (I Tm 6.12)

O apóstolo ainda escreve: “combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna”. O que estamos combatendo? Alguns ministros estão se digladiando e tentando derrubar o próximo. Vejam estas reuniões de obreiros. É um querendo “puxar o tapete” do outro. A quem estamos combatendo? Será que nunca lemos, que a nossa guerra não é contra carne e sangue? (Ef 6.12). Por que
tanta disputa por cargos e mais cargos que não levam a nada?
Onde está a urgência da evangelização? Por que não combatemos as mais diversas heresias que percorrem em nossas igrejas?

 
 
O ministério não é uma colônia de férias, é um campo de batalhas. Neste combate não há soldado na reserva. Todos devem combater! Timóteo deveria entender que o ministério cristão é uma luta sem trégua e sem pausa contra o erro e em prol da verdade. Ele deveria, como soldado de Cristo, engajar-se no combate certo, com a motivação certa. Há muitos obreiros que entram na luta errada, com as armas erradas e com a motivação errada. Timóteo não deveria brigar por causa de dinheiro, mas combater em defesa da fé verdadeira. Essa deve ser a nossa luta. O avanço do reino de Deus.

4) O homem de Deus é conhecido por aquilo que ele guarda (I Tm 6.14)

Finalmente, Paulo diz: “sem mácula e irrepreensível, guarda este mandamento até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. Muitos obreiros haviam se desviado no caminho, como Demas. Outros haviam se intoxicado pelo orgulho, como Diótrefes. Outros haviam sido seduzidos pelos falsos mestres. Outros se corromperam com a ganância pelo dinheiro. Todavia, o homem de Deus deve guardar o mandamento, a Palavra de Deus, vivendo de maneira irrepreensível até a volta do Senhor Jesus.
Um homem de Deus não negocia a verdade nem transige com seus absolutos. Um homem de Deus não se rende a tentação do lucro em nome da fé nem abastece seu coração com as ilusões de doutrinas estranhas às Escrituras. Um homem de Deus ama a Palavra, guarda a Palavra, vive a Palavra e prega a Palavra. Que o Deus Eterno levante homens de Deus com essas características; dispostos a fugir do pecado, a seguir a justiça, a combater o bom combate e a guardar a Palavra, vivendo uma vida exemplar e digna de ser imitada. Deus nos conceda essa graça. Amém!

  
Bibliografia: Stott, John. Timóteo. Ed ABU
                   Hendriksen, William. 1 e 2 Timóteo, Tito. Ed. Cultura Cristã

Pr Marcello de Oliveira

O testamento de Paulo – II Tm 4

Este capítulo tem sido chamado o “testamento da vida de Paulo”. Este capítulo contém parte das últimas palavras proferidas ou escritas pelo apóstolo Paulo. Foram escritas a semanas, talvez não mais do que poucos dias antes do seu martírio. De acordo com antiga tradição fidedigna, Paulo foi decapitado na Via Ápia. Por trinta anos ininterruptos trabalhara como apóstolo e evangelista itinerante. Fez, o que ele mesmo escreve aqui: “combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé” (vs 7). Agora, ele aspira por seu prêmio, “a coroa da justiça”, que já estava reservada no céu (vs 8).

Estas palavras constituem um valioso legado de Paulo à igreja. Elas estão impregnadas de uma atmosfera de grande solenidade. É impossível lê-las sem uma profunda emoção.

A primeira parte do capítulo toma a forma de uma comovente incumbência. “Conjuro-te, perante Deus”, assim começa. O verbo “diamartyromai” tem conotações legais e pode significar “testificar sob juramento” numa corte de justiça, ou “adjurar” uma testemunha a assim proceder. A exortação de Paulo é endereçada a seu filho na fé, Timóteo, que era seu representante em Éfeso. Todavia, é aplicada a cada homem chamado a um ministério evangelístico ou pastoral, ou mesmo a todos os cristãos.


A natureza da exortação (vs 2)

“Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”


Deixando o versículo 1, por um momento, e passando ao versículo 2, encontramos a essência dessa exortação em três palavras: “prega a palavra”. Esta palavra foi proferida por alguém. Mas é a palavra, a palavra de Deus, que Deus mesmo proferiu.

Paulo não precisava especificar melhor o que ele queria dizer, já que Timóteo saberá de imediato que se trata do corpo de doutrina, que ouvira de Paulo, e que o mesmo Paulo lhe comissionou a passar adiante a outros. É idêntica ao “depósito” do capítulo 1, e neste quarto capítulo é equivalente à “sã doutrina” (vs 3), à “verdade” (vs 4) e a “fé” (vs 7). São as Escrituras do Velho Testamento, inspiradas por Deus e proveitosas, que Timóteo sabe desde a infância, junto com o ensino do apóstolo, que Timóteo “tem seguido”, “aprendido” e de que tem sido “inteirado” (II Tm 3.10-14).

Não temos nenhuma liberdade para inventar a nossa mensagem, mas somente comunicar “a palavra” proferida por Deus e agora entregue à igreja, em sagrada custódia. Timóteo deve “pregar” esta palavra; ele deve falar o que Deus falou. Sua responsabilidade não é somente ouvir essa palavra, crer nela e obedece-la, nem somente guardá-la de toda falsidade; nem somente sofrer por ela e permanecer nela; mas, sim, pregá-las a outros. Assim ele deve proclamá-la como um arauto em praça pública (kerysso, cf. keryx, “um arauto”).

Agora, Paulo prossegue mostrando quatro sinais que deverão caracterizar a proclamação a ser feita por Timóteo.

a) uma proclamação urgente

O verbo ephistemi, “instar”, significa literalmente ‘assistir’, e assim “estar de prontidão”, “estar disponível”. Dando a seguinte idéia: “nunca perca o teu sentido de urgência”. Toda boa pregação transmite um sentido de urgência e de importância do que está sendo pregado. O arauto cristão sabe que está tratando de assunto de vida ou morte. Como poderia tratar de tais temas com fria indiferença? Será que estamos divertindo os bodes, ou alimentando as ovelhas, como disse Spurgeon.

Richard Baxter, ilustre pregador disse: “Você não conseguirá quebrantar o coração de ninguém com gracejos, nem contando histórias agradáveis ao ouvido, nem compondo um discurso pomposo. Ninguém abandonará as coisas de que mais gosta, mediante uma solicitação sem profundidade feita por alguém que parece não falar com convicção, ou que pouco se incomode se a sua solicitação é aceita ou não”.

b) uma proclamação contextual

O arauto que anuncia a Palavra deve corrigir, repreender e exortar. Isso sugere que há três diferentes maneiras de anunciar, pois que a Palavra de Deus é “útil” para uma variedade de ministérios, como Paulo já disse (II Tm 3.16). Neste tex
to de II Tm 3.16, Paulo diz que as Escrituras são úteis para o ensino
(aquilo que é certo), para a repreensão (aquilo que é errado), para a correção (como fazer o que é certo) e para a educação na justiça (como permanecer no caminho certo). O pregador deve lembrar-se disso e ser hábil no uso da Palavra. Ele deve usar “argumentos, repreensão e apelo”, o que vem a ser quase uma classificação de três abordagens: a intelectual, a moral e a emocional.

Porque muitas pessoas acham-se atormentadas por dúvidas e precisam ser repreendidas; outras, ainda, são perseguidas pelas dúvidas e precisam ser encorajadas. A Palavra de Deus faz tudo isso e muito mais. É nosso dever aplicá-la contextualmente.


c) uma proclamação paciente

Mesmo devendo instar (esperando obter das pessoas rápidas decisões em resposta à Palavra), devemos ter “toda a longanimidade na espera por essa resposta”. Nunca devemos nos valer do uso de técnicas humanas de pressão ou tentar forçar uma “decisão”. A nossa responsabilidade é ser fiel na pregação da Palavra; os resultados da proclamação são de responsabilidade do Espírito Santo e, quanto a nós, só nos compete esperar pacientemente por sua obra. Portanto, mesmo sendo solene o nosso comissionamento, e urgente a nossa mensagem, não se justifica uma conduta rude ou impaciente.


d) uma proclamação inteligente

Não devemos pregar a palavra, mas também ensiná-la, ou melhor, pregá-la “com toda a doutrina” (keryxon… en pase… didache). O erudito C.H. Dodd tornou clara a distinção entre kerygma e didache, sendo a primeira a proclamação de Cristo aos descrentes, com um apelo ao arrependimento; e a segunda, a instrução ética aos convertidos. A distinção é prática e importante. Todavia, se a nossa proclamação pretende antes de tudo convencer, repreender ou exortar, ela deve ser um ministério de doutrina.

O ministério pastoral cristão é essencialmente um ministério de ensino, e é por isso que se exige dos candidatos uma fé verdadeira e aptidão para o ensino (Tt 1.9; I Tm 3.2). Esta é a instrução de Paulo a Timóteo. Ele deve pregar a Palavra anunciando a mensagem dada por Deus, mas deve fazê-lo com um sentido de urgência, deve aplicá-la ao contexto da situação presente, deve ser paciente em seu modo de ser e inteligente na sua exposição.


Pr Marcello de Oliveira

Bibliografia: Stott, John. II Timóteo. ABU.

Os Aguilhões na Vida de Paulo

A conversão de Saulo na estrada de Damasco é a conversão mais famosa da história da igreja. Nenhum homem exerceu tanta influência no cristianismo, nenhum homem foi tão notório na história da humanidade como Paulo. Após sua experiência marcante na estrada para Damasco, Paulo se tornou o maior evangelista, o maior missionário, o maior teólogo e o maior plantador de igrejas da história do cristianismo.



Lucas, fica tão impressionado com a importância dessa conversão, que a relata três vezes, uma vez, em sua própria narrativa, e duas nos discursos de Paulo (At 9, 22, 26).


Se perguntarmos o que causou a conversão de Saulo, só existe uma resposta possível. O que sobressai na narrativa é a graça soberana de Deus através de Jesus Cristo. Saulo não se “decidiu por Cristo”, como poderíamos dizer. Pelo contrário, ele estava perseguindo a Cristo. É melhor dizer que Cristo se decidiu por ele e interveio em sua vida.

Devemos nos lembrar que Lucas menciona Saulo como um feroz adversário de Cristo e sua igreja. Ele nos conta que, no martírio de Estevão, “as testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo” (At 7.58), depois diz que “Saulo consentia na sua morte” (At 8.1) e que, em seguida, “Saulo assolava a igreja” (At 8.3), procurando cristãos casa por casa, arrastando homens e mulheres para a prisão. No texto de Atos 9.1, Lucas resume a história dizendo que Saulo estava “respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor”.

Quando atentamos para a riqueza e a profundidade das línguas originais ficamos perplexos, pois os termos que Lucas usa para se referir a Saulo antes da sua conversão parecem ser deliberadamente escolhidos para retratá-lo como “um animal selvagem e feroz”. O verbolymainomai”, cuja única ocorrência no N.T se encontra em Atos 8.3, em referência à “destruição” que Saulo causou à igreja, é empregado no Salmo 80.13 [na Septuaginta], em relação a animais selvagens destruindo uma vinha; o seu sentido específico é “destruição de um corpo por um animal selvagem”.

Mais tarde, os cristãos de Damasco o descreveram como aquele que tinha causado um “extermínio em Jerusalém” (At 9.21), onde o verbo empregado é “portheo”, que significa “destruir, assolar, espancar” que também aparece no texto de Gl 1.13. Continuando a mesma imagem, o erudito J.A. Alexander sugere que a menção de Saulo “respirando ameaças e morte” (At 9.1) era uma “alusão ao arfar e ao bufar dos animais selvagens”. Portanto era esse o homem (mais animal selvagem do que ser humano) que em poucos dias seria um cristão convertido e batizado.

No inicio eu disse que a resposta à conversão de Saulo foi a maravilhosa graça de Deus. Paulo sempre mencionou que Deus tomou a iniciativa de salvá-lo conforme sua vontade soberana (Gl 1.15,16). E além disso Paulo ilustrou essa verdade com pelo menos três imagens dramáticas.

Em primeiro lugar, Cristo o conquistou (Fp 3.12), o verbo “katalambano” dando a idéia que Cristo o “capturou” antes que tivesse a oportunidade de capturar algum cristão em Damasco.

Em segundo lugar, ele comparou sua iluminação interior com a ordem criadora “Haja luz” (Gn 1.3) ou “das trevas resplandecerá a luz” (II Co 4.6).

Em terceiro lugar, ele escreveu que a graça de Deus “transbordou” sobre ele, como um rio em época de cheia, inundando seu coração com fé e amor (I Tm 1.14). Assim a graça de Deus o capturou, iluminou seu coração e o inundou como uma enchente.


Agora devemos atentar para um fato importante – a conversão de Saulo não foi de maneira nenhuma uma conversão repentina. A intervenção de Deus foi repentina: “Subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor” (vs. 3). De acordo com a própria narrativa de Paulo, Jesus lhe disse: “Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões” (At 26.14). Jesus comparou Saulo a um touro jovem, forte e obstinado, e a si mesmo [Deus] a um fazendeiro que usa aguilhões para domá-lo. Agora surge a pergunta: “Quais eram esses aguilhões, contra os quais Saulo estava lutando”?

1) Um aguilhão eram as suas dúvidas. Saulo havia sido educado em Jerusalém aos pés de Gamaliel, provavelmente o professor mais celebrado do primeiro século da era cristã. Assim, teologicamente, Saulo tinha um excelente conhecimento do judaísmo e, moralmente, era zeloso da lei de Deus. De sã consciência, ele estava convencido que Jesus de Nazaré, não era o Messias. Para ele, era inconcebível que o Messias judeu pudesse ser rejeitado por seu próprio povo e então morrer, sob a maldição de Deus, uma vez que estava escrito na lei: “ qualquer que for pendurado no madeiro, está debaixo da maldição de Deus”(Dt 21.23). Não, não. Jesus deve ser um impostor.

Desse modo, ele começa a se opor a Jesus de Nazaré e a perseguir os cristãos. Essa era a sua convicção. No entanto, inconscientemente sua mente estava repleta de dúvidas, por causa dos rumores que circulavam acerca de Jesus: a beleza e a autoridade do seu ensino, a humildade e a mansidão de seu caráter, seus feitos poderosos de cura, e em especial, o rumor persistente que sua morte não havia sido o fim, pois algumas pessoas diziam que o haviam visto e tocado, e conversado com Ele após sua ressurreição. A mente de Saulo estava em desordem.

2) Outro aguilhão foi Estevão. Este fato “atormentava” sua mente. Saulo estava presente no julgamento e execução de Estevão. Ele havia visto com seus próprios olhos o rosto resplandecente de Estevão, como o de um anjo (At 6.15), e sua corajosa não-resistência enquanto era apedrejado até a morte (At 7.58-60). Ele havia ouvido, com seus próprios ouvidos, a defesa eloqüente de Estevão diante do Sinédrio, sua oração pedindo perdão aos executores, e sua afirmação extraordinária sobre a visão de Jesus como Filho do homem, em pé à destra de Deus (At 7.56). Portanto, Saulo não podia esquecer o testemunho de Estevão. Havia algo inexplicável naqueles cristãos, algo sobrenatural.


Se a conversão de Paulo não foi repentina, também não foi compulsiva. Cristo falou com ele em vez de esmagá-lo. Cristo o jogou ao chão, mas não violentou sua personalidade. Sua conversão não foi um transe hipnótico. Jesus apelou para sua razão e para o seu entendimento. Pelo contrário, Jesus lhe fez uma pergunta penetrante: “Saulo, Saulo, por que me persegues”? Saulo respondeu: “Quem és tu, Senhor”? Jesus respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Jesus ordenou: “Mas levanta-te” e Paulo prontamente obedeceu. A resposta e a obediência de Saulo foram racionais, conscientes e livres.

Portanto, esta maravilhosa graça não anula a responsabilidade humana. Jesus “picou” a mente e a consciência de Saulo com seus aguilhões. Então se revelou através da luz e da voz, não para esmagá-lo, mas salvá-lo. A graça divina não atropela a personalidade humana. Ela não aprisiona. É o pecado que prende. A graça liberta. Amém!

Pr Marcello de Oliveira

Bibliografia: Stott, John. A mensagem de Atos. ABU.

Semelhanças entre Paulo e Pedro

Introdução

Lucas era um hábil escritor, historiador e pesquisador. Ao lermos o livro de Atos percebemos que ele dá proeminência a Pedro (capítulos 1-12) e a Paulo (capítulos 13-28). Todavia, quando atentamos para os detalhes da Bíblia, e pedimos a iluminação do Espírito, notamos semelhanças notáveis entre os dois apóstolos, como veremos a seguir:
1) Tanto Pedro como Paulo eram cheios do Espírito Santo (At 4.8; 9.17; 13.9)

2) Ambos pregaram a Palavra de Deus com clareza (At 4.13,31; 9.27,29)
3) Ambos testemunharam diante do público judeu acerca da crucificação, como o caminho da salvação (At 2.22; 13.46)

4) Ambos pregaram tanto aos gentios como aos judeus (At 10.34; 13.46)

5) Ambos receberam visões que deram a direção vital para a missão que a igreja estava desenvolvendo (At 10.9; 16.9)

6) Ambos foram presos devido ao seu testemunho de Jesus e, depois, milagrosamente libertos (At 12.7; 16.25)

7) Ambos curaram um paralítico de nascença, Pedro em Jerusalém e Paulo em Listra (At 3.2; 14.8)

8) Ambos curaram outras pessoas doentes (At 9.41; 28.8)

9) Ambos expulsaram espíritos malignos (At 5.16; 16.18)

10) Ambos ressuscitaram mortos: Tabita, em Jope, por Pedro, e Êutico, em Troade, por Paulo (At 9.40; 20.10)

11) Ambos invocaram julgamento de Deus sobre um feiticeiro/falso mestre: Pedro sobre Simão o Mago, em Samaria, e Paulo sobre Elimas, em Pafos (At 8.20; 13.10)

12) Ambos recusaram serem adorados por homens: Pedro recusou o culto de Cornélio e Paulo dos moradores de Listra (At 10.25,26; 14.11).

Lucas certamente os incluiu em sua narrativa para mostrar que Pedro e Paulo eram ambos apóstolos de Cristo, com a mesma comissão, o mesmo evangelho e a mesma autenticidade. Amém!

Pr Marcello de Oliveiraevmarcello.olliver@gmail.com

A excelência do Evangelho de Lucas

Foto ilustrativa do Evangelista Lucas
Introdução

Antes de lermos qualquer livro, é bom sabermos a intenção do autor ao escrevê-lo. Os livros da Bíblia não fogem a essa regra. Por que então, Lucas escreveu?

Na verdade, ele escreveu dois livros. O primeiro foi o seu Evangelho, cuja autoria lhe foi atribuída por tradições antigas e reconhecidas e que, quase com absoluta certeza, é o “primeiro livro” mencionado no início de Atos. Desse modo, Atos foi o seu segundo livro. Os dois formam um par óbvio, ambos são dedicados a Teófilo e escritos no mesmo estilo literário grego.

Além disso, como ressaltou o erudito Henry J. Cadbury, Lucas considerava que Atos “não era apenas um apêndice nem um posfácio”, mas que formava, juntamente com seu evangelho, ‘uma obra única e continua’.

Voltando à questão do motivo pelo qual Lucas escreveu sua obra em dois volumes sobre a origem do cristianismo, podemos sugerir pelo menos uma resposta. Ele escreveu como um historiador cristão, que pesquisou e investigou tudo o que havia acontecido.


1. Lucas, o historiador

Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares, e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído”. (Lc 1.1-4)

Nessa importante declaração, Lucas esboça cinco estágios sucessivos:

Primeiro vêm os eventos históricos. Lucas os chama de certosfatos que entre nós se cumpriram” (vs. 1). E se a tradução for correta, isso parece indicar que esses eventos não ocorreram por acaso nem de forma inesperada, mas se realizaram para cumprir a profecia do Antigo Testamento.

Depois, Lucas menciona as testemunhas oculares contemporâneas, pois os fatos “que desde o principio foram deles testemunhas oculares, e ministros da palavra” (vs. 2). Aqui, Lucas exclui sua própria pessoa, pois, apesar de ter sido uma testemunha ocular de grande parte daquilo que relatará na segunda parte de Atos, ele não pertencia ao grupo de pessoas que eram testemunhas oculares “desde o princípio”. Eles eram os apóstolos, testemunhas oculares do Jesus histórico que transmitiram (o significado de “tradição”) aos outros o que tinham visto e ouvido.

O terceiro estágio é a investigação pessoal de Lucas. Apesar de pertencer à segunda geração, que recebeu a “tradição” sobre Jesus das testemunhas oculares, os apóstolos, ele não aceitou sem questioná-la. Pelo contrário, fez uma “acurada investigação de tudo desde a origem” (vs 3)


Em quarto lugar, depois dos acontecimentos, da tradição das testemunhas oculares e da investigação, vem a escrita.Muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos” (vs. 1), diz ele, e agora “igualmente a mim me pareceu bem escrever uma exposição em ordem” (vs. 3). Entre os “muitos” autores, sem dúvida alguma, incluía-se Marcos.

Em quinto lugar, o escrito destinava-se a leitores, entre eles, Teófilo, a quem Lucas se dirige: “para que tenhas plena certeza das verdades em que fostes instruído” (vs. 4). Assim, os acontecimentos que haviam se cumprido, tinham sido testemunhados, transmitidos, investigados e escritos,deveriam ser (e ainda são) a base da fé e da certeza cristã.

E mais, Lucas, a pessoa que afirma estar registrando a história, era um homem qualificado para tal tarefa, pois era um médico culto, companheiro de viagem de Paulo, e tinha morado na Palestina durante pelo menos dois anos. Perceba que, algumas vezes, na narração de Atos, Lucas muda da terceira pessoa do plural (“eles”) para a primeira pessoa do plural (“nós”), e que nesses trechos na primeira pessoa, ele inevitavelmente chama atenção para a sua pessoa. Veja Atos 16.10-17; 20.5-15; 21.1-18. Agora você deve estar se perguntando:

“Qual a evidência que Lucas morou na Palestina por aproximadamente 2 anos”? Isso ocorreu da seguinte maneira. Lucas chegou a Jerusalém com Paulo (At 21.17) e o acompanhou em sua viagem a Roma (At 27.1). Entre essas duas ocasi

Cristo é Superior a Moisés – Hebreus 3

O objetivo do escritor de Hebreus é mostrar a superioridade de Cristo por meio de três argumentos: (1) o Construtor é maior do que a casa; (2) o Senhor é maior do que o servo; e (3) a Realização é maior do que o símbolo dela.


1) O primeiro argumento se fundamenta na superioridade do Construtor sobre a casa, sendo assim expresso: Jesus, todavia, tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que estabeleceu (Hb 3.3).

A glória da qual Cristo foi digno é uma referência à Sua filiação, ao passo que a palavra “doxa”, traduzida como glória na primeira parte do versículo, torna-se “timem” na segunda parte, por ser mais aplicável a uma casa. Moisés foi, na verdade, fiel, mas ele era parte da casa, não o fundador dela, daí termos uma significativa mudança de preposições: de em para sobre.

Moisés foi fiel na casa; Cristo foi fiel sobre a casa. As palavras “maior honra do que a casa tem” sãokath hoson”, significam quanto maior. O escritor da epístola aos Hebreus reforça o argumento no versículo seguinte, dizendo: Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus (Hb 3.4). Existe aqui uma profunda visão espiritual do Cristo encarnado como o Logos, ou Verbo eterno, pelo qual todas as coisas foram feitas. Portanto, Cristo, como o Filho divino, não é apenas Soberano, mas o Fundador da casa, logo superior a Moisés, que era parte da dispensação sobre a qual presidia.

2) O segundo argumento, de que o Senhor é maior do que o servo, é extraído do contraste entre Moisés como servo e Cristo como Filho: E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo (Hb 3.5a).


A tarefa de exaltar a Cristo acima de Moisés era delicada, pois este era alvo de “veneração” por parte dos judeus. A vida religiosa de Israel, a Lei com suas várias observÂncias, o conhecimento de Deus e a esperança que os judeus tinham na vida futura estavam todos ligados a Moisés, o servo de Deus. Além disso, o próprio Deus testificara: Moisés, é fiel em toda a minha casa e boca a boca falo com ele (Nm 12.7,8a).

Contudo, a habilidade do escritor de Hebreus, inspirada pelo Espírito Santo, nunca falha. Ele toma as palavras casa, servo e Filho e desenvolve-as de maneira magistral. Moisés é um “therephon”, servo livre, aquele que serve voluntariamente e executa os desejos do seu senhor na administração da casa; não é um “doulos”, escravo sem vontade própria. Moisés, portanto, é caracterizado por toda a dignidade que se ligava ao seu ofício. E ainda, Moisés era um servo fiel em toda a casa de Deus. Os outros servos eram usados em várias partes da casa. Profetas, reis e sacerdotes tratavam de aspectos diferentes e limitados da verdade e da vida; a Moisés, contudo, fora confiado toda a dispensação, o regime e o cuidado de toda a família de Israel.

O alvo do argumento é este: Moisés foi servo em casa de servos, tendo sido ele próprio parte da casa; Cristo, todavia, é Filho sobre uma casa de filhos, sendo Ele mesmo o Autor e Fundador da dispensação sobre a qual é Soberano.

3) O terceiro argumento, de que a Realização é maior do que o símbolo dela, baseia-se na seguinte afirmação: o ministério de Moisés foi para testemunho das coisas que haviam de anunciar (Hb 3.5b).

Moisés, portanto, não apenas deu testemunho quanto à verdade contida na Lei, mas prescreveu o culto simbólico em sua própria casa sob um feitio que, testificaria aquele que seria mais plenamente exibido em Cristo. Por isso, nosso Senhor disse: Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim, porque de mim escreveu ele (Jo 5.46); e, em relação aos discípulos no caminho de Emaús, agiu da seguinte forma: E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras (Lc 24.27).


A dispensação mosaica, portanto, era simbólica e dava testemunho tanto da pessoa como da obra de Jesus Cristo.


Pr Marcello de Oliveira

Bibliografia: Wiley, Orton. A excelência da Nova Aliança. Editora Central Gospel – 2008

A POMBA – YONÁH – Cantares 2.14


Introdução

Denominação comum às aves da ordem dos columbiformes, da família dos columbídeos, abrangendo cerca de 300 espécies, distribuídas por todo o mundo.

O corpo é compacto, pescoço curto,cabeça pequena, bico também pequeno com uma pele grossa e mole na base.

O gênero “columba” deu origem a numerosas variedades domésticas, muitas das quais funcionam como aves decorativas.

A palavra usada no hebraico é ??????Yonáh [ pomba]. Esta palavra ocorre por 6 vezes em Cantares de Salomão.


A Pomba Yonáh

Esta ave bastante comum na Palestina possuía algumas características interessantes que despertou o interesse de Salomão levando-o a proceder a uma pesquisa sobre a mesma.

A pomba descrita aqui é a variedade denominada “pomba-das-rochas” que tinha seu habitat nas terras costeiras, ao longo da “garanta” do Jordão.

Tais aves são notáveis por sua devoção a seus parceiros, e por sua afeição e, no cortejo, unem suas cabeças e a cada vez que cruzam os bicos, expressam algo parecido com um beijo dum casal íntimo.

“Minha pomba” era, assim, uma expressão apropriada de carinho, empregada por Salomão para referir-se a sua noiva.

Sendo ave tímida, que treme quando é assustada (Os. 11.11); a pomba, em seu estado selvagem, amiúde, se aninha nos vales (Ez 7.16); ao passo que a pomba-das-rochas faz seu ninho nas saliências e nas cavidades dos penhascos e das gargantas rochosas (Jr. 48.28)

A pomba possui asas fortes sendo capaz de voar a grandes distâncias [300 km] em busca de alimento, e é bastante rápida para despistar a maioria dos seus inimigos (Sl. 55.6-8).

As pombas são muito confiantes nos humanos e se tornam presas fáceis de serem capturadas. O próprio Jesus faz uma citação a respeito da simplicidade das pombas em Mt 10.16

As Características da Pomba Yonáh

Seguindo a linha de interpretação alegórica, a pomba no livro de Cantares de Salomão, representa a igreja. Veremos algumas analogias no texto de Cantares 2.14, em que a pomba representa a igreja.

1) Devoção ao parceiro A pomba durante a sua vida é fiel a seu parceiro. A igreja de Jesus [a noiva] deve somente amar a Jesus. Jesus como noivo da igreja, não admite em hipótese alguma concorrentes; ou estamos com Ele, ou então não estamos.


2) Afeição recíprocaisto fala da comunhão interna. A igreja de Jesus precisa urgentemente acabar com as disputas internas. São tantas disputas, por cargos, por fama, por títulos, que acabam fragmentando a Igreja e dividindo o Corpo de Cristo. A cada dia surgem novas denominações, e ao perguntarmos a pessoa porque ele [a] saiu, temos a seguinte resposta: Deus me deu uma nova visão. Será mesmo? Que visão é esta? Da divisão? Das disputas? Deus sonda os nossos corações!

3) Gosta de banhar-se Isto nos fala de purificação e santificação. Imagine uma pomba suja, cheia de carrapichos, de corpos estranhos. A igreja de Jesus, deve a cada dia buscar a agradar o Noivo, vivendo uma vida de santificação (Jo 17.17; Hb 12.14; I Jo 1.7).

4) Asas fortes – isto nos fala de alcançar novos patamares, de crescermos na graça e no conhecimento de Cristo (II Pe 3.18). O apóstolo Paulo disse que devemos andar em novidade de vida. Somos transformados de glória em glória. E você leitor [a] está crescendo em sua vida para com Deus. Ou estás estagnado, paralisado? Leia o texto de Habacuque 3.19

5) Rápida – a pomba pode atingir a velocidade de 80 km/h. Isto nos ensina a urgente tarefa da igreja de pregar o Evangelho da graça. Temos rapidez para tantas coisas, mas temos deixado de anunciar este evangelho, que é o poder de Deus. Estamos vivendo os últimos dias da igreja na terra. Com que apresentaremos ao Senhor? Quantas vidas foram alcançadas através do nosso testemunho e pregação?

6) Simples – foi o próprio Jesus que disse isto em Mateus 10.16 – isto nos fala da humildade. Quantas pessoas arrogantes em nossas igrejas! Quanta soberba! A igreja que subirá é a igreja que anda em humildade diante do Senhor Jesus. Será que nunca lemos João 3.27 “[…] não temos nada se Deus não nos conceder”.


A morada da Pomba Yonáh

Diz o texto sagrado em Cantares 2.14 que ela recolhe-se nas fendas da rocha. Agora surge a pergunta: Quem é a rocha? É Jesus, nossa rocha inabalável. Somente em Jesus, a igreja está segura contra as tempestades, os modismos, as heresias (Sl 27.5; 61.2,3).

A Voz da Pomba Yonáh

Ainda no mesmo texto de Cantares 2.14, lemos que sua voz é doce. O sabor doce nos direciona no sentido da palavra pregada pelos servos que atingem os corações e Deus os transforma. Quantos irmãos que não sabem pregar o evangelho! Sã
o pessoas amargas, azedas, que logo vão dizendo aos pecadores que eles vão para o inferno. Prezado leitor [a] o evangelho é reconciliação (II Co 5.18,19). Precisamos falar com amor, com doçura. Lembre-se que o evangelho antes de ser a verdade, ele é gracioso. Muitas pessoas no afã de dizerem a verdade, acabam afastando as pessoas de conhecerem a Cristo! Veja o que diz o texto de João 1.14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de
graça e de verdade [….] unigênito do Pai”. Note que a GRAÇA vem em primeiro lugar!

A Pomba Yonáh é Imaculada

Em Cantares 5.2 temos uma alusão a pureza desta ave. Ali é dito que a pomba não tem mancha alguma. Que coisa magnífica! A igreja recebeu a lavagem do sangue do Cordeiro e agora é purificada. Por seu sacrifício na cruz, hoje não há mais condenação se estivermos em Cristo (Rm 8.1; I Jo 1.7)

Nós como a noiva do Cordeiro, não podemos ficar manchados e contaminados pelo pecado e o sistema mundano. Precisamos a cada dia estar em comunhão com o Noivo, para o grande dia do arrebatamento.

Que seja assim. Amém!

Pr Marcello de Oliveira

As Duas Coisas Imutáveis – Hb 6.18-20

Para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta” – Hb 6.18

As duas coisas imutáveis são a promessa e o juramento. A respeito de Deus, que fez a promessa a Abraão, é dito que é impossível que minta; e a respeito do juramento, Deus jurou por si mesmo e, portanto, interpôs a si e a todas as perfeições da Sua divindade como penhor do cumprimento das promessas.

O juramento aponta para outro que o autor da epístola vai apresentar: o juramento que se ligava à aliança com Cristo, isto é, o de que Ele seria sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4; Hb 5.6)

Um juramento é paralelo ao outro; o que foi feito a Abraão e à sua semente confirmou a promessa da redenção; o que foi feito a Cristo, a Semente de Abraão (Gl 3.18), confirmou a instrumentalidade sacerdotal pela qual as promessas vieram a ser cumpridas. Um juramento se liga à natureza da aliança; o outro, à sua administração. E como duas coisas imutáveis [a promessa e o juramento] estavam ligadas à primeira, assim o autor da epístola vai mostrar que as duas se ligam à segunda, pois o Filho encarnado é, sob o aspecto divino, o Ministro do santuário e, sob o aspecto humano, a Certeza da Aliança.

A promessa, portanto, repousa seguramente na aliança com Cristo, o qual, como nossa Oferta propiciatória, tornou possível a Deus ser justo Juiz e [ao mesmo tempo] o Justificador do que crê em Jesus. Deste modo, Deus concedeu aos herdeiros da promessa a dupla confirmação da validade da aliança e da infalibilidade de Sua administração. E os herdeiros não são meramente os descendentes naturais de Abraão, mas a sua prole espiritual, visto que, em Cristo, Semente de Abraão e Herdeiro de todas as coisas, foram benditas todas as nações da terra.

Na ARV (American Revised Version), alento é traduzido como encorajamento, em vez de consolação. Isto parece estar mais de acordo com o pensamento do autor da Epístola, cujo propósito é encorajar os seus leitores a firmar-se na fé e na esperança da promessa feita com juramento de Deus até que recebam o que lhes foi prometido.

Para reforçar a nossa convicção, são apresentadas duas ilustrações:

1) O Refúgio da esperança – 2) A Âncora da Alma.

1. O Refúgio da esperança – Hb 6.18 a

Esta é uma alusão às cidades de refúgio em Israel, para as quais poderia fugir do vingador de sangue o responsável pela morte de alguém. Chegando à cidade, ele estaria salvo dentro de suas muralhas e, quando da morte do sumo sacerdote, recuperava a liberdade (cf. Nm 35).

Em vez de nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta, na ARV, lemos “nós que fugimos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança colocada diante de nós”. Isto porque o verbokratesai”, no infinitivo, traz a idéia de finalidade, tornando possível traduzir a frase como: “Nós que encontramos refúgio de modo a apegar-nos firmes à esperança oferecida”.

Cristo é o nosso Refúgio, e o uso das palavras “que fugimos” indica a urgência de fugir para Cristo em busca da salvação. É em Cristo que a esperança é colocada diante de nós e da qual devemos “lançar mão”.

A esperança pode ser: ou um objetivo, um alvo colocado diante de nós, ou uma graça interior que anima nossa alma. Em Hebreus 6.18b, é usada em ambos os sentidos: (a) é algo colocado diante de nós, que esperamos; e (b) algo que necessita de uma experiência interior, isto é, fé e paciência. Portanto, a esperança é, ao mesmo tempo, o dom de Deus e a experiência interior do homem.


2. A Âncora da alma – Hb 6.19

Esta é uma referência náutica. A âncora é um símbolo da esperança. A palavra âncora não ocorre no A.T e, no N.T, aparece apenas aqui e na descrição do naufrágio de Paulo na ilha de Malta (At 27.29,40).

Como a âncora pesada de ferro afunda nos grandes mares e fixa-se entre as rochas inabaláveis, mantendo o barco seguro e firme, assim a esperança, a âncora do cristão, é lançada e penetra até o interior do véu. Mas o que está além do véu, dentro do Santo dos Santos do templo terreno, que era apenas um símbolo do celestial? O trono da autoridade e poder, onde Jesus [o nosso Sumo Sacerdote] acha-se assentado à destra do Pai, após ter-se
tornado a nossa Oferta propiciatória, purificando o povo dos pecados com o Seu próprio sangue sacrificial.

O símbolo da âncora é, às vezes, usado em outro sentido. Sabemos que, em muitos dos mares interiores dos tempos antigos, havia grandes rochas no fundo, ao longo da praia, onde as embarcações menores geralmente atracavam. Mas, com freqüência, por causa dos ventos adversos, os barcos maiores não podiam atingir o porto. Era costume, então, abaixar um barquinho e enviar um precursor à praia, com um cabo forte, que ele fixava a uma dessas pedras, conhecidas como anchoria e, bem seguro por aquele cabo, o navio podia ser conduzido salvo à ancoragem.

A peculiaridade da esperança cristã, pois, reside nisto: que ela não encontra ancoragem nas águas rasas deste mundo, mas penetra o véu e, mediante os fortes cordames da graça e da verdade, prende-se à anchoria celestial, o trono eterno de Deus.


Nele, em quem temos a Promessa e o Juramento

Pr Marcello de Oliveira

Bibliografia: Wiley, Orton. A Excelência da Nova Aliança. Editora Central Gospel.

— O ANTICRISTO —

A palavraanticristo” significa um cristo substituto ou um cristo rival. O prefixo grego anti pode significar duas coisas: “contrário a” e “no lugar de”. Assim, o anticristo é ao mesmo tempo um cristo rival e um adversário de Cristo. Satanás não apenas se opõe a Cristo, mas também deseja ser adorado e obedecido no lugar de Cristo. Satanás sempre desejou ser adorado e servido como Deus (Is 14.14; Lc 4.5-8).

No livro de Daniel o anticristo é representado inicialmente não como uma pessoa, mas como quatro reinos (leão, urso, leopardo e outro animal terrível), numa descrição clara dos impérios da Babilônia, Medo-persa, Grego e Romano (Dn 7.1-6,17,18). Outro símbolo do anticristo no livro de Daniel é Antíoco Epifânio, que profanou o templo, quando consagrou ao deus grego Zeus e mais tarde sacrificou porcos em seu altar (Dn 7.21,25)

No ensino de Jesus, o anticristo é visto como o imperador romano Tito, que no ano 70 d.C destruiu a cidade de Jerusalém e o templo (Mt 24.15-20), bem como um personagem escatológico (Mt 24.21,22). A profecia bíblica vai se cumprindo historicamente e avança para a sua consumação final (Mt 24.15-28).

Nas cartas joaninas o termo anticristo é empregado em um sentido impessoal (I Jo 4.2,3). Ele se referiu também ao anticristo de forma pessoal. Mas João vê o anticristo como uma pessoa que já está presente, ou seja, como alguém que representa um grupo de pessoas. Assim, o anticristo é um termo utilizado para descobrir uma quantidade de gente que sustenta uma heresia fatal (I Jo 2.22; II Jo 7). João fala ainda tanto do anticristo que virá quanto do anticristo que já está presente. Assim, João esperava um anticristo que viria no tempo do fim. Para João, o anticristo sempre esteve presente nos seus precursores, mas ele se levantará no tempo do fim como expressão máxima de oposição a Cristo e sua Igreja.

Na teologia paulina, o anticristo é visto como o homem do pecado (II Ts 2.3). Ele surgirá de grande apostasia (II Ts 2.3); será uma pessoa (II Ts 2.3), será objeto de adoração (II Ts 2.4), usará falsos milagres (II Ts 2.9), será totalmente derrotado por Cristo (2.8).


Vejamos agora algumas características do anticristo:

1) Ele é o homem da iniqüidade (II Ts 2.3)Vale ressaltar que o anticristo escatológico não é um sistema nem um grupo, mas um homem. Toda descrição apresentada por Paulo é de caráter pessoal. O homem da iniqüidade “se opõe”, “se exalta”, “se assenta no templo de Deus”, “proclama a si mesmo como Deus”, e será morto.

O anticristo é o homem sem lei que viverá e agirá na absoluta ilegalidade. Ele será um transgressor consumado da lei de Deus e dos homens. A palavra grega anomia, iniqüidade, descreve a condição de quem vive contrário à lei. Ele é a própria personificação da rebelião contra as ordenanças de Deus.

2) Ele é o filho da perdição (II Ts 2.3) – Não apenas seu caráter é sumamente corrompido, mas seu destino é claramente definido. Ele procede do maligno e se destina inexoravelmente à perdição. Ele será lançado no lago de fogo (Ap 19.20; 20.10). A palavra grega apoleia, “perdição”, traz a idéia que o anticristo está destinado a ser destruído.

3) Ele é o iníquo (II Ts 2.8) – A palavra grega anomos, traduzida por iníquo, significa ilegal, iníquo, aquele que vive fora da lei. O anticristo será um homem corrompido em grau superlativo. Ele será inspirado pelo poder de Satanás e terá um caráter tão perverso quanto o daquele que o inspira. Podemos afirmar, que o conceito de Paulo sobre o anticristo procede da profecia de Daniel. Vejamos esta correlação: a) homem da iniqüidade (II Ts 2.3 – Dn 7.25; 8.25); b) o filho da perdição (II Ts 2.3 – Dn 8.26); c) aquele que se opõe (II Ts 2.4 – Dn 7.25); d) que se exalta contra tudo que é chamado Deus ou é adorado ( II Ts 2.4 – Dn 7.8,20,25) e) de modo que se assenta no santuário de Deus, proclamando a si mesmo como Deus ( II Ts 2.4 – Dn 8.9-14).

4) Ele se oporá a Deus abertamente e perseguira implacavelmente a Igreja (II Ts 2.4). O apóstolo Paulo diz que o anticristo “[…] se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus […] ostentando-se como se fosse o próprio Deus”. O homem do pecado é o adversário de Deus, da lei de Deus, e do povo de Deus. O anticristo será uma espécie de encarnação do mal. O anticristo será um opositor consumado de Deus e da igreja (Dn 7.25; 11.36; I Jo 2.22; Ap 13.6). Ele não apenas se oporá, mas também se levantará contra tudo o que é de Deus ou objeto de culto. O profeta Daniel diz que ele “proferirá palavras contra o Altíssimo” (Dn 7.25) e […] contra o Deus dos deuses, falará cousas incríveis (Dn 11.36).

O anticristo não apenas se oporá a Deus, mas também perseguirá implacavelmente a igreja (Dn 7.25; Ap 12.11; 13.7). O profeta Daniel diz: “[…] magoará os santos do Altíssimo” (Dn 7.25) e “[…] fazia guerra aos santos e prevalecia contra eles (Dn 7.21). O apostolo João registra que lhe foi dado também que pelejasse contra os santos e os vencesse (Ap 13.7). O anticristo perseguirá de forma cruel aqueles que se recusarem a adorá-lo (Ap 13.7,15). Esse será um tempo de grande angústia (Jr 30.7; Dn 12.1). Mas os cristãos fiéis vão vencer o diabo e o anticristo, preferindo morrer a apostatar (Ap 12.11).

5) Ele será objeto de adoração em toda a terra (II Ts 2.4) – Ele se assentará no santuário de Deus e vai reivindicar ser adorado como Deus. A adoração ao anticristo é o mesmo que a adoração a Satanás (Ap 13.4). Adoração é um tema central no livro do Apocalipse: a noiva está adorando ao Cordeiro, e a igreja apóstata está adorando o dragão e o anticristo. O grande e último plano do anticristo é levar seus súditos a adorarem a Satanás (Ap 13.3,4). Esse será o período de grande apostasia.

6) A adoração do anticristo será universal (Ap 13.8,16)O apóstolo João diz : “o adorarão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no livro da vida do Cordeiro (Ap 13.8)”. Satanás vai tentar imitar Deus também neste aspecto. Ao saber que Deus têm os seus selados, ele também selará os seus com a marca da besta (Ap 13.8. 16-18).

Que estejamos preparados para o arrebatamento da igreja. Estamos vivendo as últimas horas. Desperta igreja! O Noivo está vindo nos buscar!

Com temor e tremor, Pr Marcello de Oliveira

Bibliografia: Lopes, Hernandes Dias. I e II Tessalonicenses. Ed. Hagnos 2008

Wiersbe, Warren. Comentário Bíblico. Geográfica Editora 2006